sábado, 29 de junho de 2024

A OBRA SOCIAL NA IGREJA


O que é  Igreja?

O termo “igreja”, vem do original grego eklesia, que significa chamados para fora

Amor à misericórdia e atitude devem ser característica da Igreja - Esse tema é importante porque muitos cristãos estão acostumados ao conforto do templo e não se importam com os necessitados de dentro nem de fora dele. No entanto, é necessário que entendamos, conforme vemos em Mc 16.15, que,  nesse versículo, a primeira ordem de Jesus aos seus discípulos foi IDE, isto é, eles deveriam se mover em busca dos que necessitam de Cristo e não ficarem relaxados dentro de quatro paredes. Outra ordem dada ao povo de Deus é que, não apenas seja misericordioso, mas que ame a misericórdia - Mq 6.8. Amar a misericórdia é muito mais que praticar boas ações, é amar o que se faz, é ajudar por prazer, é auxiliar o necessitado com alegria. Como ensina o apóstolo Paulo em Cl 3.232 Co 9.7

Assim como toda lei, o não cumprimento do agir com misericórdia resultará em castigo, pois em Tg 3.13, o apóstolo alerta os cristãos que receberam sua carta de que “o castigo será sem misericórdia para os que não praticam a misericórdia”. Da mesma forma, Jesus afirma que quando ele vier julgar o mundo, os que não socorreram os necessitados sofrerão punição, pois ao não cumprir seu mandamento de amar o próximo como a si mesmo,  ignoraram o próprio Jesus - Mt 5.31-40.

A igreja aprendeu errado sobre evangelizar: O Pr Juan Carlos Ortiz  satiriza a atitude da igreja dizendo que qdo os cristãos cantam o hino: “vem já, vem já, alma cansada vem já”. Eles estão cantando errado, a letra certa seria: Vão já, vão já, ó preguiçosos vão já. Somos nós que temos de ir atrás das almas perdidas e não ficarmos sentados esperando que elas venham ao templo para encontrar Cristo.

Tiago diz -1. 27- que “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”. Veja bem que a palavra visitar pressupõe que precisamos nos mover para fora do templo e de nós mesmos.

A palavra pura, nesse sentido é aquela que é original, a verdadeira. Mas essa visão de Tiago sobre a religião verdadeira não é sob a ótica humana, mas para com Deus, o Pai. Há muitos tipos de religião criada pelos homens: as benevolentes, que dão esmolas e fazem caridade e as espirituais, que se concentram em viver uma vida casta, longe do pecado. Mas, de acordo com Tiago, nem uma nem outra é a original, a que Deus ordenou, pois a verdadeira religião é a soma das outra duas: ser benevolente, amar a misericórdia, mas também ser pura, separar-se da corrupção do mundo.

Uma vez entendido isso, nesse estudo iremos nos ater no primeiro tópico: visitar os órfãos e as viúvas em suas necessidades.

1. A religião verdadeira é a que pratica a obra social

Visitar os órfãos - crianças desamparadas (incapazes de viver só). As crianças não tinham valor naquela sociedade daquela época. Sem os pais, eram praticamente nulos da sociedade. Perceba que adultos levaram as crianças para serem abençoadas por Jesus e os discípulos as repeliram como se fossem meros empecilhos. Jesus sempre teve uma queda pelos infortunados, pelos rejeitados, pelos que viviam à margem da sociedade.

Visitar as viúvas - as mulheres, naquele tempo, eram dependentes da renda do marido, além de precisarem da proteção masculina, do pai, irmão ou marido, pois elas não podiam trabalhar, seus afazeres se resumiam a cuidar da casa e do lar. Se a mulher  não tivesse um homem que a amparasse, ficavam desamparadas e eram mal vistas pela sociedade. Por isso, o desespero maior de Marta e Maria por perderem o irmão Lázaro. Do mesmo modo, as mulheres não podiam falar em público, por isso quando Jesus conversou com a samaritana seus discípulos se admiraram por ele estar conversando com uma mulher. Imagine o sofrimento da viúva de Naim ao perder seu único filho! Jesus, que estava sempre atento às pessoas desafortunadas, não conseguiria ver aquela mãe em lágrimas sem fazer nada. Então, ele ordenou que o rapaz voltasse à vida - Lc 7.11-17.

Nas suas tribulações - não é a situação de órfão ou de viúva que Tiago está destacando, mas dois exemplos de pessoas que, na época, teriam problema de subsistência caso não tivessem amparo. Com certeza, ninguém alcançaria louvores por ajudar essa gente.

Assim, ambos os exemplos diz respeito às pessoas incapazes de se autossustentarem.

A Igreja nasceu para servir - Mt 20. 28 - Nós, cristãos da modernidade, estamos acostumados à igrejas que fazem tudo pensando nos fiéis: nosso conforto, nossos gostos pessoais, nossas exigências, etc.

A mãe só vai ao culto se tiver salinha para os filhos; o jovem só vai para a igreja que tem grupo de louvor; o obreiro só trabalha se for bajulado, e assim por diante.

Evoluímos financeiramente, mas regredimos espiritualmente: Tomás de Aquino, um grande influenciador do pensamento teológico e filosófico na Idade Média. Certa vez o papa lhe mostrou a suntuosa igreja e disse: “Tá vendo Tomás, hoje a igreja não pode mais falar como Pedro e João:  não temos prata nem ouro”.

Tomás olhou todo aquele luxo e depois respondeu: “É verdade, mas também não pode mais dizer: Levante e anda”.

A igreja enriqueceu. Mas se esqueceu dos pobres. Pedro e João não ignoraram o paralítico pedir “dinheiro”, eles apenas disseram a verdade: “Não temos prata nem ouro”.  Porém, não deixaram o homem sem nada, o que  tinham lhe deram: tinham o poder de Deus e usaram para libertar o mendigo de seu estado de miséria. Alguma coisa temos que ter, pois até a igreja da Macedônia que era muito pobre, os crentes fizeram questão de contribuir com alguma coisa para os crentes pobres de Jerusalém - leia 2 Co 8. 1-10.. Com esse mesmo pensamento, Cristo apontou a oferta da viúva como sendo melhor para Deus do que dos fariseus que, tendo muito, eram mesquinhos, e ela, tendo pouco, contribuía com alegria - Lc 12. 41-44.

A obra social começa com a Igreja: A Igreja primitiva também era pobre, todavia compartilham entre si tudo o que possuíam: os mais pobres contavam com a generosidade da igreja, e os mais ricos tinham prazer em ajudar, de modo que naquela igreja não havia  nenhum necessitado - leia At 4. 32-35.

Quando lemos todo o capítulo de Tiago 2, que fala sobre agir e não somente falar, geralmente nos vem à lembrança pessoas moradoras de rua ou  que vivem abaixo da linha da pobreza. Mas Tiago está falando de situações que ocorrem dentro da igreja. o tema de sua advertência é não fazer acepção de pessoas, colocando os ricos em lugares de honra e os pobres no anonimato. Tudo isso, dentro da igreja - leia os versículos 1 e 2, que observarão isso.

Não é o ato de caridade em si que importa, mas a motivação por trás dele: - Em At 5.1-10, O casal Ananias e Safira quiseram “entrar na onda, e fizeram tudo o que os outros faziam. No entanto, a motivação não era autêntica, visto que ofertaram um valor como sendo o montante total da venda de suas propriedades, quando, na verdade, mentiram o valor pelo qual venderam. Pedro repreende-os dizendo que não precisavam mentir, pois a oferta deve ser dada com liberalidade, não por obrigação. A repreensão que receberam não foi porque não deram todo o valor da compra da propriedade, mas porque queriam que os outros pensassem isso. O apóstolo Paulo faz uma séria observação sobre o ato de ofertar à igreja, dizendo que cada deve  contribuir de acordo com o que propôs em seu coração, não com desgosto por estar ofertando, nem por obrigação, mas com alegria - 2 Co 9.7. Se não for assim, melhor é não contribuir, pois Deus rejeita qualquer oferta feita de má vontade - Gn 4.5-8 (versão NTLH).

Em Cl 3. 23,24, o apóstolo aos gentios (Paulo), adverte para que “tudo o que vocês fizerem façam de todo o coração, como para o Senhor...”. Em Rm 14.7, o mesmo apóstolo diz que o  reino de deus é alegria e, em sua primeira carta aos coríntios - 1 Co 16.14 -  Paulo afirma que “todas as vossas coisas sejam feitas com amor”. Logo, ajudar por misericórdia não é suficiente para Deus, porém, como expressa Oséias no texto que lemos acima, o Senhor pede que amemos a misericórdia.

Somos uma geração antropocêntrica: O pr Juan Carlos Ortiz, faz uma crítica às igrejas atuais dizendo que nosso cultos são antropocêntricos (o homem no centro de tudo). Cantamos em pé, depois sentados p, a leitura da bíblia tem que ser rápida, a oração o mais breve possível, tudo cuidadosamente arquitetado para não cansar o povo. Todavia, nos tempo do Antigo Testamento. o povo ficava o dia todo ouvindo a Lei de Deus, homens, mulheres e até crianças - Ne 8. 2,3,8.

A obra social começa na Igreja. Observa o que Timóteo ensinava para a Igreja: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” - 1Tm 5.8

A igreja tem que sair do templo - Em Mt 5.13-16, Jesus diz que a Igreja é o sal da terra e se não salgar não vale para nada. Ouvi em algum podcast na internet alguém repetir a frase “o sal dentro do saleiro não faz diferença nenhuma”, e achei interessante essa colocação, visto que o sal só faz a sua função se misturado ao alimento. Embora ele fique invisível e ninguém o cite na composição dos alimentos, como fazemos com as demais ervas para tempero, sem ele nenhum condimento faria diferença no prato.

Assim deve ser a Igreja, não adianta  ficar pregando com palavras o tempo todo, às vezes é mais eficiente pregar com atitudes. E o trabalho social é um meio eficiente de mostrar na prática o que pregamos nos púlpitos e em nossos centros de evangelização.

Conheci um pastor que dizia que não aceitava fazer nada, a não ser viver para a Igreja. Uma parente dele necessitou de ajuda para realizar a reforma  na  casa dela, que, aliás ficava em cima da igreja cujo salão ela doou para o ministério que o pastor abriu, e o ministro do Evangelho se negou sob a alegação que parou de trabalhar fora para se dedicar somente as coisas de Deus. Na verdade, ele não entendeu nada do Evangelho. Em Gl 6 o apóstolo Paulo procura ensinar os irmãos que devem ajudar uns aos outros (levar as cargas uns dos outros), fazer o bem quando for preciso.

A Igreja tem que pregar a fé, mas demonstrá-las com as obras:

Em algum lugar, no tempo da minha adolescência, li um frase que nunca mais esqueci: “As tuas ações falam tão alto, que não consigo ouvir as tuas palavras”. E é isso o que os não crentes pensam a respeito da Igreja, no entanto, a sua falta de ação é que está fechando o ouvindo do mundo para ouvir o que ela tem a lhes dizer a respeito de Cristo. Mahatma Gandhi, um líder indiano, certa vez disse: “Admiro o Cristo dos cristão,  mas abomino o cristianismo deles”. Em outras palavras, esse grande ativista estava dizendo que as práticas de Jesus, pregada pelos seus discípulos é respeitável, mas os atuais de discípulos de Cristo não aprenderam nada com ele, além de repetir as suas palavras. Isso é vergonhoso para nós, cristãos, visto que essa palavra significa seguidores ou imitadores de Cristo.

A Igreja está confortável no templo e não quer sair dele: Iniciei um projeto em uma igreja, no qual levamos a EBD para a escola pública. Lá éramos vistos pela comunidade e os jovens que frequentavam aquela escola nos finais de semana, se interessavam para saber sobre o que fazíamos ali. Algumas pessoas que foram lá para participar de trabalhos voluntários também prometeram que nos visitaria, e, inclusive, uma das voluntárias trabalhava como supervisora de uma escola em Santo Amaro e nos convidou para levar esse trabalho para lá. Apesar de que Deus estava abençoando grandemente aquela obra, alguns líderes influenciaram os irmãos a ser contra a EBD  fora das quatro paredes do templo, alegando ser aquele espaço um lugar que qualquer pessoa podia frequentar.

Todavia, para um bom evangelista isso seria um prato cheio para cumprirmos a ordem do Mestre: pregar e ensinar os novos discípulos. Mas nem todos tinham essa visão, e a igreja voltou a se reunir com o seu grupo de fiéis, escondidos no templo.  

A Igreja Primitiva, não tinha as oportunidades que temos, então saíam para as ruas, debaixo de grande perseguição, e, ao invés de se esconderem, se expunham para que o mundo visse Cristo através de seus fiéis. Em nosso dias,  temos a bênção da liberdade religiosa e ainda assim, muitos cristãos preferem ser sal no saleiro e luz debaixo da cama.

 Tiago - 2.14-19 - explica às igrejas que de nada adianta palavra bonitas sem atitude. Deus não podia se apresentar ao povo para lhes mostrar o seu amor e interesse por eles, então enviou Jesus em carne. E, como disse Phillipe Yancey, ao tomar a forma humana as pessoas puderam tocar em Deus, cheirá-lo ouvi-lo e vê-lo, como aquelas crianças citadas nos Evangelhos fizeram, porque Cristo se vestiu de humanidade para poder ter contato conosco, criaturas suas. Agora, Jesus voltou para o céu, e essa incumbência foi dada à sua Igreja, ser os braços, as pernas, os olhos e o corpo de Cristo, a fim das pessoas conhecerem Deus por meio do contato com o seu povo.

2. Guardar-se da corrupção do mundo: Na segunda parte do versículo de  1.27, Tiago diz que tão importante quanto realizar a obra social é ser cristão de verdade. Em At 2.42, Lucas observa que, além de todas as boas ações que a Igreja Primitiva praticava, ela “perseverava na doutrina dos apóstolos”.

 A obra social na igreja não deve ser realizada visando só o bem estar das pessoas aqui na Terra, mas precisam observar também o aspecto eterno, pois todos nós compareceremos diante do tribunal de Cristo, conforme afirma 2 Co 5.10,  logo, a vida  não cessa com a morte. A igreja não é uma ONG humanitária, ela é a representante do Reino de Deus.

Em suma, a Igreja não é Igreja sem praticar a caridade, no entanto, antes de sairmos salvando o mundo, precisamos, primeiramente,  aprender a socorrer os irmãos, isto é, os domésticos da fé - leia Gl 6.10.

No amor de Cristo,

Leila Castanha

21/06/2024


 BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada, versão NVI

YANCEY, Philippe. Decepcionado com Deus. São Paulo: Mundo Cristão,

2004

ORTIZ, Juan Carlos. O discípulo. São Paulo: Betânia, 2017

 

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