Hermenêutica é uma palavra grega que significa: “Arte ou técnica de explicar ou interpretar um texto ou um discurso”.
A hermenêutica bíblica traça alguns
princípios e normas para se interpretar a Bíblia, como, por exemplo, a
compreensão de que os textos bíblicos são apresentados em dois sentidos: literal
e figurado. Encontramos também textos com sentido figurativo,
também chamado de sentido típico (que é a relação entre o tipo e o
antítipo).
Tipo e antítipo: uma pessoa, um objeto ou um evento que se refere à pessoa, objetos ou
eventos futuros. O tipo é uma prefigura do que ainda há de vir. O antítipo é a
figura a quem se refere o tipo- o cumprimento.
Exemplos:
1- A serpente de bronze - Nm
21.5-9 é tipo de Cristo (que seria pendurado na
cruz, e todos quantos olhassem para ele seriam salvos). .Cristo, por
sua vez, é o antítipo da serpente (ele é a figura
apontada pelo tipo) – Jo 3.14.
2- Adão é tipo de Cristo:
Ele é o maior representante da humanidade caída, e Cristo é o maior
representante da humanidade redimida – Rm 5.14; 1 Co 15.22.
3- Moisés é tipo de Cristo –
Dt 18.15; At 3.20-22.
Sentido literal: O significado do texto está claro, é explícito. “No princípio criou
Deus o céu e a Terra” – Gn 1.1 (Aqui, céu é céu mesmo, e Terra é literalmente
Terra).
Sentido figurado: O significado está escondido, é implícito. Ele pode estar escondido
nas palavras do próprio texto ou no contexto (Contexto é
tudo o que fala sobre o texto – anterior ou posterior ao texto referido).
Ex. de contexto – Minha filha está 3 horas atrasada para chegar em casa. Então, ao
ver meu desespero meu marido diz: “Calma, você não vê que está chovendo?”.
Observe que, em muitos lugares de
São Paulo, em dias de chuva há alagamentos, enchentes, e isso resulta em
trânsito. Então, ao dizer “Você não vê que está chovendo?” ,esta frase só fará
sentido se eu conhecer tudo o que envolve a cidade de São Paulo em dia de
chuva, ou seja, se eu conhecer o contexto de São Paulo em relação às chuvas
(enchentes e trânsitos, por exemplo).
Outro exemplo: Suponhamos que hoje seja dia 15 e João quer pagar contas. Então a
esposa lhe diz: “Mas João, você não sabe que hoje é dia 15?” Somente quem
conhece o contexto sobre esse dia (que é dia de pagamento de muita gente, e as
filas nos bancos são gigantescas, e que, por esse motivo há muita incidência de
assaltos), é que entenderá esta frase.
Observação 1: Contexto é tudo o que
tem relação com o texto em questão. Na Bíblia, o contexto de um
versículo pode estar num livro, ou num capítulo, ou até mesmo em outro
versículo (anterior ou posterior a ele).
Observação 2: Texto é toda comunicação, oral ou escrita, que tenha sentido. Um
texto pode ser em forma de palavras ou frases. Por exemplo: “Oi!” “Ai!”, “Bom
dia”, “Eu amo você!”, etc. Teve sentido comunicativo é um texto.
A Bíblia é cheia de figuras de
linguagem, dentre as quais, encontramos muito as metáforas. Metáfora é
uma comparação implícita. Ela é subentendida.
Exemplo prático sobre metáfora: José nunca aprende. Ele é um burro. (Na metáfora é como se eu
vestisse o objeto comparado com a imagem ou a figura daquilo na qual eu quero
compará-lo, caracterizando-o). Fui a casa de Maria e bati a cara na
porta. É óbvio que não bateu de verdade! (A metáfora tem o poder
de fazer a comparação parecer mais viva, mostrando a imagem daquilo que se quer
comparar como se fosse real).
É por conta dessa aparência de
literalidade produzida pela metáfora que precisamos identificar se os
versículos que lemos estão expressos no sentido literal (se pode ser entendido
ao pé da letra), ou se está em linguagem figurada - metáforas (Exemplo:"Eu
sou o Pão da vida, quem comer a minha carne nunca terá fome - Jo 6.48, 54. O
contexto mostra que Jesus falava no sentido espiritual - Jo 6.31-35); hipérboles -
exageros, como por exemplo em Lm 3.48: "Rios de lágrimas correm
dos meus olhos..: ") ou os eufemismos - termo ou
expressão mais suaves para substituir outro de conotação rude ou
desagradável (exemplo: Ao invés de o apóstolo Paulo dizer:
"Prefiro morrer e estar com Cristo" ele usou o
eufemismo : "Prefiro partir e estar com Cristo. Partir aqui,
não é viajar, mas morrer. Percebe como temos que ter cuidado para não mudarmos
o sentido real do texto?
Exemplo de metáforas na Bíblia:
a) “Eu sou a
porta” (Jo 10.9). Sabemos que a porta é lugar de acesso, logo, ao dizer “Eu sou
a porta”, Jesus estava indicando-se como o único acesso a Deus. Esta ideia é
confirmada em João 10.9, onde Cristo aponta para si como o Caminho que leva a
Deus, e reafirma coma forma em que usou o verbo “vir”: “Ninguém vem ao
Pai, senão por mim”;
b) “Eu sou o
caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). É claro que ele não falava isso de forma
literal. Caminho também é lugar de acesso, assim, ao usar esta metáfora ele
estava novamente afirmando que só por meio dele o homem pode chegar a Deus. Da
mesma forma, ao afirmar ser a Verdade, ele quer dizer que, sendo portador da
Mensagem de Deus (pois ele veio falar o que Deus ordenou –Jo 5.19, 30; 12.49), e sendo a Palavra de Deus a verdade (Jo 17.17), e ele próprio sendo o verbo (a
Palavra), isto resulta no porquê ele se autodenominou a Verdade: Ele é Deus, vindo da parte de Deus, e em Deus não há mentira - (Jo 1.1-3).
c) “Debaixo da sua
asa estarás seguro” (Sl 91.4) - Será que Deus é um pássaro? Claro que não. Mas,
se interpretarmos a Bíblia de forma literal correremos o risco de criar
heresias (doutrinas que não condizem com a realidade expressa na Bíblia). O
salmista compara, por meio de metáforas, o servo de Deus com uma ave, que assustada ou com medo, pode contar com um abrigo seguro: o crente (como a ave) encontra abrigo em Deus (o nosso refúgio).
d) “Deus é um
fogo consumidor” (Hb 12.29). Para entendermos metáforas como estas, precisamos
recorrer ao contexto. Qual a função do fogo? Nesse caso, o escritor já deu uma
dica de que fala de uma função específica (por exemplo, Deus não é um fogo que
aquece, no contexto desse versículo), ele é um fogo consumidor.
Qual a sensação de alguém ser consumido pelo fogo? Claro que é pavoroso e
dolorido. Observe, então, que a figura do fogo foi utilizada para mostrar o outro lado de Deus: Ele é amor (um lado), mas também tem outro lado (é um fogo consumidor). Assim como pode amar Deus também pode destruir ou punir àquele que não o leva a sério, assim como diz o ditado: "Quem brinca com fogo pode se queimar!". O apóstolo Paulo faz analogia semelhante ao falar sobre a lei da semeadura:
“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer (zombar, tirar o sarro), tudo o que o
homem semear, isto também ceifará”- Gl 6.7.
e) “Vós sois o sal
da Terra” (Mt 5.13). Como em qualquer metáfora, precisamos procurar o contexto
em relação ao texto: Qual era o conhecimento daqueles em relação ao sal? Quais as
características do objeto de comparação? Em que os discípulos de Cristo podem assemelhar-se ao sal?
Etc.
Podemos observar algumas
características do sal que condizem com a situação dos discípulos de Cristo,
inclusive, confirmadas pela própria Bíblia.
1- O sal tem que dar sabor: “Se o sal for insípido, e não tiver
sabor, para nada mais presta” (Mt 5.13). O apóstolo Paulo exorta aos cristãos
dizendo-lhes o seguinte: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com
sal”- Cl 4.6. Daqui já adquirimos o conhecimento de que uma palavra temperada
com sal, isto é, saborosa, tem que ser agradável. Em Ef 4.29 o apóstolo Paulo
adverte aos irmãos que não saia de sua boca nenhuma palavra que não seja para a
edificação. Ser sal da terra é fazer a diferença também no falar.
2- O sal faz efeito, mas desaparece: João Batista, apesar
de ser respeitado por muitos (Mc 11.32), e apesar de sua fama, disse a respeito de Jesus: “Convém que ele cresça e eu diminua” (Jo 3.30). Quando fazemos a obra de Deus com o intuito de nos aparecer não estamos nos portando como sal. O sal deixa o sabor (faz a diferença na culinária), mas ninguém o vê: Ninguém diz: "Que comida deliciosa! Que marca de sal você usou?", mas o normal é as pessoas elogiarem a comida, sem ao menos lembrarem-se que sem o sal ela não ficaria tão saborosa! Assim deve ser o crente: Fazer a obra de Deus e deixar que o nome dEle seja glorificado.
Há muitas outras passagens bíblicas
onde são utilizados textos com sentido figurado, em especial, com metáforas.
Mas, colocarei apenas estes, pois creio ser o suficiente para o leitor
compreender que não podemos levar todos os textos bíblicos ao pé da letra (no
sentido literal), mas algumas passagens devem ser entendidas pelo sentido
implícito, contextualizado, pois, conforme diz o adágio, “Texto fora de
contexto só serve pra pretexto”.
Além da metáfora, ainda há passagens na
Bíblia cujo texto é expresso por meio de outra figura de linguagem: a símile ou
comparação.
Símile ou comparação é a figura de linguagem que consiste na aproximação de dois seres,
em função de semelhança entre eles. É parecido com a metáfora, porém, ele
utiliza os seguintes conectivos: com, como, parece, tal qual, assim,
quanto.
Exemplo de comparação ou símile: José nunca aprende. Ele parece um burro; José é tal qual um burro;
José é como um burro; José empaca tanto quanto um burro, etc.
.
Resumindo: Ao ler a Bíblia devemos ter
em mente que os textos nela contidos podem estar escritos em linguagem literal
ou figurada. Assim, ao observarmos que um determinado texto está expresso em
linguagem figurada devemos buscar pelo significado, que pode estar na própria
palavra ou no contexto.
Bom estudo!
Um abraço,
Em Cristo Jesus,
Leila Castanha