terça-feira, 18 de janeiro de 2022

AVIVAMENTO: COMO ACONTECE

 
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De acordo com J.I.Parcker, um reavivamento anima ou reanima as igrejas cristãs, para que exerçam um impacto espritual e moral sobre as comunidades. Conforme a leitura  de Atos 2.41-47, num reavivamento deve haver:

a) Um impressionante senso da presença de Deus e da verdade do Evangelho.  No dia de Pentecostes, o povo ficou assustado com tamanha operação sem precedente. O carcereiro não queria saber de outra coisa a não ser o que devereria fazer para alcançar o perdão de seus pecados (herdar a vida eterna). Na Igreja Primitiva, a igreja caia na graça do povo devido aos milagres que se faziam em nome de Jesus e muitos se convertiam. Não podemos convencer ninguém falando de coisas que não conhecemos, assim também para pregarmos o Evangelho e vir um avivamento, devemos gozar da presença de Deus e praticar o Evangelho.

John Owen, um puritano, considerado um dos três maiores teólogos reformado de todos os tempos, junto com Calvino e Jonathan Edwards, dizia que só prega bem um sermão para os outros quando também o prega para a sua própria alma. Se a Palavra não exercer poder em nós, nao conseguirá sair de nós com poder.

Os mestres puritanos entendiam a autoridade das Escrituras não apenas como Palavra de Deus, mas também como o poder de Deus, sob a forma de experiência pessoal, as quais eles reconheciam como instrumento de iluminação e  aplicação do Espírito Santo.

b) Um profundo arrependimento com a aceitação de Cristo, de coração (v. 43). O apóstolo Luiz Hermínio, em uma de suas pregações, afirmou uma  grande verdade: "Avivamento não é quando a gente sai da igreja feliz com o pregadodr, mas quando saimos triste conosco mesmo". Ou seja, há avivamento quando há confronto com o pecado e saímos envergonhados com os nossos atos pecaminosos, arrependidos e com o coração contrito.

O famoso sermão de Jonathan Edwards, "pecadores nas  mãos  de  um Deus irado", fez com que as pessoas se segurassem nos bancos com medo de cair no inferno, e nas casas podia-se ouvir o lamento de arrependimento do povo.

c) Testemunhos do  poder e da glória de Cristo, para promover a glória Dele (v.40). o apóstolo Luiz Hermínio relatou que nasceu em lar cristão e se preocupava muito em aumentar sua meta, procurando fazer mais para Deus. Após conhecer a Jesus ele percebeu que seu zelo religioso não tinha qualquer importância e procurou perseguir ao próprio Cristo a fim de encontrá-lo. Avivamento é precedido por humildade. Quando João Batista estava preparando o caminho para Jesus, uma das falas dele foi "convém que  ele cresça e eu diminua".Quando há esse sentimento no povo de Deus, pode ser um prelúdio de um avivamento às portas. O próprio Jesus alegava que o que Ele fazia fazia-o de acordo com o que o Pai lhe enviou a fazer, ou seja, ele obedecia. A Bíblia diz que Jesus despojou-se de si mesmo e rebaixou-se a semelhança de homem (Fp 2. 6-11). O apóstolo Paulo também disse que ele já não vivia, mas era Cristo quem vivia nele (Gl 2.20).

Avivamento só é possível com a nossa "morte", isto é, quando nos despojamos de nós mesmos e deixamos a glória de Deus brilhar em nós.

d) A alegria no Senhor, o amor ao  seu povo e o temor de pecar são evidentes (vv. 43, 44).  O salmo 51.10,11 observamos o desespero do salmista suplicando que Deus não retirasse o seu Espírito Santo de sua vida. Davi dizia (Sl 119.11) que escondeu a palavra de Deus no coração para não pecar contra ele. Em Ap 2. 1-5. Em relação ao amor,  Jesus apontou três coisas na igreja de Éfeso dizendo que Ele conhecia:

A) conheço tuas obras: a igreja não tolerava os homens maus (pessoas más), e nem os que usavam de engano;

B) conheço teu labor (trabalho): a igreja trabalhava arduamente;

C) conheço a  tua perseverança (paciência): a igreja sofreu por amor ao seu nome e não desfaleceu na fé. Não basta sofrer pelo nome de Jesus se no final perdermos o entusiasmo promovido pela fé. (hb 11.1)

No entanto, havia uma coisa na qual foi  reprovada, isto é, faltou o primeiro amor. Não faltou amor, pois de alguma maneira a igreja tinha amor, o que faltou foi o amor que sentiam nos primórdios da fé, o primeiro amor. Aquele que todo novo convertido possui, que nos impele a fazer o que for preciso para aprender de e com Cristo. Aquele amor que pensa nas pessoas sem Jesus padecendo na eternidade.  Sem o primeiro  amor corremos o risco de virarmos crentes programados: fazemos tudo o que tem que fazer porque conhecemos bem a cartilha do B-A-BA bíblico. Ou nos tornamos crentes apáticos, de modo que não nos importamos com nada nem com ninguém: se trabalhamos na obra está bom, se estamos parados melhor ainda; se alguém aceita Cristo nos cultos é ótimo, mas se não há manifestações de almas paciência. Perder o primeiro amor significa que temos que dar uma repaginada em nossa vida cristã para vermos onde ou quando perdemos esse ingrediente indispensável para a Igreja.

Neemias (8.10) anima o povo a se alegrar no Senhor, porque, disse ele: "A alegria do Senhor é a nossa força". No Salmo 100 o salmista dá uma lição de como louvar ao  Senhor, e dentre as demais coisas ele chama a atenção do povo  dizendo-lhes: "louvai ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com cântico". Deus  gosta de servos alegres, porque em sua presença há abundancia de alegria (Sl 16.11)

Agora vamos falar um pouco sobre os puritanos.

Puritanismo: Foi um movimento religioso protestante, que começou na Inglaterra em  linhas mais reformistas, nos séculos 16 e 17. Esse movimento começou no século 14 com o pré-reformador, professor e teólogo John Wicliffe e os seus  seguidores, os lolardos, que exigiam a reforma da Igreja Católica, no século 14. Wicliffe trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o inglês. Hoje, quando se fala em puritano vem a ideia de alguém quadrado, exagerado e extremamente tradicional. No entanto, os puritanos eram teólogos, intelectuais, pastores dos séculos XVI e XVII que davam primazia à Palavra de Deus e à oração, como meio de se obter a santidade. 

De acordo com Richard Baxter, que era um pastor puritano inglês, do século 17, os puritanos eram educadores da mente. O ponto de partida deles era que a mente precisava ser iluminada e instruída, antes que a fé e a obediência sejam possíveis. É dele a  frase "a ignorância é quase todo o erro". Ele visitava a casa de todos os crentes para lhes ensinar as Escrituras, e a igreja que liderava tinha cerca de 800 membros. 

Ronaldo Lidório, autor do livro "Vocacionados", disse em outras palavras essas verdades acima ao afirmar que "o ministério não nos define, o que nos define é a nossa vida em Cristo". Ou seja, serviço e vivência pode não estar em harmonia. Eu posso  ser uma professora de Língua Portuguesa, mas não utilizar as regras gramaticais corretamente no momento da escrita.

Para acontecer um avivamente, não basta conhecermos a Bíblia, mas vivê-la. Ela tem que fazer parte de nós. Devemos viver o Evangelho de  modo que não podemos nos desvencilhar dele em nenhum lugar ou momento. Quanto a isso, o Dr. Stephen Finemore, pastor batista na Inglaterra, em um de seus livros escreveu que devemos nos lembrar que somos igreja, não só aos domingos quando nos reunimos nos cultos, mas na escola, no trabalho, no hospital etc. Ele diz que vocação cristão não é ser pregador, pastor ou teólogo, mas é ser conselheiro, psicólogo, taxista etc.

O Dr. Finemore também chama a atenção para o erro de alguns pentecostais acharem que os dons principais são  os usados dentro da igreja. Em sua visão bíblica, ele defende que os crentes devem ser incentivados a trabalhar fora da igreja. Não como os jovens que ele citou como exemplo, que não aceitaram o trabalho para o qual foram comissionados porque para eles "não era espiritual". 

Os homens da história que foram responsáveis pelos grandes avivamentos, lutaram pelas causas sociais, como John Wesley, Finney, dentre outros. Carey foi um homem que Deus usou poderosamente para ajudar a  Índia, no  entanto, a igreja que ele abriu lá, em sua época não teve tanto sucesso quanto as obras sociais que ele ajudou a implatar. Ao morrer ele foi honrado, e outros missionários conseguiram levar a Palavra de Deus naquelas terras, porque o missionário Carey abriu as portas daquele país com seus trabalhos "seculares".

A Bíblia e exemplos de comissão dada por Deus ao seu povo:

José foi usado por Deus no  Egito para prover provisões em tempos difíceis e salvar o seu povo;

Moisés foi escalado por Deus para libertar o povo hebreu da escravidão;

Elias vivia confrontando os atos maléficos dos reis contra o povo;

Neemias foi separado para levantar os muros de Jerusalém a fim de fortificá-la;

Ester foi a peça-chave para livrar os judeus da extinção;

Davi agiu para livrar seus compatriotas da opressão dos filisteus que os aterrorizavam através de seu campeão Golias; 

A Igreja Primitiva se mobilizou pela causa dos pobre e necessitados da comunidade cristã.


Ficaremos por aqui, mas o meu desejo é que o Espírito Santo nos ilumine a fim de compreendermos que, como disse um determinado escritor, o alvo das missões é trazer as nações a glorificar a Deus. E como faremos isso? Mostrando-lhes que somos gente como eles e nos importando com as suas necessidades (todas elas, não apenas as espirituais), pois somos seres tríplice, possuimos corpo, alma e espírito. Bem explicou Tiago (2. 15-18), que de nada vale dizer "Deus  te abençoe" se não nos deixar ser os instrumentos para Deus abençoar o nosso próximo. Sobre esse assunto a Bíblia é vasta. Leia também Jo 13.34, 35; At 2.41-44; 4.32-37; 6.1-6; 11.27; Hb 10. 32-34; Gl 2.7-10; 1Co 16. 1-3; 2 Co 8.1-6; 9.1,2; 8.13-15, 18-23; Rm 15. 26,27.


Desejo que o Espírito Santo seja fecundo em sua vida.

Leila Castanha

AVIVAMENTO E SEUS ELEMENTOS

 

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O que é avivamento espiritual?

O nome já indica que é um acontecimento voltado ao âmbito espiritual. O avivamento é uma operação sobrenatural do Espírito Santo na Igreja para trazê-la  de volta à verdadeira comunhão com Deus (Is 59.2) - onde não há a presença de Deus há morte espiritual. Um avivamento anima ou reanima as igrejas cristãs, para que exerçam um impacto espiritual e moral sobre as comunidades.

Significado do nome "avivamento": Essa palavra é originada do hebraico e significa "preservar" ou "manter vivo".

Habacuque e seu pedido por avivamento: "Senhor, ouvi falar da tua fama; temo diante de teus atos, Senhor. Realiza de novo, em nossa época, as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo; em tua ira, lembra-te da misericórdia". (Hc 3. 2) - NVI (nova versão internacional). Com base nesse versículo, observamos que "avivamento" é o ato de Deus "realizar de novo, em nossa época, as mesmas obras que fizera antes, e torna-las conhecidas", agora por meio da sua Igreja.

Para ocorrer o avivamento sempre haverá perdas: Ao lermos os capítulos 1 até o 3, percebemos que Deus profetiza castigo para o seu povo, no entanto, Habacuque não pede para  Ele retirar o castigo, mas que transforme essa situação em um avivamento, isto é, em um meio de realizar de novo as operações divinas que aconteciam quando Israel andava em obediência. Para isso, Habacuque sabia que a Lei de Deus deveria ser novamente trazida aos ouvidos e coração do povo, pois ele frisa que Deus é Santo (Hc 2. 20; 3. 3). Sem santidade, isto é, sem a separação das coisas que desonram a Deus, não há avivamento.

Israel perdeu sua liberdade, mas muitas vezes precisamos perder pessoas que não se adequam à santidade: Isso aconteceu quando o povo retornou à Judá, Esdras ensinou a lei de Deus repetidamente para que o Senhor voltasse para o meio do povo e também expulsou todas as mulheres que os israelitas trouxeram do exílio, porque com elas também vinham suas culturas pagãs (Leia Ne 13 e Es 10). No livro "O obreiro aprovado", da autoria de Richard Baxter, o autor conta a história de um pastor que foi a uma reunião e disse que resolveu ensinar a Bíblia a sua igreja, de modo que estava havendo o maior avivamento que ele já presenciou. Perguntaram-lhe quantas almas haviam sido salvas, e ele respondeu que nenhuma, pelo contrário, a igreja havia perdido quinhentas pessoas.

Ou seja, para haver um avivamento, muitas vezes Deus precisará separar o joio do trigo, pois todo avivamento legítimo é pautado na abnegação à Palavra de Deus.

4 principais elementos que não podem faltar para a promoção de um avivamento: oração, fé, Bíblia e  louvor, não necessariamente nessa ordem, pois todos esses requisitos se complementam.

1) oração:Gary Luther Royer, em seu livro "Vale a pena ser pobre", relata que um velho judeu disse essas palavras: "A oração é o momento em que a Terra e o Céu se beijam". Ou seja, não há momento mais íntimo entre o homem e Deus do que na oração. John Pipper fez uma analogia para explicar quanto perdemos por negligenciar a oração, dizendo que em nossos problemas diários agimos como um motorista de ônibus que tenta inultilmente tirar o veículo de um atoleiro, sendo que dentro do ônibus está o Clark Kent (Super homem).

Alguém disse que não podemos fazer nada sem Deus, no entanto, Deus não fará nada sem nós. Para haver um avivamento, precisamos depender de Deus, e a oração é um modo de mostrarmos a nossa depência dele, e quando nos rendemos a  Ele o seu poder opera em nós e através de nós.

Leia esses textos e veja como deve ser nossa oração (Tg 4.1-4; 1 Jo 3. 21-24).  cristão é chamado a viver uma vida de pleno contato com Deus por meio da oração.

Leia sobre a importância de orar: (devemos orar sempre) 1 Ts 5.17; (orar em todas as ocasiões) Ef 6. 18; (interceder pelos não crentes e pelos irmãos de fé) I Tm 2.1,2; Rm 15.30; (ter fé ao orar) Tg 5.  17,18; (Entregar nossas ansiedades a Ele) Fp 4.7; 1 Pe 5.7.


2) : Nada faz sentido se o cristão não tiver fé, isso fica bem claro em Hebreus 11.6: "Ora, sem fé é impossível agradar Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam" (NVI). 

Em Tito (1.1,2) Paulo afirma que escreveu para levar os crentes à e ao conhecimento da verdade. O apóstolo Paulo não estava preocupado com a teoria (conhecimento), mas sua carta foi para promover a fé (crença na teoria). Não pode haver avivamento se não cremos nas verdades da Palavra de Deus. E, se cremos, precisamos viver essas verdades, senão não passam de palavras. Essa fé não é apenas para nós, assim como o avivamento é um acontecimento coletivo. A fé dos homens que levaram o paralítico a Jesus fez com que o doente fosse curado (Mt 9.2).

Em 1 Jo 5. 4, o apóstolo João dá a receita para se vencer o mundo, isto é, por meio da nossa fé. Sem fé, não conseguimos agir. Paulo diz aos irmãos de Tessalônica (1Ts 1.3) que o trabalho que eles haviam realizado era resultado da fé que eles tinham. Não conseguimos praticar aquilo no qual não cremos, por isso o apóstolo aos gentios (Paulo) diz para usarmos o escudo da fé (Ef 6.16). Se cremos de fato em algo, apagamos toda a palavra contrária que vem para nos desanimar, pois a fé nos faz ver o impossível (Mc 9.23). Ao mesmo tempo, o galardão, isto é, a recompensa foi para os que levaram o paralítico, pois puderam ver a glória de Deus através da vida de outra pessoa (Jo 11.40). 

Nossa fé não pode ser baseada na sabedoria humano, isto é, não podemos olhar as coisas espirituais do mesmo modo que olhamos as materiais (1 Co 2.5; Gl 2.20). 


3) Bíblia: Buscar avivamento ou qualquer coisa de âmbito espiritual sem a Palavra de Deus é construir uma casa na areia. Em Mt 15. 28 vemos uma cena impossível acontecer porque os discípulos fizeram a distribuição da comida sob a autoridade da Palavra de  Jesus. O mesmo ocorreu no episódio da pesca maravilhosa, sob a Palavra do Senhor eles lançaram a rede, não obstante a experiência que tinham como pescadores, e o resultado foi maravilhoso (Lc 5.1-8). A mulher que sofria de fluxo de sangue também alcançou a cura pelo poder da palavra de Jesus: "Filha, a tua  fé te salvou; vá em paz e sê curada". Mas uma vez, a fé levou a mulher a agir indo atrás de Jesus, e debaixo da autoridade da palavra dele ela foi curada. 

É a Palavra de Deus que nos limpa (Jo 15. 3). Só alcançaremos o que queremos (no caso, um avivamento) se permanecermos em Jesus e a Sua Palavra permanecer em nós ( Jo 15. 7)


A operação divina às vezes leva tempo

Habacuque queria que o avivamento surgisse ainda em seus dias (seu tempo), mas sabemos que Deus tem os seus propósitos. Muitas vezes Deus age com o povo incrédulo como aquele ditado "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura", isso requer tempo  e paciência. O salmista confessou no Salmo 40 que esperou com paciência no Senhor. Daniel também teve que esperar, pois estava havendo uma batalha espiritual que impedia chegar a resposta a sua oração. Geralmente, o avivamento vem enquanto estamos "arrumando a casa".

Podemos pegar alguns exemplos mais perto do nosso tempo, como é o caso de John Wesley. Esse homem foi um dos maiores avivalista da Grã-Bretanha. Ele precisou lutar por muito tempo em favor das causas sociais enquanto pregava sobre avivamento. Finney pregava sobre a escravidão nos EUA e foi um dos maiores avivalistas em seu país. Uma coisa importante de se saber é que o avivamento traz mudanças não apenas espiritual, mas em todas as esferas sociais. 


4) Louvor: John Pipper afirmou em um dos seus livros que "a adoração é autêntica quando ela tem um fim em si mesma", ou seja, ela não é causada como meio de se chegar a outra coisa. Os sentimentos de adoração a Deus devem surgir pelo que Ele é, e não pelo que podemos alcançar por  meio dele.

John Pipper usa a seguinte analogia para explicar o que é um sentimento autêntico: ele diz que ao deparmo-nos com uma onça não pensamos com que propósito devemos sentir medo, o medo surge e pronto. Assim, disse ele, é a adoração autêntica. Não há um porquê adorarmos a Deus, esse sentimento faz parte de nós, e quando o fazemos ele é espontâneo.

Disse outro autor que, muitas vezes louvamos ao Senhor como um marido que dá um buquê de rosas à esposa, e quando ela agradece ele lhe responde: "Não foi nada. Só fiz a minha obrigação". É claro que todo esforço dele em agradá-la foi perdido.

Outro exemplo que achei interessante, não me recordo do nome onde li ou ouvi, foi o seguinte: o marido chega em casa e pergunta a esposa: "Tenho que te beijar?". Ao que a esposa responde: "Você deveria, mas não é obrigada". Agimos assim ao louvar a Deus, principalmente quando as coisas não vão bem. Fazemos por obrigação ou não fazemos  porque não nos sentimos dispostos. Como será que Deus se sente em relação ao nosso louvor?

Sobre adorar/louvar a Deus, leia esses belíssimos textos bíblicos: Sl 100; Hb 12.28, 29; Jo 1.20; 4. 24; Sl 2.11; 63.3,4; 29.2; Ap 4.11; At 17.24.


Que Deus nos desperte para um avivamento

No amor de Cristo,

Leila Castanha

O AVIVAMENTO E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A IGREJA


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Avivamento vem da palavra avivar, que no hebraico significa “preservar, manter vivo”. A partir desse entendimento, compreendemos que avivamento é o meio pelo qual a Igreja é preservada,  se mantém viva. Mas essa é uma obra sobrenatural, realizada pelo Espírito Santo, e o Espírito Santo aviva a Igreja preservando os seus valores, mantendo vivos os seus princípios, os quais fazem ela ser Igreja, isto é, a diferencia do Mundo.

A necessidade de um avivamento na Igreja se dá quando ela começa a perder a forma de Igreja, ou seja, quando está em risco de pegar a forma (o formato), a aparência do Mundo. E quando isso acontece, a Igreja fica à beira da morte, por isso, avivamento é, também, o ato de manter vivo aquilo que está  ameaçado de morrer.

A Igreja morre quando ela para de agir, quando ela fica inerte em sua missão como Igreja, pois quando o Corpo de Cristo para de funcionar, organismos maléficos se aproveitam para sugar suas energias e matá-la. No entanto, Jesus afirmou que edificaria a sua Igreja e as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. È exatamente por isso que o  Espírito Santo entra em ação quando a Igreja se encontra ameaçada. Em outras palavras, quando a Igreja, que é o Corpo de Cristo, isto é, por onde Cristo se manifesta ao mundo, fica inativa, significa que ela perdeu os valores do Reino, se esqueceu dos princípios elementares do cristianismo, cuja ordem de seu senhorio é “buscar o Reino de Deus em primeiro lugar”.  

Quando a Igreja está fazendo tudo, menos buscando o Reino de Deus, e entenda Reino como governo ou comando de Deus, significa que ela está se distanciando de sua missão, está inerte em sua chamada de anunciar esse Reino, esse governo, que, segundo Jesus, já está entre nós, e precisa ser expandido. Sempre que a Igreja fica estagnada, o Mundo age na tentativa de  tomar o seu lugar, visto que ela é uma ameaça ao seu governo (o mundo jaz – está fundamentado - no Maligno – 15.3,4)

É nesse momento que o Espírito Santo desperta os crentes  inertes, avivando-os, ou seja, levando-os a resgatar os valores perdidos para manterem-se vivos como Igreja. E como é que o Espírito Santo “provoca” a Igreja para retomar seus valores? Vejamos sua ação através das cartas às Igrejas da Ásia.

A)       Igreja de Éfeso (Ap 2.4,5): Essa igreja é uma igreja com todas as características para ser aprovada como fiel a Deus. No entanto, faltava-lhe uma coisa: o amor. Embora pareça que isso era pouco demais em vista da bela lista a respeito do que aqueles irmãos faziam e sofriam pelo Evangelho, na verdade, o que eles perderam era a essência do cristianismo. Jesus disse que o amor é o sentimento que cumpre todos os mandamentos, a lei e os profetas, isto é, tudo o que já foi dito ou é dito a respeito de Deus, de sua natureza e de suas verdades está baseada na vivência e na essência do amor. Ou seja, sem amor não há cristianismo.

Apesar de ser louvada pelos seus atos, pois Deus não se esquece das nossas obras (Hb 6.10), a igreja de Éfeso estava caída (leia o versículo 5). Para tornar a se levantar, ela deveria se arrepender (voltar atrás em suas atitudes e pensamentos)  e praticar  novamente as primeiras obras (buscar os valores e princípios perdidos, manter vivo o que os tornava Igreja). O mesmo se dá em relação à Igreja de Sardes (3.1,3).

 

B)       Igreja de Tiatira (Ap 2.18-25): nessa carta, há repreensão para algumas pessoas que se deixaram corromper por doutrinas estranhas, mas também há louvores para aqueles que permaneceram fiéis. No entanto, para estes, a advertência foi: “mas o que tendes, retende-o, até que eu venha”.

Então, para aqueles  que perderam os princípios e valores cristãos, a advertência era voltar à prática das  primeiras coisas, e os que ainda praticavam, preservar os valores elementares que os diferenciavam do mundo.

 

C)   Igreja de Laodicéia (Ap. 3.14-20): essa era uma situação diferente. A Igreja de Laodicéia cria que estava perfeita diante de Deus, e, na verdade, Jesus disse que ele estava fora dela. E qual é o caminho para reparar isso? A resposta foi: “lembra-te do que tens recebido e ouvido; guarda-o, e te arrependes”. Traduzindo: “mantenham vivos os valores e princípios que vocês receberam no princípio da fé,  preserve-os e voltem à praticá-los”.

Isso é avivamento: o apelo insistente do Espírito Santo, trabalhando na consciência e no coração do crente, levando-o de volta à prática dos valores e princípios adquiridos no princípio da sua conversão, para que a Igreja permaneça sendo Igreja. Afinal, se a Igreja parar de ser Igreja, então ela se torna mundo, todavia o apóstolo João garante que não há comunhão entre luz e trevas, e quem ama o mundo, disse ele,  o amor do Pai não está  nele.

A Igreja não vai morrer, porque foi  arquitetada e construída pelo própiro Jesus, porém devemos buscar por seu retorno às primícias do Evangelho,   buscando e aguardando um iminente e  poderoso avivamento para que não sejamos achados em falta em nossa missão de levar o Reino de Deus ao mundo, tirando milhares de vidas das mãos do cruel Adversário e levando-as ao verdadeiro amor  sob o senhorio de  Jesus Cristo.


Com amor, 
Em Cristo,
Leila Castanha


AVIVAMENTO NO LAR


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Observação: para entender melhor o que é avivamento, clique no link a seguir, antes de ler este texto https://leilacast.blogspot.com/2020/07/o-avivamento-e-sua-importancia-para_6.html

 

Diferença entre casa e lar

Em uma de suas mensagens exibidas pela internet, o apóstolo Luiz Hermínio contou a  história de um garoto que participou de uma entrevista de uma rádio e no diálogo que se seguiu entre ele  e o radialista, este perguntou ao garoto onde ele morava. O menino respondeu que mudou para aquela região há pouco tempo, por isso estava morando em um hotel com a família, ao que o radialista lhe perguntou: “Então, você ainda não têm um lar?”. O menino, por sua vez, responde: “Senhor, nós temos um lar, simplesmente ainda não temos uma casa para colocar o nosso lar dentro”.

Dessa narrativa podemos extrair a realidade implícita nessas duas palavras: casa e lar.  Após ler alguns significados, definições e conceitos sobre ambos os termos, achei pertinente resumi-las da seguinte maneira:

Casa é uma construção física  erguida por meio de elementos concretos como cimento, tijolo, madeira etc, e serve como abrigo contra elementos externos, tais como sol: chuva, frio, calor, violência etc.

Lar é uma construção abstrata erguida por meio de valores e princípios que norteiam os seus membros, e serve como abrigo contra elementos internos, tais como: solidão, medo, rejeição etc.

Outra diferença bem cabível entre ambas é o fato de que  casa é feita de matéria morta (tijolo, cimento, palha, madeira etc.) , enquanto lar é construído de organismos vivos (pessoas, indivíduos).

Avivamento no lar: Uma vez que já foi explicitado o que é lar, cabe-nos agora relembrar o que é avivamento. Avivar, no hebraico, significa preservar, manter vivo. Daí vem a clareza da frase “Avivamento no lar”, como sendo a “preservação” e o “mantenimento da vida” no lar. No entanto, dessa afirmativa surge outra pergunta: como se preserva ou se mantém vivo o lar?”

Para responder a tal questionamento, devemos voltar ao significado do termo nesse contexto de família, e então observaremos que lar é a construção de valores e principios construído por pessoas que têm em comum um determinado lugar e nele se sente em segurança. Logo, faz-se claro que avivamento no lar, quer dizer, a preservação dos valores que fazem com que um espaço se torne um lugar de comunhão, e não apenas um lugar de habitação. Avivamento no lar é o ato de manter vivo tais valores e princípios que tornam nossa casa (habitação) um lar (um lugar habitável). Nem toda casa é um lugar habitável, e nem toda habitação é um lar.

 

Quais valores devem ser preservados ou mantidos vivos para a conservação do lar? Dentre os demais, colocarei três que, a meu ver, são essenciais à unidade e à preservação do lar. São eles:

A)          Unidade: Unidade é a qualidade de ser um. Em Gn 2. 24, 25, quando Deus criou o primeiro casal, a primeira regra que ele deu foi: “E serão ambos uma só carne”. Sendo exemplo para nós, Jesus reforçou essa ideia da unidade ao orar ao Pai sobre seus discípulos, dizendo: “que eles sejam um, assim como nós somos um” (Jo 17.21). Quando alguma coisa está errada na família, a primeira coisa que se perde é a unidade. Fica cada um por si, ignorando o outro. A Igreja Primitiva - lembremo-nos que a Igreja é comparada a uma família, era unida em tudo – tinham todas as coisas em comum (At 2. 44). 

 Para melhor exemplificar o que é ser um, usarei o exemplo citado pelo Pr. Juan Carlos Ortiz, em seu livro “O discípulo”, aliás, um livro que eu super indico. Ele diz que, como Igreja, devemos ser como um purê de batatas, de modo que nenhuma batata pode se erguer e dizer¨ “Ei, estou aqui!”, porque estão tão misturadas que não dá mais para identificar quem é quem.

Assim também deve ser no lar, seus membros devem ser como purês, de modo que, se mexer com um vai ferir os demais, bem como se ajudar ou elogiar a um, todos receberão o auxílio ou elogio. Se um cresce, todos crescem juntos, bem como se um se dá mal, todos  sentem a dor.

Dessa feita, em um verdadeiro lar não há espaço para competições ou invejas, pois a unidade pressupõe estarem juntos (misturados) em todas as circunstâncias e para todas as horas.

 

B)             Humildade:  não pode haver unidade onde há orgulho e prepotência. Enxergar-se igual ao próximo não é tarefa fácil para a pessoa arrogante, pois ela sempre se acha superior. Além disso, o soberbo é dado a competições e afrontas, de modo que não se conforma em repartir ou em deixar de ser o centro das atenções. A competição é evidente na vida do orgulhoso, embora ele não admita perder, competir para ele pressupõe ganhar sempre. Em Provérbios 11.2, a Bíblia diz que onde há orgulho, chega a desgraça. É por isso que Jesus disse que quem vier a ele deve aprender a ser humilde (Mt 11, 29).

 

C)          Sinceridade: acredito que quando alguém próximo a nós resolve mentir em relação a algo que fez ou deixou de fazer, é, dentre outros motivos, porque não se sente seguro quanto a nossa reação ante a verdade, ou seja, não confia plenamente em nós. Se assim for, as vezes, a mentira pode ser indiretamente causada por conta de nossas atitudes ou como essa pessoa as interpreta. É bem verdadeira a premissa de que “confiança se conquista”, e, creio, que mais com atitudes do que com palavras.

 De qualquer modo, a mentira desequilibra a unidade do lar, porque ela faz gerar desconfiança e com isso causa problemas na estrutura familiar (leia o que a Bíblia diz sobre a mentira:   Pv 6. 16, 17; 12. 22; Ef 4.25; Mt 5. 37; Ap 22. 15). Vemos nesses textos que Deus abomina a mentira e reprova o mentiroso.

 

Devemos entender que:

A)      O pecado traz consequências ruins para o lar: Em Gn 2. 25, a Bíblia frisa que ambos (o homem e a mulher) estavam nus e não se envergonhavam. No entanto, após entrar o pecado, a primeira coisa de que se envergonharam foi da sua nudez (da sua intimidade). Cada um passou a se ver individualmente como corpo separado, não como “uma só carne”, conforme era o plano de Deus (Gn 2.24). Agora Adão se via como homem, Eva se via como mulher (dois indivíduos se enxergavam distintos em sua estrutura externa) e o ímpeto foi esconder suas particularidades um do outro. Assim é quando deixamos o Inimigo semear o pecado em nosso relacionamento familiar, seja entre pais, filhos ou cônjuge, nossa individualidade sobrepuja nossa cumplicidade.

O Inimigo sempre semeou a ideia de superioridade nos atos de Deus em relação aos homens. À Eva ele desabafou que Deus não queria que o casal cohecesse o que Ele conhecia.  Ele sempre tentou fazer o homem ver  Deus como um ditador, que está sempre acima dos outros, com privilégios que não delega a ninguém. Satanás ainda hoje  usa essa mentalidade para afastar pais e filhos, dizendo a estes que seus pais querem manipulá-lo, coibi-los, sugar sua liberdade, sufocá-los. Que sua esposa quer ser melhor do que ele, porque ganha mais e isso o rebaixa como homem. Que o irmão tornou-se uma pessoa "metida" porque possui um carro do ano, e com certeza o menospreza e o considera um zero a esquerda.

A ideia do Maligno é  fazer o cônjuge, pais, filhos e irmãos perderem a unidade, competindo entre si, para depois, acusarem-se mutuamente, assim como aconteceu com o primeiro casal.  

Satanás tentou o orgulho de Eva, ao dar a ela a primazia na descoberta de ser como Deus, afinal ela foi subproduto de Adão (saiu dele), e claro, segundo sua artimanha, ela não acharia isso justo. E ele tenta dessa maneira até hoje, incitando o menos influente contra o de mais prestígio, o subalterno a desrepeitar a autoridade constituída, inclusive na família.

Eva deu ouvido ao conselho da serpente, desobedeceu a Deus, persuadiu o marido a fazer o mesmo, no entanto, embora parecesse que eles continuavam iguais, o pecado os mudou. Havia discórdia no lugar onde antes havia unidade. Era cada um tentando salvar a própria pele, quando antes eram ambos uma mesma carne (o que doía em um doía no outro).  Eram ainda marido e esposa, ainda ocupavam o mesmo espaço, tinham ainda uma aparência de duplicidade, mas na verdade, não se viam mais como antes. Ambos se envergonhavam do outro, perderam a intimidade, e agiam em causa própria.

 Assim é no nosso lar. Tal como aconteceu ao primeiro casal, a primeira coisa que o pecado (a desobediência às leis de Deus) causa no seio familiar é a quebra dos valores e princípios que fazem o lar ser um lar. E a unidade (o ser um) é essencial para que o lar seja mais do que uma casa, para que o lugar comum seja um lugar de comunhão, para que a habitação seja, de fato, um lugar habitável.

A perda do lar também acontece porque alguns, erroneamente, pressupõe que ter unidade é ser igual. A família não é uma grande máquina copiadora, mas é uma máquina reprodutora, isto é, todos somos gerados dela, mas não somos cópia de ninguém. Muitos desentendimentos no lar se dá porque um dos cônjuges ou os dois pretende transformar o parceiro em sua cópia, pais querem limitar os filhos a suas expectativas, filhos querem forçar os pais a olharem a vida com seus olhos, e assim por diante. A Bíblia é explícita em dizer que, embora devemos ser um, a nossa unidade não anula nossa individualidade, pois são as  peculiaridades de cada um que faz de nós quem somos, somos indivíduos, não seres massificados (leia 1 Co 12. 14, 18,24,25; 1 Pe 3.7; Gn 2.18).


No amor de Cristo,

Leila Castanha

09/07/2020


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA DE TIAGO

imagem extraída de https://blog.encontrocomapalavra.com
 

Primeiramente é importante entender que esse livro, em sua origem, foi escrito em forma de carta, daí o nome “espístola”, que é sinônimo de carta. Ela faz parte das chamadas Epístolas Católicas ou Epístolas Universais  ou Epístolas Gerais. Lembre-se de que a palavra Católica significa “geral ou universal”. Qualquer carta ou epístola, com exceção das escritas pelo apóstolo Paulo, recebem essa denominação, porque não foram escritas para uma igreja ou uma pessoa em especial, mas eram cartas circulares, ou seja, eram lidas em várias igrejas. São consideradas Epistolas Universais os seguintes livros: Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João e Judas.

A Epístola  de Tiago possui 5 capítulos e 108 versículos, e foi escrita em grego eloquente, isto é, não foi no grego vulgar (falado pelo povo). Esse livro contém referências a 22 livros do Antigo Testamento e menciona 15 ensinamentos ministrados por Jesus no sermão do Monte. É provável que esse tenha sido o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito.

Essa carta é considerado como o Provérbios do Novo Testamento, isso porque, assim como o livro de Provérbios, Tiago contém instruções práticas para uma vida cristã e sua escrita é recheada de aforismos (frases curtas que apresentam regras e princípios de natureza moral), e de analogias.  Tiago, assim como Salomão, era um grande observador da natureza pecaminosa do homem e dos fênomenos naturais, os quais utilizava para trazer exortações e ensinamentos sobre a diferença entre a vida cristã prática e o mero conhecimento teórico.   

Sobre o livro é importante relatar que houve discordância em relação  a sua autenticidade, de modo que alguns teólogos  resistiram em concordar que ele fosse incluído no Cânon, por isso a Epístola de Tiago demorou para fazer parte dos livros da Bíblia.

OBSERVAÇÃO: Cânon é o processo pelo qual se examina, por meio de algumas diretrizes preestabelecidas, se um livro é inspirado por Deus ou não.

De início,  Martinho Lutero foi um dos opositores em relação a aceitar a canonicidade dessa carta, inclusive ele o descreveu como “epístola de palha”. Essa denominação ao livro se deu devido a passagem na qual Tiago afirma que a fé só tem valor se for acompanhada de obras (Tg 2). Para Lutero, essa afirmação de Tiago contrariava o ensinamento paulino (do apóstolo Paulo) de que a salvação é adquirida por meio da fé e não das obras (leia efésios 2.8).  No entanto, segundo Ryrie, Lutero não questionou a autenticidade do livro, mas julgava que, em comparação às cartas de Paulo, essa epístola não tinha a mesma utilidade.

Contudo, apesar das objeções, as instruções contidas na carta de Tiago foram compreendidas pelo seu contexto, a saber, as obras são o meio pelo qual a fé, que é invisível, torna-se visível. Assim, a partir desse entendimento, a epístola de Tiago entrou para a lista dos livros canônicos (livros reconhecidos como inspirados pelo Espírito Santo) sendo, desse modo, útil para a orientação da Igreja.

OBSERVAÇÃO: No final da leitrua desse estudo, se você quiser saber quem foi Martinho Lutero é só clicar no link postado abaixo.

O local no qual essa carta foi escrita, embora não apareça referência no próprio livro, acredita-se que foi na Palestina, entre 45-50 d.C. Segundo Shedd, sua autoria data de, aproximadamente, 10 e 15 anos após a morte de Jesus. De acordo com Ryrie, autor de "A Biblia de estudo anotada expandida", essa data não pode ter sido em tempo mais recente devido a falta de menção ao concílio de Jerusalém, que se deu em 49 d.C., a utilização da palavra “sinagoga” (assembleia) no lugar de “igreja” (Tg 2.2) e a ênfase na expectativa da proximidade da volta de Jesus (5.7-9).

 O destinatário (para quem a carta foi escrita) são as 12 tribos dispersas, ou seja, os cristãos israelitas que viviam fora de sua pátria (Tg 1.2,12). A dispersão, também chamada de diáspora, trata da comunidade judaica que, após o exílio babilônico, viveu dispersa entre outros povos, evento que ocorreu entre 586-538 a.C. Esses irmãos dispersos podem ser aqueles que abraçaram o cristianismo no dia do Pentescostes (At 2.5-11) e depois retornaram as suas casas que ficavam em diversos lugares nos arredores do Império Romano, ou também podem ser os cristãos que Tiago conhecia através de suas visitas a Jerusalém nos períodos de festividades (porque nessa época os judeus que viviam em outras partes do Império Romano iam à Jerusalém para participar das festividades judaicas) - leia At 8.1; 11. 19,20; 18.2.

De qualquer modo, certo é que a carta indica que esses cristãos eram judeus e viviam dispersos (fora de sua pátria) e estavam passando por algum tipo de aflição, como também precisavam ser exortados sobre a prática do cristianismo que Tiago salienta que é mais do que apenas o conhecimento da Palavra.

Em relação ao seu autor, há consenso entre um número considerável de autoridades da bíblia, que trata-se do irmão do Senhor, isto é, o meio-irmão de Jesus. O Novo Testamento menciona 4 Tiagos, conforme segue abaixo:

1.            Tiago Maior: filho de Zebedeu, irmão do apóstolo João, um dos apóstolos (Mt 10.2; 17.1; Mc 5.37; 9.2; 14. 32,33; Mc 3.17. Morto por Herodes em 44 d.C. (Atos 12.1,2)

2.            Tiago Menor: filho de Alfeu (Mc 15.40).

3.            Tiago, o pai do apóstolo Judas: não é o Iscariotes (Lc 6.16; At 1.13)

4.            Tiago, irmão do SenhorConhecido também como Tiago “o Justo" (Mc 6.3; Gl 1. 18,19; Jd 1.1; Jo 7.3-5; At 1.13,14; At 12.16,17; 15.12,13; 21.18; Gl 21. 18,19; 2.9). A esse se atribui a autoria da Espístola de Tiago.

Desses quatro, somente Tiago, o filho de Zebedeu e irmão de João, e Tiago o irmão de Jesus, que são propostos como o escritor dessa epístola. No entanto, para alguns biblistas, é improvável que seja o irmão de João (filho de Zebedeu) porque ele foi  martirizado, em 44 d.C. (At 12.2). O fato de alguns teólogos, como Ryrie, apontarem para o meio-irmão de Jesus como sendo o escritor dessa carta apoia-se por ter sido ele um reconhecido  líder da igreja de Jerusalém, onde, inclusive, presidiu o Concílio (At 12.17; 15.13; 21.18). Segundo o mesmo comentarista, também há semelhanças no texto grego entre esta carta e o discurso de Tiago, irmão de Jesus, no Concílio de Jerusalém (veja Tg 1.1 e At 15.23; Tg 1.27 e At 15.20; Tg 2.5 e At 15.13). 

Outra questão levantada pelos que se opõem a ser o irmão de Jesus o autor desse livro, é o fato do estilo linquistico da carta ser muito eloquente, o que não condiz com um lavrador ou pescador, profissões comuns entre os galileus (lembre-se que Jesus e sua família moravam na Galiléia). No entanto, Ryrie afirma que os galileus sabiam falar bem a língua grega, aramaica e hebraica. Por outro lado, Koniings, Krull e Mareano  salientam que naquele tempo era costume outra pessoa escrever em nome do autor do texto, de modo que não invalida o fato de o escritor de Tiago ser o irmão de Jesus.

Outro fato interessante respeito desseTiago é que ele era  irmão de Judas (autor da epístola de Judas). Ambos eram meio-irmãos de Jesus - Leia Mt 13.55; Mc 6:3 e Jd 1.1.

A tradição data a morte de Tiago no ano 62. Segundo Flávio Josepho (historiador judeu), Tiago foi apedrejado no sinédrio (tribunal dos antigos judeus). Embora ele fosse amado pelo povo, era odiado pela aristocracia sacerdotal que governava a cidade. O sumo sacerdote Ananias levou Tiago ao sinédrio, sendo ele condenado e apedrejado.  O motivo de sua condenação fora suas posições severas contra a aristocracia que explorava os pobres, e a qual Ananias pertencia (leia suas críticas aos ricos exploradores em Tg 5.1-6).

ASSUNTOS DO LIVRO DE TIAGO

Na espístola de Tiago destacam-se os seguintes temas endereçados aos cristãos: exortação à suportarem e ter alegria nas provações, tirando proveito delas (1.12-13); resistirem às tentações (1.19-27); serem praticantes da Palavra e não somente ouvintes (1.19-27); manifestarem uma fé prática e não uma crença vazia (2.14-26); adverte sobre o uso benéfico da língua (3.1-12); sobre a sabedoria humana (carnal) (3.13-16); o viver pecaminoso (4.1-10); a arrogância (4.13); os ricos opressores (5.1-6); e, por fim ressalta sobre a paciência, a oração e a conversão de pecadores (5.7-20).

 Agora que você já tem uma visão geral sobre a Epístola de Tiago, meu desejo é que sua leitura torne-se mais significativa e que o Espírito Santo te conduza a extrair as pérolas preciosas dos ensinamentos contidos nesse livro que, como você já sabe, é uma carta escrita pelo meio-irmão de Jesus e irmão de Judas. Boa leitura.

No amor de Cristo,

Leila Castanha

04/01/2021


Bibliografia

Bíblia de Estudo Pentecostal: CPAD, 1985.

 KONINGS, Johan; at al. Tiago, Pedro, João e Judas: cartas às comunidades. São Paulo: Edições Loyola, 2019.

RYRIE, Charles C. A Bíblia de estudo anotada expandida: São  Paulo: mundo cristão, 2007.

SHEDD, Russell Philip; BIZERRA, Edmilson Frazão. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.


Leia sobre Martinho Lutero clicando no link a seguir

   https://brasilescola.uol.com.br/historiag/martinho-lutero.htm



domingo, 21 de maio de 2017

O CRISTÃO DEVE COMEMORAR A PÁSCOA?

imagem de cristãos kids

Na liturgia judaica, páscoa é a festa na qual  os judeus comemoram anualmente celebrando a libertação do povo de  Israel da escravidão do Egito. Segundo a Bíblia, o povo de Israel reunia-se anualmente, em Jerusalém, para comemorar a páscoa no mês primeiro, aos 14 do mês, no crepúsculo da tarde” (Ex 12.2).
Pelo fato de a Páscoa assinalar um novo começo para Israel, o mês que ela ocorreu (março / abril em nosso calendário), tornou-se o primeiro dos meses de um ano novo para a nação.
A páscoa devia ser observada por todos os israelitas (Ex 12), inclusive Jesus, sendo judeu,  também a celebrava (Mt 26.19; Jo 2.23). A refeição da páscoa consistia de um cordeiro assado ou um cabrito, pães asmos (pão sem fermento) e ervas amargas.
A origem do nome é devido a passagem do anjo por cima das casas que tinham o sangue aspergido nos umbrais de suas portas. (Leia Ex 12.7-13). Parte do sangue do cordeiro sacrificado, os israelitas deviam aspergir nas duas ombreiras e na verga da porta de cada casa. Quando o destruidor passasse por aquela terra, ele passaria por cima das casas que tinham sangue em seus umbrais (daí o termo Páscoa , do hebraico "pessach", que significa  “passar por cima”, “poupar”, “passagem”). Por outro lado, os egípcios foram alcançados pela punição divina, e o "anjo da morte" tirou a vida de todos os seus primogênitos.
Toda a comida utilizada na festa da páscoa tinha um simbolismo próprio. Os pães asmos, por exemplo, simbolizava a pureza, pois Israel deveria ser um povo separado dos demais.  Pães asmos são pães sem fermento. As ervas amargas simbolizavam a escravidão no Egito, é um modo do povo nunca se esquecer que Deus os tirou do sofrimento da escravidão, pois eles não tinham a sua própria pátria, e serviam ao rei egípcio. O cordeiro assado é símbolo de sacrifício, pois o sangue do animal serviu de substituto pela morte do filho primogênito de cada família (Leia Ex. 12.27 e Hb 9.22).
Na liturgia cristã, a páscoa comemorada pelos judeus não tem qualquer sentido representativo. Em seu lugar celebramos a Santa Ceia que é um memorial da morte de Cristo para nos salvar da condenação eterna. Os rituais judaicas encontrados  no Antigo Testamento são sombras das coisas futuras, ou seja,  representavam algo que deveria acontecer mais a frente (Leia Cl 2. 16,17; Hb 10.1). 
Ao lermos sobre a páscoa judaica e seus rituais, nos transportamos em pensamento à Cristo, que é a nossa Páscoa (passagem, acesso à salvação) - (1 co 5.7). Ele representa para nós, cristãos, o que a páscoa representa para o povo judeu. Assim como o cordeiro, cujo sangue serviu para espargir nas portas, livrando os seus moradores do castigo de Deus, Jesus é o Cordeiro de Deus que livra da condenação eterna os que aceitarem o seu sangue remidor (Jo 1.36). Assim como o cordeiro da páscoa deveria ser sem mancha, o apóstolo Pedro faz analogia com o cordeiro pascoal, dizendo que fomos comprados com o precioso sangue de Cristo, como o de um cordeiro imaculado (sem mancha). Os romanos tinham talento para a lei e a justiça e representavam o poder judicial mais alto do mundo, e eles inocentaram Jesus, através de Pilatos, ao dizer as seguintes palavras: "Não acho nele crime algum"(Jo 19.4-6).  O apóstolo Paulo também faz alegoria entre a Páscoa e Cristo, dizendo aos cristão que estamos sem fermento (sem mistura, santificados, separados),  e que Cristo, nossa páscoa (nossa passagem, nosso acesso à salvação)  foi sacrificado por nós (1Co 5.7). Em relação ao cordeiro, a Bíblia conta que Cristo entregou-se  à morte como um cordeiro mudo (Is 52.7; Mt 20. 28; 26.56).
O objetivo central da comemoração da páscoa é fazer os judeus relembrarem-se do livramento que Deus lhes deu, quando da opressão do Egito, onde serviam como escravos. (Dt 7.7,8). Da mesma forma a Santa Ceia, que foi instituída por Jesus, serve para relembrar aos cristãos o livramento que Deus nos deu através do sangue de  Cristo espargido  na cruz do Calvário (Lc 22.17-20; 1Co 11. 23-26; Ef. 2.11-13; Tt 3.4, 5).
Jesus recomendou aos discípulos que participassem da Ceia em memória dele, ou seja, lembrando-se da libertação  que Deus, por meio dele, nos proporcionou. Da mesma forma como o povo de Israel participa da Páscoa em memória da sua libertação do Egito, lembrando-se do que Deus, por meio de Moisés, fez por eles.
Páscoa, no seu sentido original, nada tem a ver com ovo de chocolate, ou com coelhinho. Os ovos de chocolate foi uma invenção do comércio para aumentar suas vendas. Na realidade, a páscoa apresentada no Antigo Testamento,   é um memorial perpétuo entre Deus e Israel para que eles nunca se esqueçam do amor e poder de Deus em seu favor, lembrando-se por meio dos pães asmos, que eles não podem se misturar com o paganismo de outras nações, por meio das ervas amargas, que eles se lembrem o quanto sofreram por terem rejeitado a Deus, e,  por meio do cordeiro assado, eles se recordem de que Deus não permitiu que o sangue deles fossem derramado, providenciando-lhes um escape pelo sacrifício do cordeiro, que substituiu o sangue de seus filhos. O cordeiro, que apontava para o seu próprio Filho, que Ele daria em sacrifício em nosso lugar.
E  para nós, cristãos,  que não pertencemos à nação judaica,  resta-nos a Ceia do Senhor, para lembrar-mo-nos de seu sacrifício e tudo o que ele implica para nós: separação da contaminação do mundo  e libertação da escravidão do pecado. Cerimônia esta que, a exemplo da Páscoa judaica, deve ser celebrada perpetuamente, isto é,  até que Cristo venha buscar a sua Igreja (1 Co 11. 26).
Espero tê-lo ajudado a entender o significado da páscoa para os judeus, e para nós, cristãos. 

Despeço-me,
 no amor de Cristo,
Leila Castanha


PODE O CRISTÃO NÃO TRABALHAR NA OBRA DE DEUS?


imagem de sanwen.net

   Quando aceitamos a Jesus devemos ter consciência de que, em suma, o aceitamos como nosso Salvador e Senhor. Estes dois “cargos” de Cristo devem estar interligados, visto que Ele só pode ser Salvador daquele que o recebe por seu Senhor, e vice-verso,  conforme observamos em Hebreus 5.9: “Ele é o autor da salvação de todos os que lhe obedecem” . Em Romanos 6.22, o apóstolo Paulo afirma que “agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes a vida eterna”.  O próprio Jesus afirmou que se quisermos ser seus amigos devermos fazer o que Ele nos manda (João 15.14).
Por isso, é errado o cristão pensar que pode fazer o que quiser. O pastor argentino Juan Carlos Ortiz, ao citar o texto de Mt 11.28, ele ressaltou que, quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador não nos tornamos senhores de nossas vidas, mas apenas fazemos uma troca: livramo-nos do senhorio do diabo e passamos a ser servos de Cristo.  Ele nos livra do jugo do adversário, mas em seu lugar ele coloca sobre nós o seu jugo, que é suave. Ele arranca de sobre nós o fardo pesado que nos oprime e no lugar dele nos dá o seu fardo, que é leve. Ou seja, a ideia aqui é: livramo-nos do nosso antigo senhor, mas continuamos a ser servos.
Assim sendo, como servos de Cristo, devemos obediência a ele. Dessa feita, não podemos decidir se vamos servi-lo nos bancos da igreja ou se vamos trabalhar em prol da Sua obra. O cantor Alceu Pires compôs um hino cuja letra diz que “membro de banco é prego e parafuso”. Na verdade, uma vez servindo a Jesus, temos a obrigação de trabalhar para Ele, propagando o Evangelho e ajudando-nos uns aos outros a fim de alcançarmos o nosso alvo final.
 A própria palavra “cristão” não condiz com a condição de “ficar parado”, porque esse vocábulo significa “seguidor de Cristo”.  Ao seguir os passos de Jesus observamos que Ele costumava repetir aos seus discípulos que sua missão era fazer a obra de Deus enquanto estivesse na Terra, e Ele passou sua curta temporada terrena trabalhando em prol de cumprir a vontade do Pai (Jo 4.34; 6.38; 9.4).
Ao referir-se aos cristãos, Jesus sempre enfatizava a importância do trabalho. Vemos isso, por exemplo, nas parábolas dos dez talentos, dos dois servos e dos trabalhadores (Mt 20. 1-16;  25.14-30; 24.45-51). Percebemos nestas parábolas, dentre outras coisas, que Cristo refere-se ao seu povo como alguém designado a trabalhar na Sua obra. Ao preparar-se para voltar ao céu, ele ordenou aos seus discípulos a trabalharem incansavelmente na propagação do Evangelho, prometendo-lhes que  lhes ajudaria (Mt 28.19-20; Mc 16.15).
Para Jesus não há discípulo fora do campo de trabalho, de maneira que ele próprio afirmou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. A própria frase “negue-se a si mesmo”, já nos induz a compreensão de que não temos direito de fazer o que quisermos. Além disso, a expressão “segue-me”, por si mesma, já denota a ideia de ação. Cristão é aquele que age, imitando a Cristo. A partir dessa compreensão podemos entender facilmente as seguintes palavras do apóstolo  João: “Aquele que diz que está nele, deve andar como ele andou” (1 Jo 2.6).
 O interessante é que muitas pessoas ao tornarem-se cristãs querem que Jesus os siga e faça-lhes todas as vontades. Começam a “decretar”, ao invés de pedir, supondo que, sendo filhos de Deus, ele lhes dará tudo o que quiserem. Mas a pregação de Cristo era bem diferente disso: somos nós que devemos obedecer-lhe, seguindo-lhes os passos, conforme ele mesmo nos ensinou, na oração do Pai Nosso: “Seja feita a tua vontade...”, ou como  Tiago disse, em sua epístola (carta): “Se Deus quiser faremos isso ou aquilo”.
O apóstolo Paulo entendeu bem essa realidade da vida cristã, de maneira que certa vez afirmou: “Já estou crucificado com Cristo, já não vivo eu, Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Afinal, quem ainda vive para si não pode ser servo de Deus, porque, em primeiro lugar, o servo não faz o que quer, mas vive para cumprir a vontade de seu senhor. E, por isso, a ordem de Cristo, o nosso Senhor é: “Buscai primeiro o Rei dos Céus e a sua justiça”. 
Na verdade, é impossível Deus ficar no controle quando nós ainda lideramos as nossas vidas. Deus não precisa de nós para fazer nada, pois a Bíblia nos dá exemplos disso ao mostrar-nos histórias como a de Balaão, na qual a jumenta falou com o profeta (Nm 22.28), ou a narrativa de Elias, a quem Deus alimentou usando corvos (1 Rs 17.6), ou o livramento de Israel por meio das águas do mar vermelho que engoliram o poderoso exército de Faraó (Ex 14.27,28) etc.
Jesus, sendo nosso exemplo, viveu na Terra com a única preocupação de agradar a Deus, de forma que afirmou: “Eu não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.35). Em outra ocasião ele orou, dizendo: “Pai glorifica o teu nome” (Jo 12.27, 28). No Getsêmane, sua oração foi a mesma: “Não faça a minha, mas a tua vontade” (Lc 22.42). Ao afirmar: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16.18), Jesus deixou claro que ele é o cabeça, pois a igreja está firmada nele, que é a pedra principal (Ef. 2.20), ou seja, não há Igreja sem Ele.
Em sua conversa com seus discípulos, registrada no livro de S. João 15. 8, Jesus diz que Deus é glorificado quando damos muito fruto. No entanto, no capítulo 12. 24 do mesmo livro, Cristo revela que “se o grão não morrer ficará ele só, não nascem novos frutos”. Seguindo essa analogia, Jesus ordena que todo dia carreguemos nossa cruz, ou seja, doemos nossa vida a fim de resgatar outras. O que doamos já não nos pertence, por isso as palavras de Paulo “a vida que vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus...”(Gl 2.20b).
O verdadeiro cristão não é apático (desinteressado), ele se preocupa com tudo que diz respeito ao Reino de Deus. A salvação do povo é preocupação constante do verdadeiro servo de Cristo. Não a salvação futura, apenas, mas a nova vida que todos podemos gozar com nosso Senhor a partir daqui. A Bíblia está cheia de exemplos de homens de Deus que, ao invés de preocuparem-se apenas consigo mesmos, sofriam pensando no povo.
Gideão era uma desses homens. Certa vez ao inquirir de Deus o motivo pelo qual os midianitas estavam apossando-se de sua terra, disse-lhe: “Se o Senhor está conosco porque nos sobreveio este mal?” (Jz 6.13). Perceba que ele não falava só dele, mas de todo o seu povo. Davi também se irou ao ver Golias afrontando o seu povo: “Quem é esse incircunciso que está afrontando os exércitos do Deus vivo?” (1 Sm 17.26) Ele não estava incomodado só por ele, mas irritou-se pela humilhação que todo o seu povo sofria. Neemias também pensou no seu povo desprotegido quando decidiu erguer os muros de Jerusalém (Nee 1.2-7,10). Moisés não aceitava ver o seu povo sendo açoitado e escravizado pelos egípcios, com quem vivia, e tentou ajudá-los (Ex 2). Até mesmo quando os liderava chegou a rogar pelo perdão deles, a ponto de negociar a própria salvação (Ex 32.32). Jesus, o nosso maior exemplo, chorou ao ver a situação de Jerusalém (Lc 19.41-44).
Deus quer que o seu povo esteja inconformado com a situação da humanidade, mas têm muitos cristãos que, ao invés de trabalhar por resgatar as milhares de almas das mãos do adversário, estão conformados com este mundo (Leia Rm 12.2).
Assim como Moisés vivia no Egito, mas sabia que não pertencia àquela Terra, assim devemos estar conscientes que estamos nesse mundo, mas nosso lar não é aqui. Nossa função como seguidores de Cristo é resgatar as almas perdidas e encaminha-las à proteção divina.
Por isso, eu afirmo: Não dá para ser cristão sem seguir o Mestre. Ou seja, não dá para ser discípulo de Jesus só indo à Igreja cultuar, e não trabalhando na propagação do Reino de Nosso Senhor. Afinal, a instrução de Paulo é que somos soldados, e devemos estar pronto para investir contra o Adversário, em resgate das almas perdidas (Ef 6.11-18).
Que Deus em Cristo nos desperte para cumprirmos a nossa missão como cristãos.
Na paz do Senhor Jesus,
Leila Castanha