segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA DE TIAGO

imagem extraída de https://blog.encontrocomapalavra.com
 

Primeiramente é importante entender que esse livro, em sua origem, foi escrito em forma de carta, daí o nome “espístola”, que é sinônimo de carta. Ela faz parte das chamadas Epístolas Católicas ou Epístolas Universais  ou Epístolas Gerais. Lembre-se de que a palavra Católica significa “geral ou universal”. Qualquer carta ou epístola, com exceção das escritas pelo apóstolo Paulo, recebem essa denominação, porque não foram escritas para uma igreja ou uma pessoa em especial, mas eram cartas circulares, ou seja, eram lidas em várias igrejas. São consideradas Epistolas Universais os seguintes livros: Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João e Judas.

A Epístola  de Tiago possui 5 capítulos e 108 versículos, e foi escrita em grego eloquente, isto é, não foi no grego vulgar (falado pelo povo). Esse livro contém referências a 22 livros do Antigo Testamento e menciona 15 ensinamentos ministrados por Jesus no sermão do Monte. É provável que esse tenha sido o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito.

Essa carta é considerado como o Provérbios do Novo Testamento, isso porque, assim como o livro de Provérbios, Tiago contém instruções práticas para uma vida cristã e sua escrita é recheada de aforismos (frases curtas que apresentam regras e princípios de natureza moral), e de analogias.  Tiago, assim como Salomão, era um grande observador da natureza pecaminosa do homem e dos fênomenos naturais, os quais utilizava para trazer exortações e ensinamentos sobre a diferença entre a vida cristã prática e o mero conhecimento teórico.   

Sobre o livro é importante relatar que houve discordância em relação  a sua autenticidade, de modo que alguns teólogos  resistiram em concordar que ele fosse incluído no Cânon, por isso a Epístola de Tiago demorou para fazer parte dos livros da Bíblia.

OBSERVAÇÃO: Cânon é o processo pelo qual se examina, por meio de algumas diretrizes preestabelecidas, se um livro é inspirado por Deus ou não.

De início,  Martinho Lutero foi um dos opositores em relação a aceitar a canonicidade dessa carta, inclusive ele o descreveu como “epístola de palha”. Essa denominação ao livro se deu devido a passagem na qual Tiago afirma que a fé só tem valor se for acompanhada de obras (Tg 2). Para Lutero, essa afirmação de Tiago contrariava o ensinamento paulino (do apóstolo Paulo) de que a salvação é adquirida por meio da fé e não das obras (leia efésios 2.8).  No entanto, segundo Ryrie, Lutero não questionou a autenticidade do livro, mas julgava que, em comparação às cartas de Paulo, essa epístola não tinha a mesma utilidade.

Contudo, apesar das objeções, as instruções contidas na carta de Tiago foram compreendidas pelo seu contexto, a saber, as obras são o meio pelo qual a fé, que é invisível, torna-se visível. Assim, a partir desse entendimento, a epístola de Tiago entrou para a lista dos livros canônicos (livros reconhecidos como inspirados pelo Espírito Santo) sendo, desse modo, útil para a orientação da Igreja.

OBSERVAÇÃO: No final da leitrua desse estudo, se você quiser saber quem foi Martinho Lutero é só clicar no link postado abaixo.

O local no qual essa carta foi escrita, embora não apareça referência no próprio livro, acredita-se que foi na Palestina, entre 45-50 d.C. Segundo Shedd, sua autoria data de, aproximadamente, 10 e 15 anos após a morte de Jesus. De acordo com Ryrie, autor de "A Biblia de estudo anotada expandida", essa data não pode ter sido em tempo mais recente devido a falta de menção ao concílio de Jerusalém, que se deu em 49 d.C., a utilização da palavra “sinagoga” (assembleia) no lugar de “igreja” (Tg 2.2) e a ênfase na expectativa da proximidade da volta de Jesus (5.7-9).

 O destinatário (para quem a carta foi escrita) são as 12 tribos dispersas, ou seja, os cristãos israelitas que viviam fora de sua pátria (Tg 1.2,12). A dispersão, também chamada de diáspora, trata da comunidade judaica que, após o exílio babilônico, viveu dispersa entre outros povos, evento que ocorreu entre 586-538 a.C. Esses irmãos dispersos podem ser aqueles que abraçaram o cristianismo no dia do Pentescostes (At 2.5-11) e depois retornaram as suas casas que ficavam em diversos lugares nos arredores do Império Romano, ou também podem ser os cristãos que Tiago conhecia através de suas visitas a Jerusalém nos períodos de festividades (porque nessa época os judeus que viviam em outras partes do Império Romano iam à Jerusalém para participar das festividades judaicas) - leia At 8.1; 11. 19,20; 18.2.

De qualquer modo, certo é que a carta indica que esses cristãos eram judeus e viviam dispersos (fora de sua pátria) e estavam passando por algum tipo de aflição, como também precisavam ser exortados sobre a prática do cristianismo que Tiago salienta que é mais do que apenas o conhecimento da Palavra.

Em relação ao seu autor, há consenso entre um número considerável de autoridades da bíblia, que trata-se do irmão do Senhor, isto é, o meio-irmão de Jesus. O Novo Testamento menciona 4 Tiagos, conforme segue abaixo:

1.            Tiago Maior: filho de Zebedeu, irmão do apóstolo João, um dos apóstolos (Mt 10.2; 17.1; Mc 5.37; 9.2; 14. 32,33; Mc 3.17. Morto por Herodes em 44 d.C. (Atos 12.1,2)

2.            Tiago Menor: filho de Alfeu (Mc 15.40).

3.            Tiago, o pai do apóstolo Judas: não é o Iscariotes (Lc 6.16; At 1.13)

4.            Tiago, irmão do SenhorConhecido também como Tiago “o Justo" (Mc 6.3; Gl 1. 18,19; Jd 1.1; Jo 7.3-5; At 1.13,14; At 12.16,17; 15.12,13; 21.18; Gl 21. 18,19; 2.9). A esse se atribui a autoria da Espístola de Tiago.

Desses quatro, somente Tiago, o filho de Zebedeu e irmão de João, e Tiago o irmão de Jesus, que são propostos como o escritor dessa epístola. No entanto, para alguns biblistas, é improvável que seja o irmão de João (filho de Zebedeu) porque ele foi  martirizado, em 44 d.C. (At 12.2). O fato de alguns teólogos, como Ryrie, apontarem para o meio-irmão de Jesus como sendo o escritor dessa carta apoia-se por ter sido ele um reconhecido  líder da igreja de Jerusalém, onde, inclusive, presidiu o Concílio (At 12.17; 15.13; 21.18). Segundo o mesmo comentarista, também há semelhanças no texto grego entre esta carta e o discurso de Tiago, irmão de Jesus, no Concílio de Jerusalém (veja Tg 1.1 e At 15.23; Tg 1.27 e At 15.20; Tg 2.5 e At 15.13). 

Outra questão levantada pelos que se opõem a ser o irmão de Jesus o autor desse livro, é o fato do estilo linquistico da carta ser muito eloquente, o que não condiz com um lavrador ou pescador, profissões comuns entre os galileus (lembre-se que Jesus e sua família moravam na Galiléia). No entanto, Ryrie afirma que os galileus sabiam falar bem a língua grega, aramaica e hebraica. Por outro lado, Koniings, Krull e Mareano  salientam que naquele tempo era costume outra pessoa escrever em nome do autor do texto, de modo que não invalida o fato de o escritor de Tiago ser o irmão de Jesus.

Outro fato interessante respeito desseTiago é que ele era  irmão de Judas (autor da epístola de Judas). Ambos eram meio-irmãos de Jesus - Leia Mt 13.55; Mc 6:3 e Jd 1.1.

A tradição data a morte de Tiago no ano 62. Segundo Flávio Josepho (historiador judeu), Tiago foi apedrejado no sinédrio (tribunal dos antigos judeus). Embora ele fosse amado pelo povo, era odiado pela aristocracia sacerdotal que governava a cidade. O sumo sacerdote Ananias levou Tiago ao sinédrio, sendo ele condenado e apedrejado.  O motivo de sua condenação fora suas posições severas contra a aristocracia que explorava os pobres, e a qual Ananias pertencia (leia suas críticas aos ricos exploradores em Tg 5.1-6).

ASSUNTOS DO LIVRO DE TIAGO

Na espístola de Tiago destacam-se os seguintes temas endereçados aos cristãos: exortação à suportarem e ter alegria nas provações, tirando proveito delas (1.12-13); resistirem às tentações (1.19-27); serem praticantes da Palavra e não somente ouvintes (1.19-27); manifestarem uma fé prática e não uma crença vazia (2.14-26); adverte sobre o uso benéfico da língua (3.1-12); sobre a sabedoria humana (carnal) (3.13-16); o viver pecaminoso (4.1-10); a arrogância (4.13); os ricos opressores (5.1-6); e, por fim ressalta sobre a paciência, a oração e a conversão de pecadores (5.7-20).

 Agora que você já tem uma visão geral sobre a Epístola de Tiago, meu desejo é que sua leitura torne-se mais significativa e que o Espírito Santo te conduza a extrair as pérolas preciosas dos ensinamentos contidos nesse livro que, como você já sabe, é uma carta escrita pelo meio-irmão de Jesus e irmão de Judas. Boa leitura.

No amor de Cristo,

Leila Castanha

04/01/2021


Bibliografia

Bíblia de Estudo Pentecostal: CPAD, 1985.

 KONINGS, Johan; at al. Tiago, Pedro, João e Judas: cartas às comunidades. São Paulo: Edições Loyola, 2019.

RYRIE, Charles C. A Bíblia de estudo anotada expandida: São  Paulo: mundo cristão, 2007.

SHEDD, Russell Philip; BIZERRA, Edmilson Frazão. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.


Leia sobre Martinho Lutero clicando no link a seguir

   https://brasilescola.uol.com.br/historiag/martinho-lutero.htm



domingo, 21 de maio de 2017

O CRISTÃO DEVE COMEMORAR A PÁSCOA?

imagem de cristãos kids

Na liturgia judaica, páscoa é a festa na qual  os judeus comemoram anualmente celebrando a libertação do povo de  Israel da escravidão do Egito. Segundo a Bíblia, o povo de Israel reunia-se anualmente, em Jerusalém, para comemorar a páscoa no mês primeiro, aos 14 do mês, no crepúsculo da tarde” (Ex 12.2).
Pelo fato de a Páscoa assinalar um novo começo para Israel, o mês que ela ocorreu (março / abril em nosso calendário), tornou-se o primeiro dos meses de um ano novo para a nação.
A páscoa devia ser observada por todos os israelitas (Ex 12), inclusive Jesus, sendo judeu,  também a celebrava (Mt 26.19; Jo 2.23). A refeição da páscoa consistia de um cordeiro assado ou um cabrito, pães asmos (pão sem fermento) e ervas amargas.
A origem do nome é devido a passagem do anjo por cima das casas que tinham o sangue aspergido nos umbrais de suas portas. (Leia Ex 12.7-13). Parte do sangue do cordeiro sacrificado, os israelitas deviam aspergir nas duas ombreiras e na verga da porta de cada casa. Quando o destruidor passasse por aquela terra, ele passaria por cima das casas que tinham sangue em seus umbrais (daí o termo Páscoa , do hebraico "pessach", que significa  “passar por cima”, “poupar”, “passagem”). Por outro lado, os egípcios foram alcançados pela punição divina, e o "anjo da morte" tirou a vida de todos os seus primogênitos.
Toda a comida utilizada na festa da páscoa tinha um simbolismo próprio. Os pães asmos, por exemplo, simbolizava a pureza, pois Israel deveria ser um povo separado dos demais.  Pães asmos são pães sem fermento. As ervas amargas simbolizavam a escravidão no Egito, é um modo do povo nunca se esquecer que Deus os tirou do sofrimento da escravidão, pois eles não tinham a sua própria pátria, e serviam ao rei egípcio. O cordeiro assado é símbolo de sacrifício, pois o sangue do animal serviu de substituto pela morte do filho primogênito de cada família (Leia Ex. 12.27 e Hb 9.22).
Na liturgia cristã, a páscoa comemorada pelos judeus não tem qualquer sentido representativo. Em seu lugar celebramos a Santa Ceia que é um memorial da morte de Cristo para nos salvar da condenação eterna. Os rituais judaicas encontrados  no Antigo Testamento são sombras das coisas futuras, ou seja,  representavam algo que deveria acontecer mais a frente (Leia Cl 2. 16,17; Hb 10.1). 
Ao lermos sobre a páscoa judaica e seus rituais, nos transportamos em pensamento à Cristo, que é a nossa Páscoa (passagem, acesso à salvação) - (1 co 5.7). Ele representa para nós, cristãos, o que a páscoa representa para o povo judeu. Assim como o cordeiro, cujo sangue serviu para espargir nas portas, livrando os seus moradores do castigo de Deus, Jesus é o Cordeiro de Deus que livra da condenação eterna os que aceitarem o seu sangue remidor (Jo 1.36). Assim como o cordeiro da páscoa deveria ser sem mancha, o apóstolo Pedro faz analogia com o cordeiro pascoal, dizendo que fomos comprados com o precioso sangue de Cristo, como o de um cordeiro imaculado (sem mancha). Os romanos tinham talento para a lei e a justiça e representavam o poder judicial mais alto do mundo, e eles inocentaram Jesus, através de Pilatos, ao dizer as seguintes palavras: "Não acho nele crime algum"(Jo 19.4-6).  O apóstolo Paulo também faz alegoria entre a Páscoa e Cristo, dizendo aos cristão que estamos sem fermento (sem mistura, santificados, separados),  e que Cristo, nossa páscoa (nossa passagem, nosso acesso à salvação)  foi sacrificado por nós (1Co 5.7). Em relação ao cordeiro, a Bíblia conta que Cristo entregou-se  à morte como um cordeiro mudo (Is 52.7; Mt 20. 28; 26.56).
O objetivo central da comemoração da páscoa é fazer os judeus relembrarem-se do livramento que Deus lhes deu, quando da opressão do Egito, onde serviam como escravos. (Dt 7.7,8). Da mesma forma a Santa Ceia, que foi instituída por Jesus, serve para relembrar aos cristãos o livramento que Deus nos deu através do sangue de  Cristo espargido  na cruz do Calvário (Lc 22.17-20; 1Co 11. 23-26; Ef. 2.11-13; Tt 3.4, 5).
Jesus recomendou aos discípulos que participassem da Ceia em memória dele, ou seja, lembrando-se da libertação  que Deus, por meio dele, nos proporcionou. Da mesma forma como o povo de Israel participa da Páscoa em memória da sua libertação do Egito, lembrando-se do que Deus, por meio de Moisés, fez por eles.
Páscoa, no seu sentido original, nada tem a ver com ovo de chocolate, ou com coelhinho. Os ovos de chocolate foi uma invenção do comércio para aumentar suas vendas. Na realidade, a páscoa apresentada no Antigo Testamento,   é um memorial perpétuo entre Deus e Israel para que eles nunca se esqueçam do amor e poder de Deus em seu favor, lembrando-se por meio dos pães asmos, que eles não podem se misturar com o paganismo de outras nações, por meio das ervas amargas, que eles se lembrem o quanto sofreram por terem rejeitado a Deus, e,  por meio do cordeiro assado, eles se recordem de que Deus não permitiu que o sangue deles fossem derramado, providenciando-lhes um escape pelo sacrifício do cordeiro, que substituiu o sangue de seus filhos. O cordeiro, que apontava para o seu próprio Filho, que Ele daria em sacrifício em nosso lugar.
E  para nós, cristãos,  que não pertencemos à nação judaica,  resta-nos a Ceia do Senhor, para lembrar-mo-nos de seu sacrifício e tudo o que ele implica para nós: separação da contaminação do mundo  e libertação da escravidão do pecado. Cerimônia esta que, a exemplo da Páscoa judaica, deve ser celebrada perpetuamente, isto é,  até que Cristo venha buscar a sua Igreja (1 Co 11. 26).
Espero tê-lo ajudado a entender o significado da páscoa para os judeus, e para nós, cristãos. 

Despeço-me,
 no amor de Cristo,
Leila Castanha


PODE O CRISTÃO NÃO TRABALHAR NA OBRA DE DEUS?


imagem de sanwen.net

   Quando aceitamos a Jesus devemos ter consciência de que, em suma, o aceitamos como nosso Salvador e Senhor. Estes dois “cargos” de Cristo devem estar interligados, visto que Ele só pode ser Salvador daquele que o recebe por seu Senhor, e vice-verso,  conforme observamos em Hebreus 5.9: “Ele é o autor da salvação de todos os que lhe obedecem” . Em Romanos 6.22, o apóstolo Paulo afirma que “agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes a vida eterna”.  O próprio Jesus afirmou que se quisermos ser seus amigos devermos fazer o que Ele nos manda (João 15.14).
Por isso, é errado o cristão pensar que pode fazer o que quiser. O pastor argentino Juan Carlos Ortiz, ao citar o texto de Mt 11.28, ele ressaltou que, quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador não nos tornamos senhores de nossas vidas, mas apenas fazemos uma troca: livramo-nos do senhorio do diabo e passamos a ser servos de Cristo.  Ele nos livra do jugo do adversário, mas em seu lugar ele coloca sobre nós o seu jugo, que é suave. Ele arranca de sobre nós o fardo pesado que nos oprime e no lugar dele nos dá o seu fardo, que é leve. Ou seja, a ideia aqui é: livramo-nos do nosso antigo senhor, mas continuamos a ser servos.
Assim sendo, como servos de Cristo, devemos obediência a ele. Dessa feita, não podemos decidir se vamos servi-lo nos bancos da igreja ou se vamos trabalhar em prol da Sua obra. O cantor Alceu Pires compôs um hino cuja letra diz que “membro de banco é prego e parafuso”. Na verdade, uma vez servindo a Jesus, temos a obrigação de trabalhar para Ele, propagando o Evangelho e ajudando-nos uns aos outros a fim de alcançarmos o nosso alvo final.
 A própria palavra “cristão” não condiz com a condição de “ficar parado”, porque esse vocábulo significa “seguidor de Cristo”.  Ao seguir os passos de Jesus observamos que Ele costumava repetir aos seus discípulos que sua missão era fazer a obra de Deus enquanto estivesse na Terra, e Ele passou sua curta temporada terrena trabalhando em prol de cumprir a vontade do Pai (Jo 4.34; 6.38; 9.4).
Ao referir-se aos cristãos, Jesus sempre enfatizava a importância do trabalho. Vemos isso, por exemplo, nas parábolas dos dez talentos, dos dois servos e dos trabalhadores (Mt 20. 1-16;  25.14-30; 24.45-51). Percebemos nestas parábolas, dentre outras coisas, que Cristo refere-se ao seu povo como alguém designado a trabalhar na Sua obra. Ao preparar-se para voltar ao céu, ele ordenou aos seus discípulos a trabalharem incansavelmente na propagação do Evangelho, prometendo-lhes que  lhes ajudaria (Mt 28.19-20; Mc 16.15).
Para Jesus não há discípulo fora do campo de trabalho, de maneira que ele próprio afirmou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. A própria frase “negue-se a si mesmo”, já nos induz a compreensão de que não temos direito de fazer o que quisermos. Além disso, a expressão “segue-me”, por si mesma, já denota a ideia de ação. Cristão é aquele que age, imitando a Cristo. A partir dessa compreensão podemos entender facilmente as seguintes palavras do apóstolo  João: “Aquele que diz que está nele, deve andar como ele andou” (1 Jo 2.6).
 O interessante é que muitas pessoas ao tornarem-se cristãs querem que Jesus os siga e faça-lhes todas as vontades. Começam a “decretar”, ao invés de pedir, supondo que, sendo filhos de Deus, ele lhes dará tudo o que quiserem. Mas a pregação de Cristo era bem diferente disso: somos nós que devemos obedecer-lhe, seguindo-lhes os passos, conforme ele mesmo nos ensinou, na oração do Pai Nosso: “Seja feita a tua vontade...”, ou como  Tiago disse, em sua epístola (carta): “Se Deus quiser faremos isso ou aquilo”.
O apóstolo Paulo entendeu bem essa realidade da vida cristã, de maneira que certa vez afirmou: “Já estou crucificado com Cristo, já não vivo eu, Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Afinal, quem ainda vive para si não pode ser servo de Deus, porque, em primeiro lugar, o servo não faz o que quer, mas vive para cumprir a vontade de seu senhor. E, por isso, a ordem de Cristo, o nosso Senhor é: “Buscai primeiro o Rei dos Céus e a sua justiça”. 
Na verdade, é impossível Deus ficar no controle quando nós ainda lideramos as nossas vidas. Deus não precisa de nós para fazer nada, pois a Bíblia nos dá exemplos disso ao mostrar-nos histórias como a de Balaão, na qual a jumenta falou com o profeta (Nm 22.28), ou a narrativa de Elias, a quem Deus alimentou usando corvos (1 Rs 17.6), ou o livramento de Israel por meio das águas do mar vermelho que engoliram o poderoso exército de Faraó (Ex 14.27,28) etc.
Jesus, sendo nosso exemplo, viveu na Terra com a única preocupação de agradar a Deus, de forma que afirmou: “Eu não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.35). Em outra ocasião ele orou, dizendo: “Pai glorifica o teu nome” (Jo 12.27, 28). No Getsêmane, sua oração foi a mesma: “Não faça a minha, mas a tua vontade” (Lc 22.42). Ao afirmar: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16.18), Jesus deixou claro que ele é o cabeça, pois a igreja está firmada nele, que é a pedra principal (Ef. 2.20), ou seja, não há Igreja sem Ele.
Em sua conversa com seus discípulos, registrada no livro de S. João 15. 8, Jesus diz que Deus é glorificado quando damos muito fruto. No entanto, no capítulo 12. 24 do mesmo livro, Cristo revela que “se o grão não morrer ficará ele só, não nascem novos frutos”. Seguindo essa analogia, Jesus ordena que todo dia carreguemos nossa cruz, ou seja, doemos nossa vida a fim de resgatar outras. O que doamos já não nos pertence, por isso as palavras de Paulo “a vida que vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus...”(Gl 2.20b).
O verdadeiro cristão não é apático (desinteressado), ele se preocupa com tudo que diz respeito ao Reino de Deus. A salvação do povo é preocupação constante do verdadeiro servo de Cristo. Não a salvação futura, apenas, mas a nova vida que todos podemos gozar com nosso Senhor a partir daqui. A Bíblia está cheia de exemplos de homens de Deus que, ao invés de preocuparem-se apenas consigo mesmos, sofriam pensando no povo.
Gideão era uma desses homens. Certa vez ao inquirir de Deus o motivo pelo qual os midianitas estavam apossando-se de sua terra, disse-lhe: “Se o Senhor está conosco porque nos sobreveio este mal?” (Jz 6.13). Perceba que ele não falava só dele, mas de todo o seu povo. Davi também se irou ao ver Golias afrontando o seu povo: “Quem é esse incircunciso que está afrontando os exércitos do Deus vivo?” (1 Sm 17.26) Ele não estava incomodado só por ele, mas irritou-se pela humilhação que todo o seu povo sofria. Neemias também pensou no seu povo desprotegido quando decidiu erguer os muros de Jerusalém (Nee 1.2-7,10). Moisés não aceitava ver o seu povo sendo açoitado e escravizado pelos egípcios, com quem vivia, e tentou ajudá-los (Ex 2). Até mesmo quando os liderava chegou a rogar pelo perdão deles, a ponto de negociar a própria salvação (Ex 32.32). Jesus, o nosso maior exemplo, chorou ao ver a situação de Jerusalém (Lc 19.41-44).
Deus quer que o seu povo esteja inconformado com a situação da humanidade, mas têm muitos cristãos que, ao invés de trabalhar por resgatar as milhares de almas das mãos do adversário, estão conformados com este mundo (Leia Rm 12.2).
Assim como Moisés vivia no Egito, mas sabia que não pertencia àquela Terra, assim devemos estar conscientes que estamos nesse mundo, mas nosso lar não é aqui. Nossa função como seguidores de Cristo é resgatar as almas perdidas e encaminha-las à proteção divina.
Por isso, eu afirmo: Não dá para ser cristão sem seguir o Mestre. Ou seja, não dá para ser discípulo de Jesus só indo à Igreja cultuar, e não trabalhando na propagação do Reino de Nosso Senhor. Afinal, a instrução de Paulo é que somos soldados, e devemos estar pronto para investir contra o Adversário, em resgate das almas perdidas (Ef 6.11-18).
Que Deus em Cristo nos desperte para cumprirmos a nossa missão como cristãos.
Na paz do Senhor Jesus,
Leila Castanha

quinta-feira, 30 de julho de 2015

COMO INTERPRETAR A BÍBLIA

  


Hermenêutica é uma palavra grega que significa: “Arte ou técnica de explicar ou interpretar um texto ou um discurso”.
A hermenêutica bíblica traça alguns princípios e normas para se interpretar a Bíblia, como, por exemplo, a compreensão de que os textos bíblicos são apresentados em dois sentidos: literal e figurado. Encontramos também textos com sentido figurativo, também chamado de sentido típico (que é a relação entre o tipo e o antítipo).

Tipo e antítipo: uma pessoa, um objeto ou um evento que se refere à pessoa, objetos ou eventos futuros. O tipo é uma prefigura do que ainda há de vir. O antítipo é a figura a quem se refere o tipo- o cumprimento.

Exemplos:
1- A serpente de bronze - Nm 21.5-9 é tipo de Cristo (que seria pendurado na cruz, e todos quantos olhassem para ele seriam salvos). .Cristo, por sua vez, é o antítipo da serpente (ele é a figura apontada pelo tipo) – Jo 3.14.
2- Adão é tipo de Cristo: Ele é o maior representante da humanidade caída, e Cristo é o maior representante da humanidade redimida – Rm 5.14; 1 Co 15.22.
3- Moisés é tipo de Cristo – Dt 18.15; At 3.20-22.

Sentido literal: O significado do texto está claro, é explícito. “No princípio criou Deus o céu e a Terra” – Gn 1.1 (Aqui, céu é céu mesmo, e Terra é literalmente Terra).

Sentido figurado: O significado está escondido, é implícito. Ele pode estar escondido nas palavras do próprio texto ou no contexto (Contexto é tudo o que fala sobre o texto – anterior ou posterior ao texto referido). 

Ex. de contexto – Minha filha está 3 horas atrasada para chegar em casa. Então, ao ver meu desespero meu marido diz: “Calma, você não vê que está chovendo?”.
 Observe que, em muitos lugares de São Paulo, em dias de chuva há alagamentos, enchentes, e isso resulta em trânsito. Então, ao dizer “Você não vê que está chovendo?” ,esta frase só fará sentido se eu conhecer tudo o que envolve a cidade de São Paulo em dia de chuva, ou seja, se eu conhecer o contexto de São Paulo em relação às chuvas (enchentes e trânsitos, por exemplo).

Outro exemplo: Suponhamos que hoje seja dia 15 e João quer pagar contas. Então a esposa lhe diz: “Mas João, você não sabe que hoje é dia 15?” Somente quem conhece o contexto sobre esse dia (que é dia de pagamento de muita gente, e as filas nos bancos são gigantescas, e que, por esse motivo há muita incidência de assaltos), é que entenderá esta frase.
Observação 1:  Contexto é tudo o que tem relação com o texto em questão. Na Bíblia, o contexto de um versículo pode estar num livro, ou num capítulo, ou até mesmo em outro versículo (anterior ou posterior a ele).

Observação 2: Texto é toda comunicação, oral ou escrita, que tenha sentido. Um texto pode ser em forma de palavras ou frases. Por exemplo: “Oi!” “Ai!”, “Bom dia”, “Eu amo você!”, etc. Teve sentido comunicativo é um texto.
A Bíblia é cheia de figuras de linguagem, dentre as quais, encontramos muito as metáforas. Metáfora é uma comparação implícita. Ela é subentendida. 

Exemplo prático sobre metáfora: José nunca aprende. Ele é um burro. (Na metáfora é como se eu vestisse o objeto comparado com a imagem ou a figura daquilo na qual eu quero compará-lo, caracterizando-o). Fui a casa de Maria e bati a cara na porta. É óbvio que não bateu de verdade! (A metáfora tem o poder de fazer a comparação parecer mais viva, mostrando a imagem daquilo que se quer comparar como se fosse real).
É por conta dessa aparência de literalidade produzida pela metáfora que precisamos identificar se os versículos que lemos estão expressos no sentido literal (se pode ser entendido ao pé da letra), ou se está em linguagem figurada - metáforas (Exemplo:"Eu sou o Pão da vida, quem comer a minha carne nunca terá fome - Jo 6.48, 54. O contexto mostra que Jesus falava no sentido espiritual - Jo 6.31-35);  hipérboles - exageros,  como por exemplo em Lm 3.48: "Rios de lágrimas correm dos meus olhos..: ") ou os eufemismos - termo ou expressão  mais suaves para substituir outro de conotação rude ou desagradável  (exemplo: Ao invés de o apóstolo Paulo dizer: "Prefiro morrer e estar com Cristo" ele usou o eufemismo : "Prefiro partir e estar com Cristo. Partir aqui, não é viajar, mas morrer. Percebe como temos que ter cuidado para não mudarmos o sentido real do texto?

Exemplo de metáforas na Bíblia:
a) “Eu sou a porta” (Jo 10.9). Sabemos que a porta é lugar de acesso, logo, ao dizer “Eu sou a porta”, Jesus estava indicando-se como o único acesso a Deus. Esta ideia é confirmada em João 10.9, onde Cristo aponta para si como o Caminho que leva a Deus, e reafirma coma forma em que usou o verbo “vir”: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim”;
b) “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). É claro que ele não falava isso de forma literal. Caminho também é lugar de acesso, assim, ao usar esta metáfora ele estava novamente afirmando que só por meio dele o homem pode chegar a Deus. Da mesma forma, ao afirmar ser a Verdade, ele quer dizer que, sendo portador da Mensagem de Deus (pois ele veio falar o que Deus ordenou –Jo 5.19, 30; 12.49), e sendo a Palavra de Deus  a verdade (Jo 17.17), e ele próprio sendo o verbo  (a Palavra), isto resulta no porquê ele se autodenominou a Verdade: Ele é Deus, vindo da parte de Deus, e em Deus não há mentira - (Jo 1.1-3). 
c) “Debaixo da sua asa estarás seguro” (Sl 91.4) - Será que Deus é um pássaro? Claro que não. Mas, se interpretarmos a Bíblia de forma literal correremos o risco de criar heresias (doutrinas que não condizem com a realidade expressa na Bíblia). O salmista compara, por meio de metáforas, o servo de Deus com uma ave, que  assustada ou com medo, pode contar com um abrigo seguro: o crente (como a ave) encontra abrigo em Deus (o nosso refúgio).
  d) “Deus é um fogo consumidor” (Hb 12.29). Para entendermos metáforas como estas, precisamos recorrer ao contexto. Qual a função do fogo? Nesse caso, o escritor já deu uma dica de que  fala de uma função específica (por exemplo, Deus não é um fogo que aquece, no contexto desse versículo), ele é um fogo consumidor. Qual a sensação de alguém ser consumido pelo fogo? Claro que é pavoroso e dolorido. Observe, então, que a figura do fogo foi utilizada para mostrar o outro lado de Deus: Ele é amor (um lado), mas também tem outro lado (é um fogo consumidor). Assim como pode amar Deus também  pode destruir ou punir àquele que não o leva a sério, assim como diz o ditado: "Quem brinca com fogo pode se queimar!". O apóstolo Paulo faz analogia semelhante ao falar sobre a lei da semeadura: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer (zombar, tirar o sarro), tudo o que o homem semear, isto também ceifará”- Gl 6.7.
e) “Vós sois o sal da Terra” (Mt 5.13). Como em qualquer metáfora, precisamos procurar o contexto em relação ao texto: Qual era o conhecimento daqueles em relação ao sal? Quais as características do objeto de comparação? Em que os discípulos de Cristo podem assemelhar-se ao sal? Etc.
Podemos observar algumas características do sal que condizem com a situação dos discípulos de Cristo, inclusive, confirmadas pela própria Bíblia.

1-    O sal tem que dar sabor: “Se o sal for insípido, e não tiver sabor, para nada mais presta” (Mt 5.13). O apóstolo Paulo exorta aos cristãos dizendo-lhes o seguinte: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal”- Cl 4.6. Daqui já adquirimos o conhecimento de que uma palavra temperada com sal, isto é, saborosa, tem que ser agradável. Em Ef 4.29 o apóstolo Paulo adverte aos irmãos que não saia de sua boca nenhuma palavra que não seja para a edificação. Ser sal da terra é fazer a diferença também no falar.

2-    O sal faz efeito, mas desaparece: João Batista, apesar de ser respeitado por muitos (Mc 11.32), e apesar de sua fama, disse a respeito de Jesus: “Convém que ele cresça e eu diminua” (Jo 3.30). Quando fazemos a obra de Deus com o intuito de nos aparecer não estamos nos portando como sal. O sal deixa o sabor (faz a diferença na culinária), mas ninguém o vê: Ninguém diz: "Que comida deliciosa! Que marca de sal você usou?", mas o normal é as pessoas  elogiarem a comida, sem ao menos lembrarem-se que sem o sal ela não ficaria tão saborosa! Assim deve ser o crente: Fazer a obra de Deus e deixar que o nome dEle seja glorificado.

Há muitas outras passagens bíblicas onde são utilizados textos com sentido figurado, em especial, com metáforas. Mas, colocarei apenas estes, pois creio ser o suficiente para o leitor compreender que não podemos levar todos os textos bíblicos ao pé da letra (no sentido literal), mas algumas passagens devem ser entendidas pelo sentido implícito, contextualizado, pois, conforme diz o adágio, “Texto fora de contexto só serve pra pretexto”.
Além da metáfora, ainda há passagens na Bíblia cujo texto é expresso por meio de outra figura de linguagem: a símile ou comparação.
Símile ou comparação é a figura de linguagem que consiste na aproximação de dois seres, em função de semelhança entre eles. É parecido com a metáfora, porém, ele utiliza os seguintes conectivos: com, como, parece, tal qual, assim, quanto.

Exemplo de comparação ou símile: José nunca aprende. Ele parece um burro; José é tal qual um burro; José é como um burro; José empaca tanto quanto um burro, etc.
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Resumindo: Ao ler a Bíblia devemos ter em mente que os textos nela contidos podem estar escritos em linguagem literal ou figurada. Assim, ao observarmos que um determinado texto está expresso em linguagem figurada devemos buscar pelo significado, que pode estar na própria palavra ou no contexto.
Bom estudo!

Um abraço,
Em Cristo Jesus,
Leila Castanha

terça-feira, 28 de julho de 2015

O QUE É O BATISMO NAS ÁGUAS


A palavra batismo vem do grego (baptismos) e significa imersão ou mergulho
João Batista foi o precursor de Jesus, isto é, ele veio anunciar a Cristo. Eram primos, sendo João seis meses mais velho do que Cristo (Lc 1.5, 34-36). Sua mãe chamava-se Isabel e era prima de Maria, a mãe de Jesus, Maria, ficou na casa de Isabel três meses, isto é, até a sua prima dar a luz – (v.39, 56, 57). 
Voltando ao batismo nas águas, é importante saber que para ser válido, ele deve ser precedido de arrependimento, conforme observamos em  At 2.38: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. (grifo meu).
O batismo que João pregava era diferente dos que os judeus conheciam, pois eles conheciam o batismo como rito de iniciação e de purificação. Por exemplo: quando um gentio convertia-se ao judaísmo os judeus o circuncidava e o batizava, visto que os gentios eram considerados impuros. 
Observação: gentio era o nome dado a todos os que não eram judeus; circuncisão é a retirada do prepúcio (uma pele que cobre a glande, ou como é chamada popularmente, “cabeça do pênis”).  
O batismo que João executava era “Batismo de arrependimento”, e não apenas de iniciação ou de purificação-  Mt 3.1,2, 5,6.  Os fariseus não compreendiam aquele tipo de batismo, visto que sendo judeus, já se consideravam puros, e João os exortava a se arrependerem de seus pecados, para que fossem batizados (v.7, 8).  
O batismo pregado por João exigia arrependimento porque era uma demonstração exterior do que havia acontecido no interior do homem (Mt 3.5-8,11). Batizar para o arrependimento não significava que o batismo produzia arrependimento, mas comprovava que os batizandos haviam se arrependido dos pecados, e como prova desse arrependimento seriam iniciados em uma nova vida (Mt 3.2; At 2.38;  16.14,15; Mc 16.16).  
João Batista sabia que Cristo veio ao mundo para salvar o homem do pecado a fim de religá-lo a Deus, logo, era necessário que o homem assumisse uma postura de arrependimento que seria confirmada por meio do batismo.
O batismo bíblico é uma comprovação formal do nosso compromisso com Cristo.  Assim como o casamento que sela o compromisso de um homem com uma mulher diante da sociedade e de Deus, o batismo nas águas tem o mesmo valor simbólico. No casamento existem direitos e deveres, que devem ser respeitados por ambos, do mesmo modo que na comunhão com Cristo, temos direitos às bênçãos celestiais e à vida eterna, mas temos o dever de ser santos (separados do pecado). Rm 6.3,4; Gl 3.27; Cl 2.7. O batismo não salva, ele é a comprovação de que aceitamos a salvação em Cristo. 
A Igreja Católica Romana tem sete sacramentos, dentro os quais estão o batismo e a eucaristia (a Santa Ceia). Para o catolicismo romano os sacramentos são sinais sagrados, instituídos por Jesus, e dá santificação divina. Mas, segundo a Bíblia, o que salva o homem é a fé no sacrifício expiatório de Cristo, ao reconhecê-lo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.35). Esse reconhecimento é consequência de nossa fé Nele. O batismo não salva ninguém, pois se assim fosse, o ladrão que morreu na cruz não seria salvo, pois não havia sido batizado, no entanto, Jesus lhe garantiu  que  estaria com ele no Paraíso (Lc 3.23,39-43)
Quando a Bíblia diz que quem crer e for batizado será salvo (Mc 16.16), não significa que o batismo salva, mas quer dizer que o fato de alguém se batizar confirma que esta pessoa creu na salvação em Cristo, e o confessa  por meio do ritual do batismo, cujo simbolismo índica que a pessoa morreu para o mundo e tornou a nascer para Deus.
Quando aceitamos a salvação de Cristo se faz necessário confessar a nossa fé, conforme está escrito em Romanos 10.9: "A saber: Se com tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo". No ato batismal, além da confissão pública por meio do ato simbólico do batismo, antes de descermos às águas batismais fazemos confissão de fé, verbalmente, alguns em determinado culto anterior ao batismo, mas, em geral, é comum  o candidato responder algumas perguntas feita pelo ministro no momento do ato.
O batismo nas águas é a sua fé exposta em público; é sua crença interior, exteriorizada; é a sua fé invisível, sendo exposta de forma visível. Em Tiago 2.20-22 vemos a afirmativa de que as obras comprovam a fé. Por exemplo: Uma criança quer aprender andar de bicicleta e após umas duas tentativas frustradas fica emburrada e decide desistir. O pai, então, anima-a prometendo que não vai deixá-la cair. Depois, o pai lhe pergunta se ela confia nele ao que a criança responde afirmativamente. No entanto, apesar de sua afirmação de que confia no pai ela se recusa a voltar a pedalar, ao que o pai lhe pergunta: “Mas você não disse que confia em mim?” E a criança responde: “Confio papai, mas não vou porque estou com medo de cair”.
 Este diálogo nos mostra que a falta de ação da criança demonstra que, embora ela repita que confia no pai, sua falta de atitude em obedecê-lo e voltar a pedalar, prova que  ela não confia, de fato, na promessa dele. Assim é quando nós dizemos que cremos que Jesus nos salvou e queremos ser  novas criaturas, mas na hora de nos batizar ficamos com dúvidas se devemos ou não aceitar o batismo. 
Embora o batismo seja símbolo de novo nascimento, ele não tem o poder de salvar ou de purificar o homem do pecado, pois, segundo a Bíblia, quem purifica o homem do pecado é:
a.        O sangue de Jesus : 1 Jo 1.7 (o fato de Jesus ter morrido por nós é que nos torna puros diante de Deus);
b.         A Palavra de Deus (Sl 119.9; Jo 17.17); É observando a Palavra de Deus que nos purificamos (nos tornamos santos) Sl 119.10 “Escondi a tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti”.

O batismo também não converte ninguém. A conversão se dá com a nossa crença em Jesus, aceitando-o como nosso Senhor e Salvador. Converter é mudar de direção (quando deixo de servir ao pecado, e passo a  me submeter ao senhorio de Cristo, então me converti).
Santificação é um processo que se dá após a conversão e é gradual, e deve ser buscada (seguida). A santificação é um processo -  Hb 12.14. Santificar significa separar.
O batismo é iniciação para os novos membros da família cristã. Observamos que todos os que criam em Jesus e se arrependiam do pecado eram, em seguida, batizados. Daí então surge as seguintes perguntas:
a.        Quem deve ser batizado: Todo aquele que crer (Mc 16.16; At 8.36-38).
b.    Quem tem compreensão acerca do Evangelho: Isso não significa entender a Bíblia toda. Esse conhecimento se dá por meio de estudos aplicados e a orientação do Espírito Santo. O que quero dizer aqui, como compreensão do Evangelho, é entender essa Boa Nova (a palavra Evangelho significa Boa Nova), isto é,  reconhecer sua condição de pecador e desejar o novo nascimento em Cristo, o que implica em compromisso com Ele. O apóstolo Paulo alertou os irmão de Roma (Romanos 12.1) dizendo-lhes que o nosso culto deve ser racional (devemos saber o que estamos fazendo). Quando Filipe se aproximou do eunuco, a primeira coisa que perguntou foi: “Entendes tu o que lês?” (At 8.30). Por isso não concordamos com o batismo de crianças.

PORQUE NÃO BATIZAMOS CRIANCINHAS

O fato de Jesus dizer que das crianças é o Reino dos Céus não é motivo suficiente para se justificar o batismo infantil, pois a criança não compreende o significado do ato (com exceção da criança que já tem idade para entender).
Ao apontarem o batismo da família de Lídia, também não é argumento contundente para a defesa do batismo infantil, pois a Bíblia não diz a idade dos filhos dela.
Em relação à circuncisão que era feito nos meninos, com apenas 8 dias de vida,  também não é explicação para o batismo infantil, visto que o simbolismo de um não é idêntico ao do outro (a circuncisão era sinal de pertencimento à nação israelita), enquanto que o batismo é para todo o que crer em Jesus e é sinal de pertencimento à Igreja de Cristo, composta por todas as raças, tribos, nações e línguas, e sua adesão é precedida por arrependimento de pecados).


Com amor,
Em Cristo Jesus,
Leila Castanha


terça-feira, 21 de abril de 2015

COMO UTILIZAR A CONCORDÂNCIA BÍBLICA




    Muito cristãos entendem que devem ler a Bíblia, mas por mais que se esforcem não compreendem muito seus textos. Para tanto, se faz necessário o auxilio de um professor das Escrituras ou alguém com um pouco mais de conhecimento a fim de orientá-lo.

 Embora isso seja completamente válido, infelizmente é o motivo de muita gente parar de ler a Palavra de Deus por não conseguir acesso a essas pessoas. O essencial mesmo, é que o leitor da Bíblia possa ter capacidade de estuda-la por si, levando apenas as questões mais difíceis aos que são mais experientes.   
Pensando nisso, fiz um pequeno manual a fim de ajudá-lo a aprender a estudar a Bíblia sozinho. Prepare-se, portanto, para dar seus primeiros passos em direção a tornar-se um exímio estudante das Escrituras.
Vamos lá: Em primeiro lugar, procure adquirir uma Bíblia com concordância (referências bíblicas).  A concordância é útil para ligar um assunto ao outro. 
Por exemplo:Em Mt 1.23 lemos a narrativa de Mateus, na qual ele explica que o nascimento de Jesus cumpre a profecia de Isaias, que predisse que o Cristo nasceria de uma virgem. Nas Bíblias que possuem concordância Bíblica, trará sobre uma das palavras do texto uma letra que vai te indicar outro texto onde se achará mais informações sobre aquele assunto.

Por exemplo: Na Bíblia que estou me baseando agora (Bíblia Pentecostal), em Mt 1. 23, temos a referência marcada pela letra x, como você pode observar abaixo:




       Observe que acima da frase “Eis que a virgem...” acima do a  tem a letra x. Esta letra indica que há outros textos na Bíblia que concordam com este (Por isso o nome é “Concordância Bíblica”). Quando há uma marcação como esta, significa que há alguma (s) outra (s) referência (s) sobre o assunto. O próximo passo, então, é procurar pela letra (neste caso, a letra x ) e ver o (s) texto (s) indicado ( s).

Observe nos modelos abaixo que em algumas Bíblias as referências ficam no centro e em outras ao lado ou até mesmo no rodapé, mas, isso não importa. Veja as duas Bíblias  que usei como exemplo (Bíblia Pentecostal e Bíblia Scofield) e  observe que circulei com lápis verde o local das concordâncias. Aconselho que para melhor visualização utilize o zoom do seu computador: 


Clique na imagem para ampliar.


Talvez a sua Bíblia tenha concordância na parte inferior (no rodapé), mas isso não muda nada, o importante é que você saiba como utilizá-la. Agora que você já achou onde estão as referências do texto lido (as concordâncias bíblicas), basta procurar a letra indicada no versículo em estudo. Como vou usar duas Bíblias para exemplificar, comecemos pelo texto da Bíblia Pentecostal onde  a letra a está marcada com a letra x como vemos a seguir: “Eis que xa virgem conceberá...”, e na Bíblia Scofield  está  marcado  com a  letra o: “...como fora dito opelo Senhor por intermédio do profeta” . Observe esses exemplos das páginas copiadas da Bíblia, abaixo:


                            


Se você aumentar o zoom, perceberá que em ambas as Bíblias, circulei as letras das referências.  Após identificar a letra x no grupo de referências da Bíblia Pentecostal e a letra o, na lista de referências da Bíblia Scofield, você verá que o capítulo e versículo a que se refere a referência (Isto é,1.23) estará escrito em negrito para você saber sobre qual versículo ele está dando a referência,  e em seguida vem a concordância (referência bíblica) na qual mostra o livro, o capítulo e o versículo que tratam do assunto o qual você está lendo. No exemplo que estamos observando a referência que concorda com Mt 1.23 é Is 7.14. Agora vamos ler para comparar os textos, conforme veremos abaixo:





A referência indicada no texto de Mt 1.23, nos levou ao local onde se encontra a profecia de Isaias da qual Mateus falara.
Não é maravilhoso estudar a Bíblia com a ajuda da concordância bíblica?
Agora observe o seguinte:
O versículo o qual estamos pegando como exemplo é   Mt 1.23 que nos indicou Is. 7.14.
Ao lermos Is. 7.14 vamos encontrar mais referências sobre esta profecia. Agora, veja como seu estudo ficou ainda mais completo. Ao invés de apenas uma referência, a concordância encontrada em Isaías nos dá mais duas. Observe abaixo:






                         
À esquerda temos o texto de Is 7.14 e a referência indicada pela letra f, ao lado da página.  À direita temos a referência ampliada para você visualizar melhor.
Observe que na concordância bíblica, primeiro aparece a letra de referencia (f), depois, o capítulo e versículo – chaves, isto é, o capítulo e versículo que estamos estudando, ou seja, Isaias 7.14, que aparecerá em negrito (7.14), em seguida as referências sobre o assunto, conforme mostra detalhadamente o modelo abaixo:






Todos  esses versículos marcados em amarelo concordam, isto é, tratam  do mesmo assunto que Isaia 7.14. Leia cada um deles, (menos Mt 1.23, porque já lemos no início do estudo) e comprove o que estamos dizendo.
Existem várias Bíblias de Estudos que além de ter referências (concordância bíblica), também tem comentários. Estas duas que estou utilizando como modelo faz parte delas. Os comentários são marcados por pequenos números ou letras sobre a parte a ser comentada. Geralmente são números, salvo algumas exceções. Também há Bíblias que trazem a referência e o comentário juntos. Veja o exemplo abaixo do texto de Mt 1.23 (na Bíblia Pentecostal e na Bíblia Scofield),  mas não se esqueça de utilizar o zoom do computador para visualizar melhor.



                                            

   Você deve ter reparado que no recorte a esquerda eu circulei uma letra (o) e um número (4). A letra trata da concordância bíblica que vai te levar para outros textos, conforme vimos nos exemplos acima. O número (4) que está ao lado do nome Emanuel está indicando que há um comentário sobre esta palavra. No caso da Bíblia Scofield os comentários são dispostos no rodapé (parte inferior da Bíblia), então, é só você procurar o número indicado para ler o comentário.                           
         
                       
                                  


Agora é só procurar o número, nesse caso o número (4) usado na referência do vers. 23 (observe na segunda parte da Bíblia Scofield), onde circulei de laranja no exemplo que dei acima. Veja o versículo acima e em seguida veja a explicação na parte de comentários. O texto comentado foi ampliado abaixo para você conseguir lê-lo, então, observe que: Primeiro você deve encontrar o número indicado (nesse caso o número 4), e ao lado dele tem o capítulo e o versículo os quais se refere a leitura (1.23), depois segue o comentário sobre o assunto. Veja no exemplo abaixo:





Esta não é uma aula tão fácil de executar via internet, mas espero ao menos ter conseguido fazê-lo entender o que é a concordância bíblia, como ela é apresentada nas bíblias de estudo e qual é a sua utilidade.
Não se esqueça: Não há nada melhor do que a prática para nos aperfeiçoar.
Desejo-lhe um ótimo estudo, sob a orientação do Espírito Santo, porque só Ele é capaz de nos iluminar a fim de que tenhamos um verdadeiro entendimento das coisas espirituais. As armas você já tem: A concordância e os comentários bíblicos, que muito facilitará o seu trabalho de estudar as Escrituras. Faça bom proveito!

Despeço-me na paz do Senhor Jesus,
No amor de Cristo,
Leila Castanha.

08/2013