Acredito
que de nada terá proveito o estudo exaustivo de qualquer tema relacionado à
Bíblia se não tivermos conhecimento sobre a chamada soteriologia, do grego soterion
= salvação + logia = ciência. Soteriologia, então, é a “ciência teológica
que se refere à salvação da humanidade, de sua redenção” (Larousse Cultural).
Embora
muitos cristãos não deem muita importância a esse tema, não podemos nos esquecer que nossa carreira cristã só tem sentido a partir da nossa salvação, pois
sem ela nada do que fizermos terá valor algum. Esta afirmação partiu do próprio
Jesus que ao ouvir seus discípulos gabarem-se pelo fato de realizarem prodígios
e maravilhas no nome dele, respondeu-lhes: “Não vos alegreis porque os demônios
se vos sujeitam, antes, alegrai-vos pelo o vosso nome estar escrito nos céus.”
(Lc 10.20).
Além
disso, o Evangelho (boas novas) que pregamos é chamado de “O Evangelho da
Salvação” (Ef. 1.13) porque a salvação em Cristo deve ser a mensagem central a
ser pregada ao Mundo. Salvação é o tema principal da Bíblia, por isso devemos
entender o que significa essa palavra e a que se refere, para não sairmos por
aí pregando a Palavra de Deus como um mensageiro sem mensagem.
Desde
o princípio o plano de Deus era salvar a humanidade. Desde o Antigo Testamento
(o antigo pacto de Deus com os hebreus), o seu plano era o de salvar o homem,
conforme se vê, por exemplo, em Isaías 35.4: “Dizeis aos turbados de coração;
eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos
salvará.” Este é apenas um dos turbilhões de textos do Antigo Testamento que
trata da promessa de um salvador.
Quando
finalmente Jesus se encontrou no mundo a intenção de Deus continuou sendo a
de salvar a humanidade, pois foi Ele quem enviou o seu amado filho para tomar
forma humana e morrer para nos resgatar do pecado, conforme observamos nas
palavras do próprio Cristo: “O filho do homem veio salvar o que se havia
perdido.” (Mt 18.11). A grande questão é: Pode o cristão pregar a salvação se
ele mesmo não compreende esse plano de Deus? É óbvio que não.
Acredito
que compreendemos bem esse assunto quando nos sentimos aptos a responder a estas
quatro perguntas concernentes a salvação:
1.
O que significa o termo “salvação”?
2.
Do que preciso ser salvo?
3.
Quem poderá me salvar?
4.
Como posso ser salvo?
Se você puder responder
essas perguntas de forma genuinamente bíblica, então você compreendeu a
doutrina da salvação, e está pronto a propagar o Evangelho de Cristo, que é
salvação para todo aquele que crê (Rm 1.16). Lembre-se que a palavra Evangelho
significa “Boa nova (boa notícia) ou boa mensagem.”
Muitas pessoas aceitaram a
salvação de Cristo, mas na realidade não compreendem o que fizeram. Aceitar a
salvação de Cristo não é simplesmente tornar-se membro de uma igreja. Não é apenas passar a viver uma vida vitoriosa, cheia de bênção e alegrias. Não se
resume em viver em novidade de vida. Tudo isso é consequência da salvação, mas
não é a causa da salvação.
Vejamos, então, o que significa ser salvo por Cristo. Para ser bastante clara no que quero dizer, darei um exemplo para explicar o que é ser salvo por Cristo.
Vejamos, então, o que significa ser salvo por Cristo. Para ser bastante clara no que quero dizer, darei um exemplo para explicar o que é ser salvo por Cristo.
Suponhamos que você está numa
feira de escravos, com as mãos e os pés acorrentados, e está prestes a ser
vendido. De repente, alguém se aproxima de você e lhe pergunta: “Você gostaria
de ser salvo?”. É lógico que para lhe
responder você precisa entender o que significa a expressão “ser salvo”.
Provavelmente, a primeira
coisa que lhe virá à cabeça é que ele te oferece a chance de escapar de uma
situação de perigo, ou seja, você corre o risco de ser vendido como escravo, e
ao ser salvo estará livre desse risco.
E é exatamente isso o que
significa a expressão “ser salvo”. Salvação significa “livramento”, logo, se
você aceitar que o gentil cavalheiro da nossa historinha te salve é como se você
lhe dissesse que permite que ele te livre
da terrível situação a que você está exposto.
Segundo a enciclopédia
Larousse Cultural, o termo salvar também significa “remir” ou “redimir”, e
ambos significam resgatar. Quando
Jesus nos oferece a salvação, ele o faz mais precisamente no contexto de remir
ou redimir, isto é, nos resgatar,
conforme nos afirma o texto a seguir: “Ele veio salvar o que se havia perdido.”
(Lc 19.10). Observe que se Ele veio salvar “o
que se havia perdido”, significa que alguém corria perigo. E qual era o perigo?
Em Isaias lemos:
“Eis que a mão do Senhor não está encolhida,
para que não possa salvar, nem os seus ouvidos agravados, para que não possa
ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus, e os
vossos pecados escondem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.”
Observamos neste texto que corríamos
o perigo de ficarmos para sempre separados de Deus. Após Jesus sacrificar-se
por nós os nossos pecados não mais nos separam de Deus, pois João disse que se
pecarmos temos um advogado para com Deus, Jesus Cristo, o Justo (1 Jo 1.2). E
quanto a nossa condição de pecadores, através do sangue de Jesus, que nos remiu
(resgatou do pecado), fomos justificados perante Deus, isto é, ele não nos vê
mais como servos do pecado, mas como filhos. Leia Rm 5.1; Gl 4.7; Tt 3.7.
Para melhor entendermos o
ato da salvação em Cristo darei outro exemplo: O filho de um comerciante muito
rico foi sequestrado e o sequestrador mandou-lhe um bilhete dizendo o seguinte:
“Estamos com seu filho. O valor do resgate é de um milhão de reais. Providencie
o dinheiro amanhã e indicaremos o local
da troca.”
Sabendo que a palavra “resgate”
significa “adquirir de novo”, podemos substituí-la pelo seu sinônimo e o recado
ficaria assim: “Estamos com seu filho. O valor para você “adquiri-lo de novo” é de um milhão de reais. Providencie o dinheiro amanhã e indicaremos o local da troca..”
Ou seja, o filho que estava ao
seu alcance agora está sob o poder dos marginais que o sequestraram. Para
trazê-lo de volta (resgatá-lo), você precisa pagar o que os bandidos exigem.
No início, lá no jardim do
Éden, onde não havia ainda a penetração do pecado, a Bíblia afirma que Deus
visitava o casal Adão e Eva (Gn 3.8). No entanto, a partir da desobediência do
homem o pecado o separou de Deus (Is. 59.2) porque Deus aborrece o pecado (a
palavra pecado significa “errar o alvo”, em outras palavras, “pecado” é a
transgressão, ou seja, a desobediência às leis de Deus).
Uma vez que o homem pecou
contra Deus, o objetivo divino era de resgatá-lo do pecado. Usando de figura de
linguagem o diabo e representado pela figura do sequestrador que roubou o homem da
companhia de Deus (seu pai), o pecado é a corrente que aprisiona o homem, o homem é a vítima (o sequestrado), e Deus é o comerciante
rico que quer resgatá-lo, enquanto que Jesus veio ao Mundo, o pagamento para o resquate é o sangue de Jesus. Por isso o apóstolo Pedro adverte os irmãos a
valorizar a sua liberdade, dizendo-lhes não foi com prata ou ouro que foram
comprados, mas com o precioso sangue de Jesus (1 Pe 1.18).
Ser salvo por Cristo implica
em que o próprio filho de Deus, rebaixou-se a forma humana, e sofrendo como
humano deu sua vida em resgate da nossa.
Uma vez entendido isso, fica
mais fácil entendermos porque Jesus disse que ninguém pode vir a Deus se não
for por Ele (Jo 14.6). Usemos mais uma vez o exemplo que dei acima sobre o
sequestro do filho de um comerciante rico para melhor entendermos o que
significa estas palavras de Jesus. Imaginemos que Deus é o pai do sequestrado, você
é a vítima (o sequestrado) e Jesus veio trazer o valor do resgate (o seu sangue).
Sem o pagamento (o sacrifício
do sangue de Jesus) não há resgate, sem resgate não chegaremos ao Pai celestial,
por isso, sendo Cristo, o portador do resgate, ele afirmou que sem ele ninguém vai
até Deus, afinal ele era o responsável por entregar o pagamento que nos
libertaria. Se ele negasse estaríamos perdidos para sempre. Entendeu agora?
É por isso que Jesus não
podia falhar em sua missão quando veio ao mundo. Mesmo perto da hora de seu
sofrimento, ele pediu ao Pai que o livrasse de passar por aquela situação, mas
entendendo sua posição de intermediário entre Deus e o homem, foi fiel até o
fim, pagando com o seu sangue o preço da nossa redenção.
Paulo disse que a vontade de
Deus é a nossa santificação (1Ts 4.3). Santificação é a separação do pecado,
logo, foi com esse intuito que Deus enviou Jesus para fazer o pagamento pelo
nosso resgate (o seu sangue em troca de nos resgatar do pecado), conforme nos indica a leitura de Marcos 10.45: “Porque
o filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a sua vida em resgate de muitos.”
Uma vez libertos do
sequestrador, o tal bandido não terá mais domínio sobre o sequestrado. A mesma
coisa o apóstolo Paulo afirma sobre as pessoas que viviam debaixo do pecado e
quiseram ser remidas (resgatadas) por Deus, através do sangue de Jesus. Em João
8.36 lemos o seguinte: “Se, pois o Filho (Jesus) vos libertar, verdadeiramente
sereis livres”. E o apóstolo Paulo faz sua admoestação (advertência) dizendo
aos irmãos da Galácia: “Irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então
da liberdade para dar ocasião a carne” (Gl 5.13). Pedro, no entanto, faz outra
advertência aos irmãos, dizendo-lhes para viverem como livres, no entanto como servos de Deus (1 Pe 2.16).
Nas palavras de Pedro, subtende-se
outra coisa que muita gente desconhece: No mundo espiritual só existe dois
senhores: Deus e o diabo (1Jo 3.10; 1Jo 5.19). Ao sermos resgatados do pecado
(cujo senhor é o diabo), passamos, automaticamente, a servir a Deus. Em Romanos
10.9, o apóstolo Paulo coloca como condição para a salvação a confissão de que Jesus
é o nosso senhor. Por outro lado quem não o confessa, indiretamente confessa-se
servo do diabo, segundo o que escreveu João: “Quem pratica o pecado é do diabo”
(1 Jo 3.8,10).
O pastor argentino Juan Carlos
Ortiz diz em seu livro “O Discípulo” que ao aceitarmos ser salvos por Cristo não
significa que ficaremos livres de “senhorio”, apenas trocamos de senhor, isto
é, deixamos um senhor que nos sobrecarrega e passamos a servir outro cujo jugo
é suave e o fardo é leve (Leia Mateus 11.29,30).
Deus nos resgatou do pecado
(e consequentemente, do diabo, porque o pecado pertence a Ele), e ao aceitarmos
a salvação enviada por Deus (o sangue de Jesus), aceitamos ao mesmo tempo
servi-lo.
Sinto muito, mas você não
pode ser seu próprio senhor. Por isso, Jesus designou seus discípulos a pregar
o Evangelho, dizendo: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer
será condenado.” Condenado a quê? A ser eternamente servo do adversário de
nossas almas que nos subjuga através do pecado, e sofrer as consequências dessa escolha (o inferno é uma delas, pois, segundo a Bíblia ele é real).
Ser salvo por Cristo significa servir a um
senhor capaz de dar a sua vida em resgate da nossa, prometendo-nos levar de
volta ao Deus Amor que nos oferece vida com abundância, pois, ao final de nossa vida terrestre, nos premia com um lugar de glória, o céu. Veja suas palavras
descritas em apocalipse 3.20: “Eis que estou à porta, e bato; Se alguém ouvir a
minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele, e ele comigo.”
Jesus te dá a chance de
aceitar seu senhorio em troca de te resgatar do pecado que te oprime. Ele já
pagou o preço do resgate agora só depende de você responder a sua pergunta: “Você
quer ser salvo?” É pegar ou largar.
Com amor,
Em Cristo Jesus,
Leila Castanha
03/2015