domingo, 21 de maio de 2017

PODE O CRISTÃO NÃO TRABALHAR NA OBRA DE DEUS?


imagem de sanwen.net

   Quando aceitamos a Jesus devemos ter consciência de que, em suma, o aceitamos como nosso Salvador e Senhor. Estes dois “cargos” de Cristo devem estar interligados, visto que Ele só pode ser Salvador daquele que o recebe por seu Senhor, e vice-verso,  conforme observamos em Hebreus 5.9: “Ele é o autor da salvação de todos os que lhe obedecem” . Em Romanos 6.22, o apóstolo Paulo afirma que “agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes a vida eterna”.  O próprio Jesus afirmou que se quisermos ser seus amigos devermos fazer o que Ele nos manda (João 15.14).
Por isso, é errado o cristão pensar que pode fazer o que quiser. O pastor argentino Juan Carlos Ortiz, ao citar o texto de Mt 11.28, ele ressaltou que, quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador não nos tornamos senhores de nossas vidas, mas apenas fazemos uma troca: livramo-nos do senhorio do diabo e passamos a ser servos de Cristo.  Ele nos livra do jugo do adversário, mas em seu lugar ele coloca sobre nós o seu jugo, que é suave. Ele arranca de sobre nós o fardo pesado que nos oprime e no lugar dele nos dá o seu fardo, que é leve. Ou seja, a ideia aqui é: livramo-nos do nosso antigo senhor, mas continuamos a ser servos.
Assim sendo, como servos de Cristo, devemos obediência a ele. Dessa feita, não podemos decidir se vamos servi-lo nos bancos da igreja ou se vamos trabalhar em prol da Sua obra. O cantor Alceu Pires compôs um hino cuja letra diz que “membro de banco é prego e parafuso”. Na verdade, uma vez servindo a Jesus, temos a obrigação de trabalhar para Ele, propagando o Evangelho e ajudando-nos uns aos outros a fim de alcançarmos o nosso alvo final.
 A própria palavra “cristão” não condiz com a condição de “ficar parado”, porque esse vocábulo significa “seguidor de Cristo”.  Ao seguir os passos de Jesus observamos que Ele costumava repetir aos seus discípulos que sua missão era fazer a obra de Deus enquanto estivesse na Terra, e Ele passou sua curta temporada terrena trabalhando em prol de cumprir a vontade do Pai (Jo 4.34; 6.38; 9.4).
Ao referir-se aos cristãos, Jesus sempre enfatizava a importância do trabalho. Vemos isso, por exemplo, nas parábolas dos dez talentos, dos dois servos e dos trabalhadores (Mt 20. 1-16;  25.14-30; 24.45-51). Percebemos nestas parábolas, dentre outras coisas, que Cristo refere-se ao seu povo como alguém designado a trabalhar na Sua obra. Ao preparar-se para voltar ao céu, ele ordenou aos seus discípulos a trabalharem incansavelmente na propagação do Evangelho, prometendo-lhes que  lhes ajudaria (Mt 28.19-20; Mc 16.15).
Para Jesus não há discípulo fora do campo de trabalho, de maneira que ele próprio afirmou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. A própria frase “negue-se a si mesmo”, já nos induz a compreensão de que não temos direito de fazer o que quisermos. Além disso, a expressão “segue-me”, por si mesma, já denota a ideia de ação. Cristão é aquele que age, imitando a Cristo. A partir dessa compreensão podemos entender facilmente as seguintes palavras do apóstolo  João: “Aquele que diz que está nele, deve andar como ele andou” (1 Jo 2.6).
 O interessante é que muitas pessoas ao tornarem-se cristãs querem que Jesus os siga e faça-lhes todas as vontades. Começam a “decretar”, ao invés de pedir, supondo que, sendo filhos de Deus, ele lhes dará tudo o que quiserem. Mas a pregação de Cristo era bem diferente disso: somos nós que devemos obedecer-lhe, seguindo-lhes os passos, conforme ele mesmo nos ensinou, na oração do Pai Nosso: “Seja feita a tua vontade...”, ou como  Tiago disse, em sua epístola (carta): “Se Deus quiser faremos isso ou aquilo”.
O apóstolo Paulo entendeu bem essa realidade da vida cristã, de maneira que certa vez afirmou: “Já estou crucificado com Cristo, já não vivo eu, Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Afinal, quem ainda vive para si não pode ser servo de Deus, porque, em primeiro lugar, o servo não faz o que quer, mas vive para cumprir a vontade de seu senhor. E, por isso, a ordem de Cristo, o nosso Senhor é: “Buscai primeiro o Rei dos Céus e a sua justiça”. 
Na verdade, é impossível Deus ficar no controle quando nós ainda lideramos as nossas vidas. Deus não precisa de nós para fazer nada, pois a Bíblia nos dá exemplos disso ao mostrar-nos histórias como a de Balaão, na qual a jumenta falou com o profeta (Nm 22.28), ou a narrativa de Elias, a quem Deus alimentou usando corvos (1 Rs 17.6), ou o livramento de Israel por meio das águas do mar vermelho que engoliram o poderoso exército de Faraó (Ex 14.27,28) etc.
Jesus, sendo nosso exemplo, viveu na Terra com a única preocupação de agradar a Deus, de forma que afirmou: “Eu não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.35). Em outra ocasião ele orou, dizendo: “Pai glorifica o teu nome” (Jo 12.27, 28). No Getsêmane, sua oração foi a mesma: “Não faça a minha, mas a tua vontade” (Lc 22.42). Ao afirmar: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16.18), Jesus deixou claro que ele é o cabeça, pois a igreja está firmada nele, que é a pedra principal (Ef. 2.20), ou seja, não há Igreja sem Ele.
Em sua conversa com seus discípulos, registrada no livro de S. João 15. 8, Jesus diz que Deus é glorificado quando damos muito fruto. No entanto, no capítulo 12. 24 do mesmo livro, Cristo revela que “se o grão não morrer ficará ele só, não nascem novos frutos”. Seguindo essa analogia, Jesus ordena que todo dia carreguemos nossa cruz, ou seja, doemos nossa vida a fim de resgatar outras. O que doamos já não nos pertence, por isso as palavras de Paulo “a vida que vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus...”(Gl 2.20b).
O verdadeiro cristão não é apático (desinteressado), ele se preocupa com tudo que diz respeito ao Reino de Deus. A salvação do povo é preocupação constante do verdadeiro servo de Cristo. Não a salvação futura, apenas, mas a nova vida que todos podemos gozar com nosso Senhor a partir daqui. A Bíblia está cheia de exemplos de homens de Deus que, ao invés de preocuparem-se apenas consigo mesmos, sofriam pensando no povo.
Gideão era uma desses homens. Certa vez ao inquirir de Deus o motivo pelo qual os midianitas estavam apossando-se de sua terra, disse-lhe: “Se o Senhor está conosco porque nos sobreveio este mal?” (Jz 6.13). Perceba que ele não falava só dele, mas de todo o seu povo. Davi também se irou ao ver Golias afrontando o seu povo: “Quem é esse incircunciso que está afrontando os exércitos do Deus vivo?” (1 Sm 17.26) Ele não estava incomodado só por ele, mas irritou-se pela humilhação que todo o seu povo sofria. Neemias também pensou no seu povo desprotegido quando decidiu erguer os muros de Jerusalém (Nee 1.2-7,10). Moisés não aceitava ver o seu povo sendo açoitado e escravizado pelos egípcios, com quem vivia, e tentou ajudá-los (Ex 2). Até mesmo quando os liderava chegou a rogar pelo perdão deles, a ponto de negociar a própria salvação (Ex 32.32). Jesus, o nosso maior exemplo, chorou ao ver a situação de Jerusalém (Lc 19.41-44).
Deus quer que o seu povo esteja inconformado com a situação da humanidade, mas têm muitos cristãos que, ao invés de trabalhar por resgatar as milhares de almas das mãos do adversário, estão conformados com este mundo (Leia Rm 12.2).
Assim como Moisés vivia no Egito, mas sabia que não pertencia àquela Terra, assim devemos estar conscientes que estamos nesse mundo, mas nosso lar não é aqui. Nossa função como seguidores de Cristo é resgatar as almas perdidas e encaminha-las à proteção divina.
Por isso, eu afirmo: Não dá para ser cristão sem seguir o Mestre. Ou seja, não dá para ser discípulo de Jesus só indo à Igreja cultuar, e não trabalhando na propagação do Reino de Nosso Senhor. Afinal, a instrução de Paulo é que somos soldados, e devemos estar pronto para investir contra o Adversário, em resgate das almas perdidas (Ef 6.11-18).
Que Deus em Cristo nos desperte para cumprirmos a nossa missão como cristãos.
Na paz do Senhor Jesus,
Leila Castanha

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