domingo, 21 de maio de 2017

O CRISTÃO DEVE COMEMORAR A PÁSCOA?

imagem de cristãos kids

Na liturgia judaica, páscoa é a festa na qual  os judeus comemoram anualmente celebrando a libertação do povo de  Israel da escravidão do Egito. Segundo a Bíblia, o povo de Israel reunia-se anualmente, em Jerusalém, para comemorar a páscoa no mês primeiro, aos 14 do mês, no crepúsculo da tarde” (Ex 12.2).
Pelo fato de a Páscoa assinalar um novo começo para Israel, o mês que ela ocorreu (março / abril em nosso calendário), tornou-se o primeiro dos meses de um ano novo para a nação.
A páscoa devia ser observada por todos os israelitas (Ex 12), inclusive Jesus, sendo judeu,  também a celebrava (Mt 26.19; Jo 2.23). A refeição da páscoa consistia de um cordeiro assado ou um cabrito, pães asmos (pão sem fermento) e ervas amargas.
A origem do nome é devido a passagem do anjo por cima das casas que tinham o sangue aspergido nos umbrais de suas portas. (Leia Ex 12.7-13). Parte do sangue do cordeiro sacrificado, os israelitas deviam aspergir nas duas ombreiras e na verga da porta de cada casa. Quando o destruidor passasse por aquela terra, ele passaria por cima das casas que tinham sangue em seus umbrais (daí o termo Páscoa , do hebraico "pessach", que significa  “passar por cima”, “poupar”, “passagem”). Por outro lado, os egípcios foram alcançados pela punição divina, e o "anjo da morte" tirou a vida de todos os seus primogênitos.
Toda a comida utilizada na festa da páscoa tinha um simbolismo próprio. Os pães asmos, por exemplo, simbolizava a pureza, pois Israel deveria ser um povo separado dos demais.  Pães asmos são pães sem fermento. As ervas amargas simbolizavam a escravidão no Egito, é um modo do povo nunca se esquecer que Deus os tirou do sofrimento da escravidão, pois eles não tinham a sua própria pátria, e serviam ao rei egípcio. O cordeiro assado é símbolo de sacrifício, pois o sangue do animal serviu de substituto pela morte do filho primogênito de cada família (Leia Ex. 12.27 e Hb 9.22).
Na liturgia cristã, a páscoa comemorada pelos judeus não tem qualquer sentido representativo. Em seu lugar celebramos a Santa Ceia que é um memorial da morte de Cristo para nos salvar da condenação eterna. Os rituais judaicas encontrados  no Antigo Testamento são sombras das coisas futuras, ou seja,  representavam algo que deveria acontecer mais a frente (Leia Cl 2. 16,17; Hb 10.1). 
Ao lermos sobre a páscoa judaica e seus rituais, nos transportamos em pensamento à Cristo, que é a nossa Páscoa (passagem, acesso à salvação) - (1 co 5.7). Ele representa para nós, cristãos, o que a páscoa representa para o povo judeu. Assim como o cordeiro, cujo sangue serviu para espargir nas portas, livrando os seus moradores do castigo de Deus, Jesus é o Cordeiro de Deus que livra da condenação eterna os que aceitarem o seu sangue remidor (Jo 1.36). Assim como o cordeiro da páscoa deveria ser sem mancha, o apóstolo Pedro faz analogia com o cordeiro pascoal, dizendo que fomos comprados com o precioso sangue de Cristo, como o de um cordeiro imaculado (sem mancha). Os romanos tinham talento para a lei e a justiça e representavam o poder judicial mais alto do mundo, e eles inocentaram Jesus, através de Pilatos, ao dizer as seguintes palavras: "Não acho nele crime algum"(Jo 19.4-6).  O apóstolo Paulo também faz alegoria entre a Páscoa e Cristo, dizendo aos cristão que estamos sem fermento (sem mistura, santificados, separados),  e que Cristo, nossa páscoa (nossa passagem, nosso acesso à salvação)  foi sacrificado por nós (1Co 5.7). Em relação ao cordeiro, a Bíblia conta que Cristo entregou-se  à morte como um cordeiro mudo (Is 52.7; Mt 20. 28; 26.56).
O objetivo central da comemoração da páscoa é fazer os judeus relembrarem-se do livramento que Deus lhes deu, quando da opressão do Egito, onde serviam como escravos. (Dt 7.7,8). Da mesma forma a Santa Ceia, que foi instituída por Jesus, serve para relembrar aos cristãos o livramento que Deus nos deu através do sangue de  Cristo espargido  na cruz do Calvário (Lc 22.17-20; 1Co 11. 23-26; Ef. 2.11-13; Tt 3.4, 5).
Jesus recomendou aos discípulos que participassem da Ceia em memória dele, ou seja, lembrando-se da libertação  que Deus, por meio dele, nos proporcionou. Da mesma forma como o povo de Israel participa da Páscoa em memória da sua libertação do Egito, lembrando-se do que Deus, por meio de Moisés, fez por eles.
Páscoa, no seu sentido original, nada tem a ver com ovo de chocolate, ou com coelhinho. Os ovos de chocolate foi uma invenção do comércio para aumentar suas vendas. Na realidade, a páscoa apresentada no Antigo Testamento,   é um memorial perpétuo entre Deus e Israel para que eles nunca se esqueçam do amor e poder de Deus em seu favor, lembrando-se por meio dos pães asmos, que eles não podem se misturar com o paganismo de outras nações, por meio das ervas amargas, que eles se lembrem o quanto sofreram por terem rejeitado a Deus, e,  por meio do cordeiro assado, eles se recordem de que Deus não permitiu que o sangue deles fossem derramado, providenciando-lhes um escape pelo sacrifício do cordeiro, que substituiu o sangue de seus filhos. O cordeiro, que apontava para o seu próprio Filho, que Ele daria em sacrifício em nosso lugar.
E  para nós, cristãos,  que não pertencemos à nação judaica,  resta-nos a Ceia do Senhor, para lembrar-mo-nos de seu sacrifício e tudo o que ele implica para nós: separação da contaminação do mundo  e libertação da escravidão do pecado. Cerimônia esta que, a exemplo da Páscoa judaica, deve ser celebrada perpetuamente, isto é,  até que Cristo venha buscar a sua Igreja (1 Co 11. 26).
Espero tê-lo ajudado a entender o significado da páscoa para os judeus, e para nós, cristãos. 

Despeço-me,
 no amor de Cristo,
Leila Castanha


PODE O CRISTÃO NÃO TRABALHAR NA OBRA DE DEUS?


imagem de sanwen.net

   Quando aceitamos a Jesus devemos ter consciência de que, em suma, o aceitamos como nosso Salvador e Senhor. Estes dois “cargos” de Cristo devem estar interligados, visto que Ele só pode ser Salvador daquele que o recebe por seu Senhor, e vice-verso,  conforme observamos em Hebreus 5.9: “Ele é o autor da salvação de todos os que lhe obedecem” . Em Romanos 6.22, o apóstolo Paulo afirma que “agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes a vida eterna”.  O próprio Jesus afirmou que se quisermos ser seus amigos devermos fazer o que Ele nos manda (João 15.14).
Por isso, é errado o cristão pensar que pode fazer o que quiser. O pastor argentino Juan Carlos Ortiz, ao citar o texto de Mt 11.28, ele ressaltou que, quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador não nos tornamos senhores de nossas vidas, mas apenas fazemos uma troca: livramo-nos do senhorio do diabo e passamos a ser servos de Cristo.  Ele nos livra do jugo do adversário, mas em seu lugar ele coloca sobre nós o seu jugo, que é suave. Ele arranca de sobre nós o fardo pesado que nos oprime e no lugar dele nos dá o seu fardo, que é leve. Ou seja, a ideia aqui é: livramo-nos do nosso antigo senhor, mas continuamos a ser servos.
Assim sendo, como servos de Cristo, devemos obediência a ele. Dessa feita, não podemos decidir se vamos servi-lo nos bancos da igreja ou se vamos trabalhar em prol da Sua obra. O cantor Alceu Pires compôs um hino cuja letra diz que “membro de banco é prego e parafuso”. Na verdade, uma vez servindo a Jesus, temos a obrigação de trabalhar para Ele, propagando o Evangelho e ajudando-nos uns aos outros a fim de alcançarmos o nosso alvo final.
 A própria palavra “cristão” não condiz com a condição de “ficar parado”, porque esse vocábulo significa “seguidor de Cristo”.  Ao seguir os passos de Jesus observamos que Ele costumava repetir aos seus discípulos que sua missão era fazer a obra de Deus enquanto estivesse na Terra, e Ele passou sua curta temporada terrena trabalhando em prol de cumprir a vontade do Pai (Jo 4.34; 6.38; 9.4).
Ao referir-se aos cristãos, Jesus sempre enfatizava a importância do trabalho. Vemos isso, por exemplo, nas parábolas dos dez talentos, dos dois servos e dos trabalhadores (Mt 20. 1-16;  25.14-30; 24.45-51). Percebemos nestas parábolas, dentre outras coisas, que Cristo refere-se ao seu povo como alguém designado a trabalhar na Sua obra. Ao preparar-se para voltar ao céu, ele ordenou aos seus discípulos a trabalharem incansavelmente na propagação do Evangelho, prometendo-lhes que  lhes ajudaria (Mt 28.19-20; Mc 16.15).
Para Jesus não há discípulo fora do campo de trabalho, de maneira que ele próprio afirmou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. A própria frase “negue-se a si mesmo”, já nos induz a compreensão de que não temos direito de fazer o que quisermos. Além disso, a expressão “segue-me”, por si mesma, já denota a ideia de ação. Cristão é aquele que age, imitando a Cristo. A partir dessa compreensão podemos entender facilmente as seguintes palavras do apóstolo  João: “Aquele que diz que está nele, deve andar como ele andou” (1 Jo 2.6).
 O interessante é que muitas pessoas ao tornarem-se cristãs querem que Jesus os siga e faça-lhes todas as vontades. Começam a “decretar”, ao invés de pedir, supondo que, sendo filhos de Deus, ele lhes dará tudo o que quiserem. Mas a pregação de Cristo era bem diferente disso: somos nós que devemos obedecer-lhe, seguindo-lhes os passos, conforme ele mesmo nos ensinou, na oração do Pai Nosso: “Seja feita a tua vontade...”, ou como  Tiago disse, em sua epístola (carta): “Se Deus quiser faremos isso ou aquilo”.
O apóstolo Paulo entendeu bem essa realidade da vida cristã, de maneira que certa vez afirmou: “Já estou crucificado com Cristo, já não vivo eu, Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Afinal, quem ainda vive para si não pode ser servo de Deus, porque, em primeiro lugar, o servo não faz o que quer, mas vive para cumprir a vontade de seu senhor. E, por isso, a ordem de Cristo, o nosso Senhor é: “Buscai primeiro o Rei dos Céus e a sua justiça”. 
Na verdade, é impossível Deus ficar no controle quando nós ainda lideramos as nossas vidas. Deus não precisa de nós para fazer nada, pois a Bíblia nos dá exemplos disso ao mostrar-nos histórias como a de Balaão, na qual a jumenta falou com o profeta (Nm 22.28), ou a narrativa de Elias, a quem Deus alimentou usando corvos (1 Rs 17.6), ou o livramento de Israel por meio das águas do mar vermelho que engoliram o poderoso exército de Faraó (Ex 14.27,28) etc.
Jesus, sendo nosso exemplo, viveu na Terra com a única preocupação de agradar a Deus, de forma que afirmou: “Eu não vim para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 6.35). Em outra ocasião ele orou, dizendo: “Pai glorifica o teu nome” (Jo 12.27, 28). No Getsêmane, sua oração foi a mesma: “Não faça a minha, mas a tua vontade” (Lc 22.42). Ao afirmar: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16.18), Jesus deixou claro que ele é o cabeça, pois a igreja está firmada nele, que é a pedra principal (Ef. 2.20), ou seja, não há Igreja sem Ele.
Em sua conversa com seus discípulos, registrada no livro de S. João 15. 8, Jesus diz que Deus é glorificado quando damos muito fruto. No entanto, no capítulo 12. 24 do mesmo livro, Cristo revela que “se o grão não morrer ficará ele só, não nascem novos frutos”. Seguindo essa analogia, Jesus ordena que todo dia carreguemos nossa cruz, ou seja, doemos nossa vida a fim de resgatar outras. O que doamos já não nos pertence, por isso as palavras de Paulo “a vida que vivo, vivo-a pela fé no Filho de Deus...”(Gl 2.20b).
O verdadeiro cristão não é apático (desinteressado), ele se preocupa com tudo que diz respeito ao Reino de Deus. A salvação do povo é preocupação constante do verdadeiro servo de Cristo. Não a salvação futura, apenas, mas a nova vida que todos podemos gozar com nosso Senhor a partir daqui. A Bíblia está cheia de exemplos de homens de Deus que, ao invés de preocuparem-se apenas consigo mesmos, sofriam pensando no povo.
Gideão era uma desses homens. Certa vez ao inquirir de Deus o motivo pelo qual os midianitas estavam apossando-se de sua terra, disse-lhe: “Se o Senhor está conosco porque nos sobreveio este mal?” (Jz 6.13). Perceba que ele não falava só dele, mas de todo o seu povo. Davi também se irou ao ver Golias afrontando o seu povo: “Quem é esse incircunciso que está afrontando os exércitos do Deus vivo?” (1 Sm 17.26) Ele não estava incomodado só por ele, mas irritou-se pela humilhação que todo o seu povo sofria. Neemias também pensou no seu povo desprotegido quando decidiu erguer os muros de Jerusalém (Nee 1.2-7,10). Moisés não aceitava ver o seu povo sendo açoitado e escravizado pelos egípcios, com quem vivia, e tentou ajudá-los (Ex 2). Até mesmo quando os liderava chegou a rogar pelo perdão deles, a ponto de negociar a própria salvação (Ex 32.32). Jesus, o nosso maior exemplo, chorou ao ver a situação de Jerusalém (Lc 19.41-44).
Deus quer que o seu povo esteja inconformado com a situação da humanidade, mas têm muitos cristãos que, ao invés de trabalhar por resgatar as milhares de almas das mãos do adversário, estão conformados com este mundo (Leia Rm 12.2).
Assim como Moisés vivia no Egito, mas sabia que não pertencia àquela Terra, assim devemos estar conscientes que estamos nesse mundo, mas nosso lar não é aqui. Nossa função como seguidores de Cristo é resgatar as almas perdidas e encaminha-las à proteção divina.
Por isso, eu afirmo: Não dá para ser cristão sem seguir o Mestre. Ou seja, não dá para ser discípulo de Jesus só indo à Igreja cultuar, e não trabalhando na propagação do Reino de Nosso Senhor. Afinal, a instrução de Paulo é que somos soldados, e devemos estar pronto para investir contra o Adversário, em resgate das almas perdidas (Ef 6.11-18).
Que Deus em Cristo nos desperte para cumprirmos a nossa missão como cristãos.
Na paz do Senhor Jesus,
Leila Castanha