segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA DE TIAGO

imagem extraída de https://blog.encontrocomapalavra.com
 

Primeiramente é importante entender que esse livro, em sua origem, foi escrito em forma de carta, daí o nome “espístola”, que é sinônimo de carta. Ela faz parte das chamadas Epístolas Católicas ou Epístolas Universais  ou Epístolas Gerais. Lembre-se de que a palavra Católica significa “geral ou universal”. Qualquer carta ou epístola, com exceção das escritas pelo apóstolo Paulo, recebem essa denominação, porque não foram escritas para uma igreja ou uma pessoa em especial, mas eram cartas circulares, ou seja, eram lidas em várias igrejas. São consideradas Epistolas Universais os seguintes livros: Hebreus, Tiago, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João e Judas.

A Epístola  de Tiago possui 5 capítulos e 108 versículos, e foi escrita em grego eloquente, isto é, não foi no grego vulgar (falado pelo povo). Esse livro contém referências a 22 livros do Antigo Testamento e menciona 15 ensinamentos ministrados por Jesus no sermão do Monte. É provável que esse tenha sido o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito.

Essa carta é considerado como o Provérbios do Novo Testamento, isso porque, assim como o livro de Provérbios, Tiago contém instruções práticas para uma vida cristã e sua escrita é recheada de aforismos (frases curtas que apresentam regras e princípios de natureza moral), e de analogias.  Tiago, assim como Salomão, era um grande observador da natureza pecaminosa do homem e dos fênomenos naturais, os quais utilizava para trazer exortações e ensinamentos sobre a diferença entre a vida cristã prática e o mero conhecimento teórico.   

Sobre o livro é importante relatar que houve discordância em relação  a sua autenticidade, de modo que alguns teólogos  resistiram em concordar que ele fosse incluído no Cânon, por isso a Epístola de Tiago demorou para fazer parte dos livros da Bíblia.

OBSERVAÇÃO: Cânon é o processo pelo qual se examina, por meio de algumas diretrizes preestabelecidas, se um livro é inspirado por Deus ou não.

De início,  Martinho Lutero foi um dos opositores em relação a aceitar a canonicidade dessa carta, inclusive ele o descreveu como “epístola de palha”. Essa denominação ao livro se deu devido a passagem na qual Tiago afirma que a fé só tem valor se for acompanhada de obras (Tg 2). Para Lutero, essa afirmação de Tiago contrariava o ensinamento paulino (do apóstolo Paulo) de que a salvação é adquirida por meio da fé e não das obras (leia efésios 2.8).  No entanto, segundo Ryrie, Lutero não questionou a autenticidade do livro, mas julgava que, em comparação às cartas de Paulo, essa epístola não tinha a mesma utilidade.

Contudo, apesar das objeções, as instruções contidas na carta de Tiago foram compreendidas pelo seu contexto, a saber, as obras são o meio pelo qual a fé, que é invisível, torna-se visível. Assim, a partir desse entendimento, a epístola de Tiago entrou para a lista dos livros canônicos (livros reconhecidos como inspirados pelo Espírito Santo) sendo, desse modo, útil para a orientação da Igreja.

OBSERVAÇÃO: No final da leitrua desse estudo, se você quiser saber quem foi Martinho Lutero é só clicar no link postado abaixo.

O local no qual essa carta foi escrita, embora não apareça referência no próprio livro, acredita-se que foi na Palestina, entre 45-50 d.C. Segundo Shedd, sua autoria data de, aproximadamente, 10 e 15 anos após a morte de Jesus. De acordo com Ryrie, autor de "A Biblia de estudo anotada expandida", essa data não pode ter sido em tempo mais recente devido a falta de menção ao concílio de Jerusalém, que se deu em 49 d.C., a utilização da palavra “sinagoga” (assembleia) no lugar de “igreja” (Tg 2.2) e a ênfase na expectativa da proximidade da volta de Jesus (5.7-9).

 O destinatário (para quem a carta foi escrita) são as 12 tribos dispersas, ou seja, os cristãos israelitas que viviam fora de sua pátria (Tg 1.2,12). A dispersão, também chamada de diáspora, trata da comunidade judaica que, após o exílio babilônico, viveu dispersa entre outros povos, evento que ocorreu entre 586-538 a.C. Esses irmãos dispersos podem ser aqueles que abraçaram o cristianismo no dia do Pentescostes (At 2.5-11) e depois retornaram as suas casas que ficavam em diversos lugares nos arredores do Império Romano, ou também podem ser os cristãos que Tiago conhecia através de suas visitas a Jerusalém nos períodos de festividades (porque nessa época os judeus que viviam em outras partes do Império Romano iam à Jerusalém para participar das festividades judaicas) - leia At 8.1; 11. 19,20; 18.2.

De qualquer modo, certo é que a carta indica que esses cristãos eram judeus e viviam dispersos (fora de sua pátria) e estavam passando por algum tipo de aflição, como também precisavam ser exortados sobre a prática do cristianismo que Tiago salienta que é mais do que apenas o conhecimento da Palavra.

Em relação ao seu autor, há consenso entre um número considerável de autoridades da bíblia, que trata-se do irmão do Senhor, isto é, o meio-irmão de Jesus. O Novo Testamento menciona 4 Tiagos, conforme segue abaixo:

1.            Tiago Maior: filho de Zebedeu, irmão do apóstolo João, um dos apóstolos (Mt 10.2; 17.1; Mc 5.37; 9.2; 14. 32,33; Mc 3.17. Morto por Herodes em 44 d.C. (Atos 12.1,2)

2.            Tiago Menor: filho de Alfeu (Mc 15.40).

3.            Tiago, o pai do apóstolo Judas: não é o Iscariotes (Lc 6.16; At 1.13)

4.            Tiago, irmão do SenhorConhecido também como Tiago “o Justo" (Mc 6.3; Gl 1. 18,19; Jd 1.1; Jo 7.3-5; At 1.13,14; At 12.16,17; 15.12,13; 21.18; Gl 21. 18,19; 2.9). A esse se atribui a autoria da Espístola de Tiago.

Desses quatro, somente Tiago, o filho de Zebedeu e irmão de João, e Tiago o irmão de Jesus, que são propostos como o escritor dessa epístola. No entanto, para alguns biblistas, é improvável que seja o irmão de João (filho de Zebedeu) porque ele foi  martirizado, em 44 d.C. (At 12.2). O fato de alguns teólogos, como Ryrie, apontarem para o meio-irmão de Jesus como sendo o escritor dessa carta apoia-se por ter sido ele um reconhecido  líder da igreja de Jerusalém, onde, inclusive, presidiu o Concílio (At 12.17; 15.13; 21.18). Segundo o mesmo comentarista, também há semelhanças no texto grego entre esta carta e o discurso de Tiago, irmão de Jesus, no Concílio de Jerusalém (veja Tg 1.1 e At 15.23; Tg 1.27 e At 15.20; Tg 2.5 e At 15.13). 

Outra questão levantada pelos que se opõem a ser o irmão de Jesus o autor desse livro, é o fato do estilo linquistico da carta ser muito eloquente, o que não condiz com um lavrador ou pescador, profissões comuns entre os galileus (lembre-se que Jesus e sua família moravam na Galiléia). No entanto, Ryrie afirma que os galileus sabiam falar bem a língua grega, aramaica e hebraica. Por outro lado, Koniings, Krull e Mareano  salientam que naquele tempo era costume outra pessoa escrever em nome do autor do texto, de modo que não invalida o fato de o escritor de Tiago ser o irmão de Jesus.

Outro fato interessante respeito desseTiago é que ele era  irmão de Judas (autor da epístola de Judas). Ambos eram meio-irmãos de Jesus - Leia Mt 13.55; Mc 6:3 e Jd 1.1.

A tradição data a morte de Tiago no ano 62. Segundo Flávio Josepho (historiador judeu), Tiago foi apedrejado no sinédrio (tribunal dos antigos judeus). Embora ele fosse amado pelo povo, era odiado pela aristocracia sacerdotal que governava a cidade. O sumo sacerdote Ananias levou Tiago ao sinédrio, sendo ele condenado e apedrejado.  O motivo de sua condenação fora suas posições severas contra a aristocracia que explorava os pobres, e a qual Ananias pertencia (leia suas críticas aos ricos exploradores em Tg 5.1-6).

ASSUNTOS DO LIVRO DE TIAGO

Na espístola de Tiago destacam-se os seguintes temas endereçados aos cristãos: exortação à suportarem e ter alegria nas provações, tirando proveito delas (1.12-13); resistirem às tentações (1.19-27); serem praticantes da Palavra e não somente ouvintes (1.19-27); manifestarem uma fé prática e não uma crença vazia (2.14-26); adverte sobre o uso benéfico da língua (3.1-12); sobre a sabedoria humana (carnal) (3.13-16); o viver pecaminoso (4.1-10); a arrogância (4.13); os ricos opressores (5.1-6); e, por fim ressalta sobre a paciência, a oração e a conversão de pecadores (5.7-20).

 Agora que você já tem uma visão geral sobre a Epístola de Tiago, meu desejo é que sua leitura torne-se mais significativa e que o Espírito Santo te conduza a extrair as pérolas preciosas dos ensinamentos contidos nesse livro que, como você já sabe, é uma carta escrita pelo meio-irmão de Jesus e irmão de Judas. Boa leitura.

No amor de Cristo,

Leila Castanha

04/01/2021


Bibliografia

Bíblia de Estudo Pentecostal: CPAD, 1985.

 KONINGS, Johan; at al. Tiago, Pedro, João e Judas: cartas às comunidades. São Paulo: Edições Loyola, 2019.

RYRIE, Charles C. A Bíblia de estudo anotada expandida: São  Paulo: mundo cristão, 2007.

SHEDD, Russell Philip; BIZERRA, Edmilson Frazão. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.


Leia sobre Martinho Lutero clicando no link a seguir

   https://brasilescola.uol.com.br/historiag/martinho-lutero.htm