TEXTO BÍBLICO: Sl 1.1-6
Apesar de inúmeros ensinamentos que encontramos na Bíblia para nos proteger contra os falsos ensinos, de nada nos valeria sua eficiência e conselhos se nos esquecêssemos deles. Embora muitos cristãos têm crescido frequentando escolas bíblicas, com o passar do tempo de cristianismo, é comum que o primeiro amor se esfrie e a primeira coisa que fazemos quando isso acontece é desprezarmos a leitura da Bíblia. Às vezes, nos conformamos em ouvir alguém pregar e citá-la e, outras vezes, sequer temos desejo de ouvir falarem sobre ela. E, assim, as verdades espirituais que nos sustentam em Deus vão ficando tão apagadas em nossa vida que, com o passar do tempo, mal conseguimos nos lembrar o que está ou não está escrito.
Por isso, refletiremos sobre um método eficaz para não cairmos nos falsos ensinos: embora compreendamos que a leitura e/ou a audição da Bíblia - há pessoas que não conseguem ler - seja o meio eficaz para não cairmos em falsos ensinos, é a constante meditação nela que nos previne de nos desviar das leis de Deus, seja por desconhecimento ou por esquecimento do que está escrito. Deus fala a Josué para ter cuidado de cumprir toda a lei que ele dera a Moisés, e para não se esquecer de seus preceitos, ele deveria meditar neles de dia e de noite - Js 1:8.
A IMPORTÂNCIA DAS REPETIÇÕES PARA SE GUARDAR O QUE ESTÁ ESCRITO
Há cristãos que vivem correndo atrás de novidades e desprezam as antigas crenças porque acham tudo muito repetitivo. No entanto, as repetições são importantes porque servem de reforço para nos ajudar a relembrar os nossos conceitos cristãos.
Como seres humanos que somos, é muito comum nos esquecermos das coisas que não ouvimos em nosso cotidiano. Por esta razão, a Bíblia privilegia as repetições das mensagens do Evangelho de Cristo, e desde o Antigo Testamento o Senhor advertiu aos pais que falassem e insistissem em falar aos seus filhos sobre Ele, em todos os momentos de sua vida (ao deitar-se, sentar-se, levantar-se etc.)
Repetição é a chave para não nos esquecermos da Palavra de Deus e foi o método aplicado pelo próprio Jesus e seus discípulos, conforme observaremos abaixo:
O apóstolo Paulo escreveu aos filipenses (3:1) dizendo-lhes que não se aborrecia de escrever-lhes as mesmas coisas, porque isso era segurança para eles, isto é, as repetições serviriam para firmá-los ainda mais na verdade do Evangelho que Paulos havia lhes pregado.
No Antigo Testamento, que era o antigo pacto de Deus com Israel, encontramos um livro cheio de repetições das leis, denominado Deuteronômio, cujo significado é “Segunda Lei”. Não se tratava de novas leis, mas, a maioria delas eram repetições da primeira que fora dada à primeira geração que saiu do Egito.
O livro de Deuteronômio foi escrito para a nova geração de hebreus que estava quase entrando na Canaã prometida. A cada sete anos todos os hebreus deveriam se juntar para ouvir a leitura desse livro - Dt 31. 10-12.
Certamente, o apóstolo Paulo, tendo sido aluno de um dos maiores mestres de sua época, chamado Gamaliel - At 22. 3; 5: 34 - aprendeu essa didática da repetição. Além disso, como ele mesmo afirmava, era um imitador de Cristo - 1Co 11. 1 - cuja metodologia também era pautada nas repetições. Sendo discípulo de dois grandes mestres - Gamaliel e do mestre dos mestres, Jesus - o apóstolo aos gentios sabia bem a importância das repetições em seus ensinos. Veja o que ele disse aos irmãos filipenses (da cidade de Filipos) e aos tessalonicenses (da cidade de Tessalônica): “Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas...” (Fp 3. 1) e “Muitos há, dos que, muitas vezes vos disse , e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” Fp 3: 18. Observe: Paulo já havia dito isso muitas vezes, e disse-lhes que estava dizendo de novo.
Em sua primeira carta aos irmãos de Tessalônica (os tessalonicenses), ele disse: “Vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor”, e, em seguida, ele repete cada um dos mandamentos que havia lhes ensinado (1 Ts 4. 2, 3). Quando escreve sua segunda carta a essa mesma igreja, o apóstolo Paulo novamente usa a didática da repetição para relembrar os irmãos do que lhes havia instruído em tempos anteriores: “... Não vos lembrais de que vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco?” - 2 Ts 2. 5 - e, assim, Paulo repete tudo o que já havia ensinado.
Pedro também aplicou esse método de ensino, como observamos abaixo: “Por isso não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais... Mas também eu procurarei em toda a ocasião que depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas.” (2 Pe 1.12-15) Observe que Pedro repetia as mesmas coisas com medo de, após morrer, os irmãos se esquecessem do que lhes ensinara.
João, por sua vez, também escreveu o seguinte: “Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes.” - 2 Jo 2: 7. O livro de 2 S. João é cheio de repetições de sua primeira carta. Novamente na segunda epístola (carta), o apóstolo João faz sua pregação repetindo os fundamentos da fé: “Porque esta é a mensagem que desde o princípio ouvistes: Que vos ameis uns aos outros.” - 2 Jo 3: 11.
A ADVERTÊNCIA DE JESUS AOS SEUS DISCÍPULOS (ALUNOS):
“E chegando-se Jesus falou-lhes dizendo: ...Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações (...). Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado (...) - Mt 28: 18-20
Observe: O papel dos discípulos não era apenas de pregar o Evangelho, mas de ensinar os novos discípulos a guardar tudo o que Jesus mandou. E para tanto, o método mais eficiente para isso era e ainda é as repetições.
E isso não é tática apenas dos cristãos, mas em instituições de ensino é comum o uso das repetições para que os educandos possa guardar o que lhes foi ensinado. No site *Gazeta digital, em um artigo da autoria de uma doutora e mestre em Psicanálise, ela afirma que, conforme estudos relacionados ao tema da repetição "é pela repetição dos estímulos que a aprendizagem acontece, pois, as conexões neurais tornam-se fortalecidas, devido o aumento do potencial de ação da célula especializada do sistema nervoso, o neurônio". Ela ainda assevera que "Quanto mais se repete a ação, mais consolidada é a reação entre as células neuronais".
No ensino regular, por exemplo, a maioria das pessoas aprendem a conjugar os verbos e depois, por não usá-los diariamente, visto que costumamos nos comunicar mais pela linguagem informal, esquecem-nos, principalmente daqueles que dificilmente usamos, como é o caso do pretérito mais-que-perfeito (eu fizera, tu fizeras etc.).
Determinadas músicas, quando estão no auge do sucesso, são tão repetidas no rádio e televisão que grudam em nossa cabeça como chicletes. Porém, passando-se a época de sucesso elas param de tocar e, anos depois, percebemos que só lembramos de parte delas, e, finalmente, apenas de algumas palavras. A falta de ouvi-las fez nossa mente esquecê-las.
Assim também se dá na questão dos ensinamentos bíblicos: Precisamos estar sempre sendo lembrados dos primeiros rudimentos da nossa fé para que não venhamos nos desviar do nosso foco que é Cristo. A falta de repetição dos princípios cristãos tem levado muitas igrejas a se tornarem mornas, cheias de religiosidade, além de levar alguns líderes a permitirem práticas mundanas, em nome da modernidade, quando, na verdade, muitos deles sequer se lembram se suas atitudes condizem ou não com o que está escrito nas Escrituras.
É importante termos consciência de que jamais podemos deixar de ouvir temas sobre:
a. A santificação, porque sem ela “ninguém verá Deus” - Hb 12. 14;
b. O fruto do Espírito, que é a prova de que estamos vivendo em santificação - Gl 5: 22;
c. A fé, sem a qual “é impossível agradar a Deus” - Hb 11.6
d. O amor, que é o maior mandamento - Jo 15. 12
Além de outros temas de igual importância.
Estes e outros assuntos priorizados pela Palavra de Deus são essenciais à fé cristã, e sem a lembrança deles não há cristianismo, mas apenas religiosidade morta, formalismos e rituais vazios, dos quais Deus já havia advertido seu povo que Ele nunca lhes exigiu isso, antes, e já se cansou de os sofrer, conforme observamos no primeiro capítulo do livro de Isaías.
Culto onde se preza a liturgia ao pé da letra, mas é destituído de seu espírito - do motivo central que o move- para Deus não passa de solenidades vazias, não havendo nada de santo (separado) nisso. Leia Isaias 1 e saiba o que Deus pensa de tais cultos.
Para não corrermos o risco de nossos templos se tornarem apenas um lugar para rituais religiosos, precisamos lembrar aos irmãos, e também sermos constantemente lembrados, sobre o que Deus espera de nós, enquanto seus servos. Nunca poderemos parar de ouvir e ler nas Escrituras sobre as verdades fundamentais da fé, pois isso seria o mesmo que tentarmos fazer um bolo do qual ouvimos há alguns anos, e nos esquecermos de alguns ingredientes essenciais à receita. Pode até sair um bolo, mas certamente será outro, diferente do que esperávamos, por não termos os produtos necessários para a sua composição.
Portanto, querido irmão, não nos cansemos de relembrar e de ensina aos outros acerca dos antigos mandamentos do Senhor, que desde o princípio temos ouvido.
No amor de Cristo Jesus,
Leila Castanha
05/2014
BIBLIOGRAFIA
BÍBLIA SAGRADA, NVI
*Aprende-se pela emoção e repetição | Gazeta Digital - Dra Marta Relvas