Ao
lermos este texto, especialmente este versículo, a primeira vista, parece-nos
que a vontade de Deus não é predominante, mas a nossa. Para melhor
entendermos esta declaração de Jesus levaremos em consideração alguns pontos, a
saber:
1º)
A quem foi dirigida esta palavra?
Nos versículo
20,21, descobrimos que o alvo deste discurso eram os discípulos de Cristo.
Para melhor chamar sua atenção diferenciarei (com itálico) as palavras
em que pretendo que você visualize. O texto citado diz o seguinte:
“E os
discípulos, vendo isto, maravilharam-se dizendo: Como secou imediatamente a
figueira?
Jesus, porém,
respondendo, disse-lhes (...)”.
Aqui,
percebemos que Jesus não falou com qualquer pessoa, mas exclusivamente com seus discípulos
(disse-lhes). Uma vez entendido isto
devemos igualmente compreender o significado da palavra “discípulo”.
Conforme nos informa a Grande Enciclopédia Larousse Cultural,
“discípulo” deriva do latim discipulus (aluno), de discere (aprender). Logo, o
texto o qual estamos analisando foi um discurso proferido por Jesus aos seus
“alunos”.
2º)
Não podemos nos esquecer de que para Jesus, o significado de “aluno”
ou “discípulo”, não era simplesmente uma pessoa que aprendia com
ele, mas que apreendia, isto é, que realmente era capaz de colocar
seus ensinamentos em prática. Observamos esta afirmativa em Jo 8.31:
“Jesus dizia, pois aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes
na minha palavra, verdadeiramente sereis meus
discípulos.” (itálico meu).
As
palavras grifadas têm o intuito de chamar sua atenção à condicional (se),
e a expressão “sereis”, que nos indica que, apesar daqueles judeus
crerem nele e estarem presentes quando proferia seus ensinamentos, Jesus
disse-lhes que eles seriam considerados seus discípulos "se"
permanecessem em sua palavra, isto é, se fossem praticantes e não apenas
ouvintes.
Tiago,
um dos discípulos que participara desses maravilhosos ensinamentos, diretamente
proferidos pelo Mestre Jesus, bem aprendeu a lição de forma que repetiu
esta verdade anos depois em sua carta:
"E sede cumpridores da palavra e não somente
ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque se alguém é ouvinte da
palavra e não cumpridor, é semelhante ao homem que se contempla ao espelho o
seu rosto natural (...) e vai-se e logo se esquece de como era". (Tg
1.22-24)
Observe
que a permanência em obedecer a Sua Palavra era o
fator pelo qual Jesus reconhecia quem era seu discípulo. Não importava
quantas vezes alguém assistisse a suas
"aulas". Discípulo, na visão de Jesus, era aquele
que o seguia, aquele que andava como ele andou.
Não
há dúvida de que os discípulos daquela época compreendiam bem o
que Cristo falou quando usou o termo “tudo quanto pedirdes”, e, de maneira
alguma levaram esta permissão de forma generalizada.
Certamente
sabiam que seus pedidos deveriam estar em plena concordância com os ensinamentos
do Mestre, que por sua vez, estava em concordância com o Pai.
João,
outro discípulo de Jesus que também aprendera pessoalmente com Ele, transmitiu
no capítulo 15 de seu livro um dos ensinamentos que ouvira do próprio Cristo,
nos quais Jesus apontava as condições para que esta promessa, de Mt
21.22, fosse cumprida: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras
estiverem em vós, pedireis tudo o que quiseres, e vos será feito.” (Jo 15.7).
Baseados
neste texto nós podemos observar as seguintes condições:
1ª)
Para recebermos “tudo” o que pedirmos em oração, existe uma condicional
representada pelo termo “se”: “Se estiverdes em mim e as
minhas palavras estiverem em vós...”
2ª)
Não bastava aprender ou saber o que Ele ensinou, mas o Mestre deixou como
condição para atender nossas orações o fato de “A sua Palavra estar em
nós”.
Façamos
uma pausa nestas observações e nos detenhamos em entender o que de fato
representam estas exigências de Cristo.
A. Se
vós estiverdes em mim: Esta frase é muito mais profunda do que aparenta
ser. O apóstolo Paulo explica esta expressão dizendo o seguinte: “Assim, se
alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, eis
que tudo se fez novo.” (2 co 5.17). (itálico meu)
Bem, de um lado vemos
Jesus exigindo: "Se vós estiverdes em mim...", enquanto que, de
outro, o apóstolo Paulo explica como sabemos se estamos em Jesus: "Se
alguém está em Cristo, nova criatura é as coisas
velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”.
Uma vez compreendido isso,
podemos entender melhor a declaração de Cristo, utilizando a
linguagem do apóstolo. Assim sendo, leríamos esse texto da seguinte forma:
"Se
vocês se tornarem nova criatura, ou seja, deixando as coisas velhas para trás,
e vivendo em novidade de vida, tudo o que pedirem em oração, crendo,
recebereis.”
Se isso
ainda não lhe foi suficiente para entender as palavras paulinas, no
versículo 15 desse mesmo texto ele explica ainda mais o
que pretendia dizer com a expressão “nova criatura”: Observe o que Paulo
diz: “E Ele morreu por todos para que os que vivem, não vivam mais para
si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. (Itálico meu)
Vemos,
portanto, que segundo o apóstolo Paulo “estar em Cristo”, implica em
“viver para Ele, e não mais para si mesmo”, ou seja, deixar o velho homem
juntamente com as coisas passadas e viver em novidade de vida (uma vida nova,
diferente da anterior), voltando todos os seus esforços para agradar a Cristo.
Foi isso o que aconteceu com o próprio Paulo quando este se converteu ao
Evangelho:
“Já
estou crucificado com Cristo, e vivo, não mais eu, mas
Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do
Filho de Deus...”(Gl 2.20). (itálicos meus).
Percebe
qual a primeira condição para que todos os nossos pedidos sejam atendidos?
Pois é,
primeiramente devemos morrer para nós mesmo e passar a viver para a glória de
Deus.
B) A
segunda condição para que “tudo” quanto pedirmos em oração Deus nos conceda, de
acordo com o que o próprio Jesus ensinou, é a sua palavra estar em
nós (Jo 8.22).
Por
que Jesus exigiu que guardássemos em nós a sua palavra?
No
evangelho segundo S. João, encontramos esta explicação nas próprias palavras de
Cristo, o qual diz: “Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai que me
enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de
falar” (Jo 12.49).
Compreendemos
após esta leitura que se Cristo disse que os mandamentos que nos deu (Isto é, a
Sua Palavra), foram enviados por Deus e ele apenas os transmitira, fazer
o que ele ensinou, é, portanto, fazer a vontade de
Deus.
Anos
mais tarde, o apóstolo João relembrou aos irmãos a importância de orarmos
prezando a vontade divina, tal qual Cristo ensinou na oração do Pai Nosso,
descrita em Mateus 6.10. O apóstolo João disse: “E
esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa,
segundo a sua vontade, ele nos ouve”. (1Jo 5.14)
Observamos
nesses dois textos, um falado por Jesus e outro por seu discípulo João, que
outro fator importantíssimo para que "tudo" que pedirmos em oração
seja respondido por Deus é pedir "segundo a vontade Dele". E
como sabemos se pedimos algo segundo a vontade de Deus?
Vejamos o que diz o
apóstolo S.João:
“Amados, se
o nosso coração nos não condena, temos confiança para com Deus; E qualquer
coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos; porque guardamos os seus
mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua vista. E o seu
mandamento é este: que creiamos no seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos
outros”. (1 Jo 3.21-22)
Percebemos
nesse texto, pelo menos três coisas:
1ª)
Nosso coração não pode nos acusar (condenar): Quando pedimos algo que sabemos
que não agrada a Deus, somos acusados.
2ª)
Só fazemos os pedidos corretos quando guardamos os seus mandamentos
e fazemos o que é agradável aos olhos de Deus.
Porque
se não formos guiados pelo Espírito Santo, iremos querer satisfazer os desejos
da carne (Gl 5.16), e as obras da carne são condenadas por Deus (Gl 5.16-21).
3ª)
Os mandamentos que devemos cumprir para que Deus atenda nossas orações foram
resumidos em dois: Crer no seu Filho Jesus Cristo, e nos amarmos uns aos
outros.
Quando a
Palavra de Deus passa a estar em nós, o apóstolo S. João nos revela
que passamos a imitar os passos de Cristo: "Aquele que
diz que está nele, deve andar como ele andou" (1 Jo 2.6). (itálicos
meus).
E
isso acontece porque quando mantemos contato longo e
mais próximo com uma pessoa, temos a tendência de imitá-la, seja nas
atitudes, modo de andar, falar, etc. O ser humano é facilmente
influenciável porque nascemos para viver em sociedade e aprender uns
com os outros.
E, por causa
dessa influência, causada pela nossa constante exposição à Palavra de
Deus, o apóstolo Paulo fez a seguinte descoberta: “... Nós temos a
mente de Cristo"(1 Co 2.16) (itálicos meus).
Uma
vez tendo a mente de Cristo nossos desejos jamais ferirão a vontade dele,
jamais se chocarão contra a sua Palavra.
Conclusão:
De acordo com os textos que acabamos de analisar, o termo “tudo” a que Jesus se
refere em Mateus 21.22, diz respeito a tudo que for agradável a vista
de Deus, isto é, tudo o que pedirmos segundo a vontade
Dele.
E para
que isso aconteça precisamos abandonar as coisas passadas e vivermos como
novas criaturas, imitando o nosso Mestre e cumprindo os
mandamentos do Pai, que são: crer no seu
Filho Jesus Cristo e amar o próximo como a nós mesmo.
Agora
faça uma análise de sua vida e responda a seguinte questão: Você
está cumprindo estas exigências? Se a sua resposta for “sim”, então,
essa declaração de Cristo também é para você:
“Tudo
o que pedirdes em oração, crendo recebereis” (Mt 21.22).
Um
grande abraço,
Leila
Castanha
06/2013