domingo, 12 de maio de 2024

DEUS PODE SER CONHECIDO?

 

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TEXTO BÍBLICO: Os 6.3

Ao deus desconhecido - At 17. 18-23

Muitas pessoas, nos dias atuais, assim como os atenienses da época do apóstolo Paulo, adoram a Deus sem ao menos o conhecer. Algumas delas, assim como o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), embora não descreiam da existência de Deus, negam a possibilidade de alguém poder conhecê-lo, visto que Deus faz parte de uma dimensão diferente da humana. Para Kant, por exemplo, só podemos conhecer o que somos capazes de ver, ouvir ou experimentar.

Deus é incompreensível -  A impossibilidade de se compreender Deus era defendida pelos teólogos medievais, os quais costumavam citar a seguinte frase: “O finito não pode conter o infinito”.

O teólogo reformado contemporâneo, Sproul, dizia que “nada é mais óbvio que isso - um objeto infinito não pode ser comprimido dentro de um espaço finito”. Com essa afirmação, Sproul corrobora para a ideia de que é impossível compreender Deus, pois ele é um ser superior. No entanto, para conhecermos algo ou alguém não é necessário compreendermos tudo a seu respeito. Nós, seres humanos, por exemplo, não somos de todo compreendido, como é o caso do nosso DNA, que, sendo complexo, não é compreendido pela ciência, mas isso não exclui a possibilidade de sermos entendidos em outras dimensões do nosso ser.

Deus pode e quer ser conhecido: Os 6.3

Oseias alerta o povo de Israel a conhecer e continuar procurando conhecer o Senhor. Por outro lado, ele demonstra que Deus também quer se apresentar a nós, de modo que ele faz uma demonstração desse encontro entre quem procura a Deus e o desejo de Deus em encontrar-se com essa pessoa: “Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno e como as chuvas de primavera que regam a terra” - versão NVI

Deus é tão incompreensível à mente humana que, quando Moisés perguntou qual o nome pelo qual ele deveria apresentá-lo a Faraó, não havia um sequer que fosse capaz de identificá-lo, de modo que o Senhor disse-lhe: “Diga que eu Sou o que Sou” - Ex 3.14.

Apesar de não sermos capazes de compreender Deus, ele quer se manifestar a fim de seu povo o conheça. Leia - Dt 4. 29; 2 Cr 15. 2; 7.14

Deus é compreensível até onde ele se revelou: Jr 9. 23, 24

Em Jó 11.7, Zofar pergunta a Jó se ele é capaz de compreender os mistérios de Deus, e ele mesmo nega essa possibilidade ao apontar que os pensamentos divinos são complexos. Por outro lado, Deus diz em Jeremias (texto acima), que se alguém se gloriar, glorie-se em compreendê-lo e conhecê-lo. Claro que essa compreensão não é total, mas superficial, visto que em Is 40. 18, 25, o próprio Deus diz que não há nada que possa ser comparado a ele, ou seja, não há como compreendermos algo ou alguém que não temos uma dimensão a qual possamos comparar. O “compreender” aqui, diz respeito ao que foi revelado sobre ele, inclusive, o fato de não podermos mensurar seus pensamentos. Tal ideia faz sentido, visto que em Dt 29.29, o texto bíblico afirma que as coisas encobertas pertencem a Deus e as reveladas, a nós e a nossos filhos.

A mente de Deus é elevada demais para nós o compreendermos - Is 55. 8,9 demonstra quão distante são os pensamentos e os caminhos de Deus dos nossos. O apóstolo Paulo, ao falar sobre a mente de Deus, pergunta “Quem, pois conheceu a mente do Senhor?”, e, em seguida, ele tenta descrevê-la como “profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência”. Quanto aos juízos divinos, Paulo diz que são insondáveis (inexplicáveis), e em relação aos caminhos de Deus, o apóstolo aos gentios chama-os de inescrutáveis (incompreensíveis) - Rm 11. 33, 34

Há níveis de conhecimento de Deus: Embora ninguém possa compreender Deus em sua plenitude, nem o conhecer além do que ele se revelou, há gente que o conhece mais do que outros.

Conta-se a história de uma criança que queria muito conhecer o mar, e de tanto insistir sua mãe a levou para ver o oceano. A garotinha chegou na recepção do hotel encantada, dizendo que conhecia o mar. Um velho marinheiro vendo a empolgação da criança, aproximou-se dela e disse: “Eu também conheço o mar!”. Apesar de ambos conhecerem o vasto oceano, é óbvio que o conhecimento da menina era muito superficial em relação ao do velho marinheiro, pois ele teve experiências no oceano, enquanto a garotinha apenas observou de longe.

Assim também é a diferença entre quem tem experiências com Deus e quem apenas ouviu falar dele ou observou as experiências alheias. Dentro daquilo que Deus se revela nós podemos conhecê-lo, e, embora nossa compreensão dele seja baseada em exemplos humanos, para ele é importante que o compreendamos, mesmo que tão superficialmente, pois isso nos dará uma dimensão melhor para conhecê-lo. Compreendê-lo como um pai amoroso, uma mãe abnegada, um amigo fiel, um advogado justo, enfim, são dimensões humanas, logo não dá conta de compreender Deus como de fato ele é, mas isso nos ajudar a ter um parâmetro para conhecê-lo de modo que nossa mente alcance.

João tentou descrever Deus no Apocalipse, e nos parece bem estranhas as suas características. Assim também, um Deus que é fogo consumidor não é tão fácil de relacionarmos com o Deus Amor, ambos apresentados pela Bíblia. Ou seja, nós não conseguimos compreender Deus, apenas temos uma ideia com base naquilo que ele apresentou sobre si mesmo na história e nas páginas da Bíblia.

Jó estava frustrado por não compreender a mente de Deus:

O maior problema de Jó, não era o que ele estava passando, mas por que  ele não entendia o motivo de seus sofrimentos. Por mais que ele procurasse uma causa justa, ele não achava, então se frustrava.

Até que, ele desejou ter uma audiência com Deus para argumentar com ele, pois tinha certeza de que Deus não teria justificativas para deixá-lo sofrer sem motivo - Jó 23. 3, 4

Deus concedeu a audiência que Jó desejava (Jó 38.1-3) e começou lhe perguntando: “Quem é esse que obscurece o conselho com palavras sem entendimento?” Em outras palavras, Deus perguntou a Jó: “Quem é você que fala do que não entende?”

Depois de ouvir Deus lhe perguntar coisas que ele não fazia ideia de como respondê-las, Jó assumiu que não entendia nada da mente de Deus, e agora assumiu a posição correta, ele diz: “Eu te perguntarei e tu me ensinarás”. Em seguida, revela que agora ele  conhecia Deus de verdade, e antes só o conhecia de ouvir falar, e termina suas palavras dizendo que se menospreza e se arrepende por sua ousadia de tentar argumentar com a sabedoria divina  - Jó 42. 1-6

Jó entendeu que conhecer Deus pressupunha entender que não somos capazes de compreender sua mente, mas, ainda assim, podemos confiar nele inteiramente.

Aprendamos com Jó para não vivermos frustrados: ao invés de perdermos tempo tentando entender a mente de Deus, encurvemo-nos diante de sua sabedoria e confiemos nele de olhos fechados. 

 

No amor de Cristo,

Leila  Castanha 

05/05/2024

 

BIBLIOGRAFIA

LIMA, Leandro. As grandes doutrinas da graça - a Bíblia e o ser de Deus. São Paulo: Agathos, 2013