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Lucas era um médico
gentio, ou seja, não era judeu, também era cooperador do apóstolo Paulo a quem
acompanhou em suas viagens missionárias. Foi autor do livro que recebeu o seu
nome, e também Atos dos Apóstolos (carta onde ele narra exatamente os atos, isto
é, as ações dos apóstolos após a ascensão (subida)
de Cristo ao céu). Leia At. 16.10; Cl. 4.14; 2 Tm 4.11; Fm 24.
Lucas escreveu a um amigo
chamado Teófilo. Sua primeira carta tinha por objetivo narrar o que Jesus fez
enquanto andou na Terra, e a de Atos contava o que os discípulos de Cristo
fizeram após Ele retornar ao Céu. Leia Lc 1.1-4 e At. 1.1,2 para melhor entender
o propósito de suas cartas.
No capítulo 1 e versículo
3, Lucas trata a seu amigo por “excelentíssimo Teófilo”, e, segundo alguns
estudiosos da Bíblia, “excelentíssimo” era um tratamento usado para oficiais.
Lucas julgou necessário
escrever ambas as cartas não porque os gentios não haviam ouvido falar de
Jesus, mas ele queria contar com pormenores, “por sua ordem”, as ações de
Cristo (1.1), a fim de certificar a Teófilo a veracidade das histórias de que
ele já ouvira falar sobre o Filho de Deus que se fez homem (v. 3,4).
No entanto, ele achou
importante descrever sucessivamente os acontecimentos, começando pelo
nascimento de Cristo (como ele veio à Terra), até sua ascensão (como saiu da
Terra).
É importante sabermos que
Lucas não pertencia ao grupo dos discípulos que andaram com Jesus. Sua carta
foi o resultado de pesquisas e entrevistas feitas aos que presenciaram a
trajetória terrena do Filho de Deus (Leia Lc 1.2).
Mateus e Marcos já haviam
escrito cartas narrando a vida de Jesus na Terra. O primeiro escreveu aos
judeus, e o outro aos romanos. Agora Lucas escrevia a um gentio, seu amigo,
apresentando Jesus, não apenas como Deus, mas como homem.
Para os judeus era fácil
ver o Cristo como Filho de Deus, afinal eles já estavam habituados com a
existência de Javeh (Deus), e sabiam de sua promessa de enviar seu Filho.
No entanto, os gentios não eram conhecedores desse Deus, e tudo o que sabiam
sobre Ele baseava-se no que tinham ouvido falar. Era, portanto, mais fácil
Lucas apresentar-lhes Jesus como o homem-Deus que se despojou de sua glória e
viveu como um humano para nos mostrar a vontade de Deus. O nome Cristo vem do
grego, e Messias origina-se do hebraico, mas ambos os nomes significam Ungido.
É importante salientar que
somente Lucas (dentre os escritores dos evangelhos sinóticos) apresenta a
história do nascimento de João Batista (primo de Jesus), a visita de sua mãe à
prima Isabel (mãe de João Batista), e os detalhes do nascimento de Jesus,
contando, inclusive, sobre o alistamento de seus pais em Belém. Era importante
apresentar-se o parentesco de Jesus para confirmação de sua natureza humana.
Mateus, ao escrever para
os judeus, tentou apresentar Jesus como o Rei que havia de vir. Os judeus já
esperavam o Ungido de Deus que os livraria da opressão romana. Eles não creram
que Jesus fosse esse rei porque ao invés de se rebelar contra o império romano
ele ensinava coisas que pareciam denunciar seu apoio ao governo tirânico
dos gentios, como por exemplo: “Dai à César o que é de César e a Deus o que é
de Deus” (Mc 12.17).
Para provar que Jesus era
o rei prometido por Deus Mateus escreveu sua carta começando pela genealogia de
Jesus, a fim de mostrar a seus conterrâneos que a descendência dele estava de
conformidade com as profecias.
Leia neste blog o estudo
sobre “A importância da genealogia de Jesus” para entender melhor por que
Mateus iniciou sua carta pela genealogia de Cristo.
Por conta de salientar que
Jesus é o rei prometido por Jeová, o evangelista Mateus utilizou muito em sua
carta expressões como “Reino dos céus” e “Reino de Deus”, conforme se pode
observar em Mateus 3.2; 5.3; 6.10; 8.12; 18.23; 19.12; 19.23; 20.21; 23.13; 24.14
etc. A palavra Reino, neste livro, é proferida mais de 50 vezes.
Marcos, que escreveu aos
romanos, teve por intenção apresentar Jesus como o Servo Perfeito, por isso faz
todo o sentido ele ter começado sua carta narrando sobre a submissão do Filho
de Deus em deixar-se batizar por um discípulo (João Batista).
Também para enfatizar sua
ação no ministério terreno, Marcos utilizou muito expressões como “logo”, a fim
de mostrar Jesus como um ser em constante ação, cuja missão era a de servir (Mc
10.45). Para ter ideia de quantas vezes Marcos usa a expressão “logo” em seu
livro leia Marcos 1.10; 1.43; 2.2; 2.8; 2.12; 4.16 etc. Pesquise numa
enciclopédia bíblica a palavra “logo” e você verá quantas vezes ela é utilizada
por esse escritor.
Por sua vez, Lucas
pretendia mostrar Jesus como homem, por isso constantemente referia-se a Cristo
como “O Filho do Homem”. Ao usar essa expressão Lucas confirmava a natureza
humana de Jesus, pois sendo Filho do homem também era homem, assim como indica
a frase “filho de peixe, peixinho é”. Observe algumas passagens onde essa
expressão é utilizada na carta de Lucas a Teófilo: Lc 5.24; 7.34; 6.5; 9.22;
9.26; 11.30; 12.8; 12.40; etc.
O tema base do livro de
Lucas, isto é, a frase na qual seu livro se baseia está no capítulo 19.10:
“Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido”.
Toda a narrativa de Lucas
se propõe a declarar esta verdade: O motivo de Jesus encarnar-se e viver entre
os homens era para salvá-los da condenação do pecado, reconciliando-os com
Deus, por meio de seu sacrifício.
Lucas narra em sua carta a
apresentação de Cristo no templo e conta as palavras de Simeão, que orando a
Deus, agradeceu-lhe pelo privilégio de ter sido escolhido para fazer a
apresentação do Salvador, dizendo: “...Os meus olhos já viram a tua salvação, a
qual tu preparaste perante a face de todos os povos, luz para alumiar as nações e glória de teu povo Israel. (Lc 2.
28-32)
Também escreveu que, ao
falar sobre Jesus, João Batista (que era seu primo), revelou aos que estavam
presentes que através do Cristo “toda a carne verá a salvação de Deus” (Lc 3.6).
Em sua carta a Teófilo,
Lucas também lhe chamou a atenção em como Jesus dava preferência aos
rejeitados. Ele narra histórias como as do bom samaritano e a de Zaqueu. Na primeira história há um
homem de Jerusalém que a caminho de Jericó foi apanhado por ladrões
(salteadores), os quais o roubaram e espancaram-no, deixando-o quase morto.
Passou por ele um sacerdote e fingiu não vê-lo. Depois passou um levita, e
vendo-o passou de largo. Por fim, um samaritano que passava por ali, vendo-o
foi até o ferido e o socorreu levando-o para um lugar onde pudessem tratar
dele.
Observe que a
importância dessa história está no fato de que o sacerdote era símbolo do
religioso, o levita, dos conhecedores da lei de Deus, e o samaritano pertencia a um grupo de israelitas odiados
pelos judeus. Mas foi este quem socorreu o pobre homem, mesmo sendo o moribundo
pertencente aos seus inimigos.
Na narrativa sobre Zaqueu,
que era um judeu publicano (cobrador de impostos para o império romano), e por
conta de seu ofício era odiado pelos seus compatriotas, mesmo contra a vontade
da população que chamava Jesus de pecador por comer com aquele a quem
consideravam pecador, Cristo respondeu-lhes: “Hoje veio salvação a esta casa,
pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho
do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.” (Lc
19.9,10).
Que bonito quando lemos o
livro de Lucas, imaginando Teófilo lendo estas histórias. Que reconfortante
para um gentio (que eram desprezados pelos judeus ortodoxos), ver Jesus
defendendo os rejeitados, e acolhendo gente de toda nacionalidade, assim como
aqueles considerados como o pior pecador.
Lucas mostrou que Jesus, o
Filho do Homem, era um personagem sensível. Ele contou a história sobre o dia
em que Jesus chorou ao ver a situação de seus conterrâneos, cujos corações
estavam fechados para a salvação que veio ofertar-lhes. E o evangelista Lucas
narra que, ao ver a cidade de Jerusalém Jesus chorou sobre ela (Lc 19.41).
Que prova mais contundente
da humanidade de Cristo Lucas poderia dar a seu amigo? Um homem que ao sentir a
rejeição era capaz de chorar, não apenas por ter sido rejeitado, mas ao pensar
no alto preço que seus conterrâneos haveriam de pagar por não aceitarem que ele
pagasse o preço de seu resgate!
Tente ler o livro de
Lucas, imaginando Teófilo lendo esta carta, mas não se esqueça de que este
homem era um gentio, não era familiarizado com o Deus de Israel, e seu amigo
Lucas estava contando a vida de Jesus, como o Deus que se fez homem e como ser
humano passou 33 anos na Terra, ajudando as pessoas a libertarem-se de seus
males e a se reencontrar com o Pai. O evangelista Lucas mostra a Teófilo, por
meio de sua carta que, embora sendo homem, Jesus se deu como exemplo para ser
imitado por todos quantos queiram ser seus discípulos.
Se você nunca leu esse
livro que faz parte dos sinóticos (os evangelhos compostos pelos livros de
Mateus, Marcos e Lucas), eu te aconselho a começar a lê-lo, pois para mim, o
livro de Lucas é um dos mais detalhados nas narrativas, e gosto da maneira como esse evangelista (escritor dos Evangelhos), conta a história de Jesus na Terra.
Boa Leitura!
Fique na paz do Senhor Jesus!
Leila Castanha
02/2015