Conheci
um determinado irmão em Cristo, que no auge de seu zelo pela Palavra de Deus,
incentivava os novos convertidos a destruir tudo o que se tratasse de imagens,
dizendo ser idolatria.
Em
sua lista constavam fotografias, quadros de qualquer espécie, dentre outras
coisas. Não sei se era o caso desse irmão, mas alguns até proibiam suas
crianças de brincarem com bonecas por acreditarem ser imagens de pessoas, logo,
idolatria. Para entendermos se tais pensamentos encontram apoio nas Sagradas
Escrituras, devemos primeiramente entender o conceito de imagens.
No
tocante ao território da visualidade, há pelo menos, três domínios principais
de imagens, dentre os quais temos as das imagens como:
1- Representações mentais,
imaginadas, onoríficas (de sonhos), que são imagens que a mente pode criar, sem
necessariamente pertencer ao mundo físico;
2- Imagens diretamente perceptíveis, que são aquelas que
assimilamos do próprio mundo físico em que vivemos;
3- Imagens visuais, que
correspondem a desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e todas as imagens
cinematográficas, televisivas, holográficas, e computacionais.
4- “(...). Também “podem ser considerados como imagens os
diagramas, os mapas e, no terreno das imagens tridimensionais, também a
arquitetura. Há pelo menos, três modalidades principais de imagens: Primeiro,
as imagens em si mesmas. Segundo, as imagens figurativas, que se assemelham a
algo existente no mundo, ou supostamente existente, como são as figuras
imaginárias, mitológicas, religiosas etc. Há ainda as imagens simbólicas. Neste
caso, embora as imagens apresentem figuras reconhecíveis, essas figuras têm por
função representar significados que vão além daquilo que os olhos veem”. (Leituras de Imagens: 2012, 17- 19).
Acho
que já é suficiente para termos uma ideia do que vem a ser o conceito de
imagem: Algo amplo, que vai desde pinturas até mapas e os complexos desenhos
arquitetônicos. Creio que qualquer pessoa em seu perfeito juízo não julgaria
ser pecado um arquiteto fazer um desenho de um prédio ou alguém comprar um
mapa.
Nosso dia-a-dia é repleto de comunicação
imagética (por imagens), como é o caso dos sinais de sinalização, na qual vemos
desenhos de crianças atravessando a rua, de lombadas etc.
Também
nos hospitais, lemos a imagem de uma enfermeira com o dedo indicador na boca,
sinalizando “silêncio”; nos corredores de lugares públicos, como faculdades e
restaurantes, há placas com desenho de cigarro com um traço lateral sobre
ele, indicando a proibição de fumar naquele local, e assim por diante.
Tudo
isso é imagem, e não somente fotografias e quadros. Tudo o que vemos, na
própria natureza (as árvores, as flores, os animais, enfim), se nos apresentam
por meio de imagens, e a pintura ou a fotografia é a representação da imagem
real que nos cerca.
Uma
vez entendido isto, vamos partir para a compreensão de que tipo de imagens a
Bíblia afirma ser pecado.
Era
costume entre os estrangeiros que habitavam no meio do povo hebreu (o povo de
Israel) adorar a vários deuses. Eles faziam imagens de homens, de animais e de
outras coisas relacionas a natureza com a intenção de adorá-los: A um,
denominavam deus da fertilidade (como era o caso da deusa Diana, de Corinto), a
outro, deus da riqueza (como, por exemplo, o deus Belial), e assim por diante.
Para
Israel, no entanto, Deus havia ordenado que não se corrompesse com os costumes
dos estrangeiros, mas adorasse somente a Ele (O Deus Invisível) Leia
Colossenses 1.15; 1 Timóteo 1.17).
Para
evitar que imitassem as outras nações que tinham deuses, em Êxodo 20.4,5; Lv.
19.4; 26.1 e Dt 27.15, Deus proibiu os hebreus de fazerem imagens de escultura,
que imitassem qualquer coisa do céu, da terra ou das águas, para que não fossem
tentados a adorá-las. Mesmo que fosse imagem Dele não deveriam fazer porque,
segundo explicou em Dt
4.15-18, ninguém nunca o viu para compará-lo a qualquer ser.
E
o apóstolo Paulo disse que, ao invés de contentarem-se em adorar ao
verdadeiro Deus (que se apresentava de forma invisível), o povo mudou a imagem
do Deus incorruptível em imagem de homens corruptíveis, bem como de aves,
quadrúpedes e répteis (Rm 1.23). Em
Ezequiel 8.10, o profeta diz ter visto imagens de ídolos em forma de
répteis e animais abomináveis.
O
povo tendia tanto à idolatria que certa vez Deus mandou fazer a
imagem de uma serpente de bronze para que o povo, ao olhar para ela, fosse
curado do veneno das outras serpentes que Deus, em sua ira (porque o povo
estava adorando ídolos), mandou ao deserto para feri-lo.
Essa
imagem de serpente simbolizava Cristo, que ao ser pendurado na cruz, todos
quantos olhassem para ele seriam salvos ira divina (Jo 3.14-15 e 2
Co 5.21). Lembre-se que o Antigo Testamento servia como figura apontando
para o Novo.
No
entanto, mais tarde, o povo já estava adorando a tal serpente, pelo que Deus
mandou destruí-la. Quem
curava era Deus, olhar para a serpente era apenas um modo de o povo obedecer a
Deus, a fim de ser curado. Não
era intenção de Deus que o povo a adorasse, mas que a cobra fosse um meio de o
povo lembrar-se de sua misericórdia.
Adorar
imagens, como sendo deuses, era costume dos povos pagãos. Eles curvavam-se
diante delas e ofereciam-lhes sacrifícios, às vezes até humanos. O erro do povo
hebreu (de Israel) era querer imitar os costumes desses povos estrangeiros,
porque eles não gostavam de ser diferentes das outras nações.
Envergonhavam-se
de ter em seu comando um Deus invisível, enquanto que os outros povos tinham
imagens dos seus deuses, por isso, além de, aos poucos, abrirem seus corações
para adorar imagens, também pediram a Deus que lhes desse um rei humano, como
as outras nações o tinham. (1Sm 8.19-22)
Alguns
adoravam deuses em forma humana, porém havia lugares em que seus deuses tinham
aparência de animais, como observamos no texto de Ezequiel 8.10. Samaria era uma das cidades que
foi ocupada por povos estrangeiros e corrompida
pela idolatria deles, de tal forma que os judeus ortodoxos (conservadores) não
gostavam dos samaritanos (Jo 4.9). Todavia, dentre os rebeldes, havia gente que
não se misturava com os costumes pagãos, como o profeta Miquéias, que declarou:
“Pois todas as nações
andam, cada uma em nome dos seus deuses, mas nós andaremos em nome do Senhor, nosso
Deus, para todo o sempre”. (Mq 4.5).
Josué
também disse:
“Porém, se vos parece mal
servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram
os vossos pais, que estavam dalém do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em
cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor." Então
responderam o povo: Longe de nós o abandonarmos o Senhor para servirmos a
outros deuses”. (Js 24.15,16)
Após
a escolha do povo pelo Deus de Israel, Josué fez com que eles jogassem todas as imagens que representavam os deuses dos
estrangeiros e inclinassem o coração ao verdadeiro Deus (v. 23).
Observe: Josué não exigiu que o
povo destruísse as imagens dos deuses estranhos e as substituísse pela a do
Deus de Israel, porque ele sabia que Deus proibira que se
fizesse qualquer imagem para adorarem, inclusive a Dele (Lv 19.4; Dt 4.16;
Is 48.5). O salmista também sabia que as imagens de idolatria irritavam a Deus
(Leia o Salmo 78.57-59).
As
imagens de escultura, as quais os povos se prostravam, não tinham poder algum,
conforme observamos nos versículos acima e no Salmo 135.15-17, no qual o
salmista diz que os ídolos “têm boca, mas não falam, olhos e não veem, nariz e
não cheiram, mãos e não apalpam, pés e não andam e som nenhum sai de suas
gargantas, porque são obras das mãos dos homens”.
O
rei Ezequias também compreendia isso, de modo que, ao receber ameaças do rei da
Assíria, que dizia que assim como venceu e destruiu os deuses das outras nações
também destruiria o Deus de Israel, orou ao Senhor dizendo-lhe que sabia serem
verdade as façanhas do rei, e que, de fato, Senaqueribe havia destruído os
deuses das nações conquistadas, todavia, ele também confessou
ao Senhor que compreendia que o rei da Assíria só os queimou porque não
eram deuses de verdade, mas apenas madeira
e pedra moldadas pelas mãos dos homens (2
Rs19.17,18). Habacuque, por sua vez, disse o seguinte sobre as imagens de
adoração:
“De que vale uma imagem feita por um escultor? Ou um ídolo de
metal que ensina mentiras? Pois aquele que o faz confia em sua própria criação,
fazendo ídolos incapazes de falar. Ai daquele que diz à madeira: “Desperte!” Ou
à pedra: “Acorde!”Poderá o ídolo dar orientação? Está coberto de ouro e prata,
mas não respira” (Habacuque 2.18,19) .
Isaias
também falou que “nada sabem os que carregam o lenho das suas imagens de
escultura, e fazem súplicas a um deus que não pode salvar”. (45.20)
Elias,
sabendo que os ídolos não são nada, desafiou o rei Acabe a enviar-lhe os 450
profetas de Baal a fim de provar-lhe que não passavam de piada. Durante o tempo
em que os profetas de Baal sacrificavam-lhe pedindo-lhe que lhes enviasse fogo
do céu, Elias zombava deles, dizendo:
“Clamai em altas vozes porque ele é deus; pode ser que esteja
meditando, ou atendendo as necessidades, ou de viagem, ou a dormir, e
despertará”. (2 Reis 18. 27).
Como
já vimos, em Deuteronômio 4.15,16, a Bíblia esclarece-nos que Deus proibiu todo
tipo de imagens que tivesse por propósito a adoração
ou outro fim espiritual. Portanto, compreendemos que as imagens proibidas por Deus são aquelas que têm por finalidade a
idolatria.
E o que é idolatria?
Idolatria
é tudo aquilo que em nosso coração substitui a Deus. O dinheiro, uma carreira,
um amuleto, um carro, um homem, uma mulher e outras infinidades de coisas nas
quais depositamos nossa confiança e nossa esperança constituem-se em idolatria.
Assim sendo, qualquer coisa que, em nosso coração, está colocado acima de Deus,
é idolatria.
Se
a fotografia dependurada em sua parede é apenas a imagem de alguém que você
preza muito, não há problema em pendurá-la ou exibi-la sobre os móveis. No
entanto, se a foto ali impressa representa para você a razão da sua vida, aí é
pecado. Não é a fotografia em si, mas a importância que aquela pessoa exerce entre você e Deus. Nesse caso, aquela
imagem na foto transforma-se em imagem de idolatria.
Um exemplo muito comum disso são as dos ídolos
que as fãs espalham pela casa ou colam em todos os seus pertences. A verdade é que há várias
imagens associadas à idolatria, assim como vários sentimentos que podem ser
indícios de um coração idólatra, que é mais difícil de detectar do que,
meramente, as imagens de esculturas.
Tanto
é que a Bíblia diz que a avareza (que é o amor ao dinheiro) é idolatria
(Cl 3.5). Por que é idolatria? Simples: Porque a pessoa avarenta coloca o
dinheiro como a coisa principal e indispensável à sua vida, de modo que não
conseguem viver sem ele.
Deus
exige lugar de supremacia, isto é, de destaque em nossa vida, e por isso não
admite que nada ou ninguém ocupe sua posição. Ele decretou que o primeiro
mandamento é Amar a Deus acima de todas as coisas (Veja Mt 22.36-38).
Quando
uma imagem, representa para nós, algo mais importante do que Deus, essa imagem
é considerada pecado, porque qualquer tipo de idolatria é pecado (Leia 1Co
6.9,10; 10.7; Ef 5.5; Ap 21.8). Não é a imagem em si que é pecado, porque o
ídolo (de escultura ou de qualquer outra coisa) não passa de coisas sem poder
algum, mas, o significado que você atribui a ela, que expulsa Deus de seu lugar
de primazia em sua vida.
Por
exemplo: Uma bandeira com o brasão de um determinado time é apenas um símbolo.
Porém, para os fanáticos que colocam o futebol acima de tudo, é muito mais do
que isso: Aquela bandeira é a sua glória e a razão de sua vida, de sorte que
muitos se matam por não suportar a perda de seu time.
A questão é que Deus não vê como o homem, que
só enxerga a aparência, Ele vê o coração (1Sm 16. 7) e, àqueles cujo coração
está em seus ídolos (seja
ele qual for), provoca a ira de Deus, porque
Ele próprio disse que não
dá a sua glória a
ninguém (Is 42.8, 11).
A
irritabilidade de Deus em relação à idolatria não é porque Ele pensa que tais
deuses sejam reais e, de fato, tenham poder. A
ira de Deus contra os que adoram a outra coisa ou pessoa, no lugar dele, é
porque Ele não admite ser trocado.
Em
Deuteronômio 32.21, Deus mostra que os ídolos não são deuses reais, logo, não é
a disputa entre eles que provoca o seu ciúme, mas o fato de seu povo não
reconhecer sua grandeza e trocá-lo por coisas inferiores, sem poder algum (Leia
Isaías 45. 20-22 e Jeremias 2. 11-13). No texto de Jeremias, observamos o
quanto Deus ficou horrorizado de ver a cabeça dura dos hebreus. Ele não se
conformava em como o seu povo foi tolo em trocar o Verdadeiro Deus por deuses
que não são nada, além de invenção dos homens!
Assim
também, observamos hoje, pessoas que trocam o verdadeiro culto a Deus pela
busca de riquezas e bens materiais. Outros que substituem o verdadeiro culto a
Deus pelo prazer momentâneo causados por meros shows, onde se apresentaram seus
ídolos, que os leva ao êxtase, movidos pelo barulho e a euforia, contradizendo
o ensinamento paulino (do apóstolo Paulo) que diz que nosso culto deve ser
racional (com a razão), não apenas movidos pela emoção (Rm 12.1).
Existem também, crentes idólatras, cuja
idolatria os leva a prezar uns pregadores mais do que outros, a ponto de só
irem à igreja se estes forem pregar. Como vimos, a idolatria tem uma lista
gigantesca: É tudo que toma o lugar soberano de Deus em nossa vida.
Existe
grande perigo na prática da idolatria (seja ela representada por imagens ou
mais introspectiva, através dos sentimentos). Embora Deus houvesse dito que as
imagens de ídolos não eram deuses reais, ele afirmou que, por trás da adoração
a elas estão os demônios (Leia Dt 32. 16,17,21).
O apóstolo Paulo também ensinou aos cristãos
que ao comermos carne na casa de alguém não precisamos perguntar se foram
oferecidas a ídolos (porque eles não são nada) (Leia 1 Co 8.4), todavia, ele
adverte para não nos juntarmos, conscientemente, à mesa oferecida aos ídolos,
porque sabemos que por trás deles, estão os demônios, e isso provoca o zelo (o
ciúme) de Deus (1Co 10.20,21,22). O salmista também diz que trocar Deus pelos
ídolos Lhe provoca ciúmes. (Sl 78.58)
Deus
tem tanto ciúme do seu povo quando este o troca por algo ou alguém, que o
apóstolo João termina sua carta com os seguintes dizeres: “Filhinhos,
guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21). Muitos profetas, também, se referiram às
imagens diante das quais os homens se prostram para orar ou dar algum louvor
como “As imagens do ciúme do Senhor” (Veja Ez 8.3,5).
Assim,
é clara a determinação divina de não se fazer qualquer imagem com finalidade de
dirigir-lhe qualquer tipo de adoração. É por isso que os cristãos não
concordam com a imagem de santos, nem mesmo de Maria.
Resumindo:
É pecado ter imagens em casa quando esta é objeto de adoração para nós. Leia o
texto intitulado "Porque não tenho imagens de Maria e de santos" para
aumentar sua compreensão sobre o que a Bíblia diz em relação a imagens.
Espero
tê-lo ajudado!
Com
amor fraternal,
Em Cristo Jesus,
Leila Castanha
2014
BIBLIOGRAFIA CITADA:
SANTAELLA, Lucia. Como Eu Ensino
Leitura de Imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012.